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Mercados já acham que Brasil é ingovernável
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
"Os mercados chegaram à conclusão de que o Brasil é essencialmente ingovernável."
Essa frase, de Richard Gray, chefe de pesquisas sobre mercados
emergentes do Bank of America,
para a agência de notícias Bloomberg, dá bem a medida de como a
visão externa sobre o Brasil se deteriorou fortemente desde, pelo
menos, o início do ano e, por extensão, do segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso.
O noticiário "on line" dos grandes jornais internacionais, os telegramas das agências de notícias e o
noticiário das grandes redes planetárias de TV -todos eles mostram
uma coleção de avaliações francamente negativas.
A agência Reuters, por exemplo,
informa que "preocupações com o
Brasil, um grande parceiro comercial norte-americano, e sua problemática economia continuarão assombrando o mercado". A avaliação faz parte das explicações para a
queda na Bolsa de Nova York.
A Bloomberg cita dois fatos negativos: as apostas no mercado futuro sobre a paridade real/dólar e
sobre a taxa brasileira de juros.
No caso dos juros, a agência lembra que a taxa para contratos relativos a março bateu em 34,74%, o
mais alto nível desde outubro,
quando chegara a 39%.
Maurício Zanella, corretor do
Lloyds Bank, disse à agência, a
propósito: "As taxas não se reduzirão enquanto os investidores não
estiverem seguros de que os Estados cumprirão suas obrigações
com o governo federal".
Pior parece o quadro traçado pela Bloomberg para a paridade real-dólar: "Ninguém quer fazer negócios com o real", comentou Alexandre Horstmnn, do Banco Marka do Rio de Janeiro.
Segundo a agência, apenas dois
contratos sobre a cotação do real
em fevereiro e março foram fechados ontem -e, em ambos os casos, a cotação do dólar subiu em
relação à véspera.
Comenta a Bloomberg: "Esse fato desatou especulações de que o
governo pode ajustar seu sistema
cambial, optando por uma banda
de flutuação mais ampla, permitindo a livre flutuação do real ou
casando a moeda ao dólar, talvez
na forma de uma currency board".
É uma alusão ao sistema adotado, por exemplo, pela Argentina.
Por ele, a paridade da moeda local
com a norte-americana é sempre
fixa e o governo só pode emitir
moeda se entrarem dólares.
A rede CNN destacou, por sua
vez, a queda da Bolsa de São Paulo,
que caiu 7,61%.
A CNN diz que o Banco Central,
no início do dia, vendeu dólares
para conter a fuga de divisas.
A rede cita Jorge Mariscal, vice-presidente latino-americano do
grupo Goldman Sachs, para quem
nem o FMI nem os governos que
participaram do pacote de socorro
ao Brasil podem fazer algo agora:
"É improvável que a comunidade
internacional ajude o Brasil se o
Brasil não se ajudar".
A BBC também destacou o país
no noticiário econômico: "Crise
no Brasil se aprofunda".
O texto começa dizendo que "a
crise da dívida brasileira está piorando, aumentando os receios de
que o país não possa cumprir as
condições do empréstimo de socorro do FMI".
A BBC ouviu Richard Fox, da
agência de avaliação de créditos
Fitch IBCA, para quem "o governo
se comprometeu com metas ambiciosas, mas o problema é que isso é
tudo o que temos".
Tanto o britânico "Financial Times" quanto o norte-americano
"The New York Times", em seus
noticiários "on line", destacam o
fato de que o secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin,
elogiou o programa econômico
brasileiro e garantiu que o presidente Fernando Henrique Cardoso está "absolutamente comprometido" com as reformas.
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