São Paulo, quarta, 13 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mercados já acham que Brasil é ingovernável

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

"Os mercados chegaram à conclusão de que o Brasil é essencialmente ingovernável."
Essa frase, de Richard Gray, chefe de pesquisas sobre mercados emergentes do Bank of America, para a agência de notícias Bloomberg, dá bem a medida de como a visão externa sobre o Brasil se deteriorou fortemente desde, pelo menos, o início do ano e, por extensão, do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
O noticiário "on line" dos grandes jornais internacionais, os telegramas das agências de notícias e o noticiário das grandes redes planetárias de TV -todos eles mostram uma coleção de avaliações francamente negativas.
A agência Reuters, por exemplo, informa que "preocupações com o Brasil, um grande parceiro comercial norte-americano, e sua problemática economia continuarão assombrando o mercado". A avaliação faz parte das explicações para a queda na Bolsa de Nova York.
A Bloomberg cita dois fatos negativos: as apostas no mercado futuro sobre a paridade real/dólar e sobre a taxa brasileira de juros.
No caso dos juros, a agência lembra que a taxa para contratos relativos a março bateu em 34,74%, o mais alto nível desde outubro, quando chegara a 39%.
Maurício Zanella, corretor do Lloyds Bank, disse à agência, a propósito: "As taxas não se reduzirão enquanto os investidores não estiverem seguros de que os Estados cumprirão suas obrigações com o governo federal".
Pior parece o quadro traçado pela Bloomberg para a paridade real-dólar: "Ninguém quer fazer negócios com o real", comentou Alexandre Horstmnn, do Banco Marka do Rio de Janeiro.
Segundo a agência, apenas dois contratos sobre a cotação do real em fevereiro e março foram fechados ontem -e, em ambos os casos, a cotação do dólar subiu em relação à véspera.
Comenta a Bloomberg: "Esse fato desatou especulações de que o governo pode ajustar seu sistema cambial, optando por uma banda de flutuação mais ampla, permitindo a livre flutuação do real ou casando a moeda ao dólar, talvez na forma de uma currency board".
É uma alusão ao sistema adotado, por exemplo, pela Argentina. Por ele, a paridade da moeda local com a norte-americana é sempre fixa e o governo só pode emitir moeda se entrarem dólares.
A rede CNN destacou, por sua vez, a queda da Bolsa de São Paulo, que caiu 7,61%.
A CNN diz que o Banco Central, no início do dia, vendeu dólares para conter a fuga de divisas.
A rede cita Jorge Mariscal, vice-presidente latino-americano do grupo Goldman Sachs, para quem nem o FMI nem os governos que participaram do pacote de socorro ao Brasil podem fazer algo agora: "É improvável que a comunidade internacional ajude o Brasil se o Brasil não se ajudar".
A BBC também destacou o país no noticiário econômico: "Crise no Brasil se aprofunda".
O texto começa dizendo que "a crise da dívida brasileira está piorando, aumentando os receios de que o país não possa cumprir as condições do empréstimo de socorro do FMI".
A BBC ouviu Richard Fox, da agência de avaliação de créditos Fitch IBCA, para quem "o governo se comprometeu com metas ambiciosas, mas o problema é que isso é tudo o que temos".
Tanto o britânico "Financial Times" quanto o norte-americano "The New York Times", em seus noticiários "on line", destacam o fato de que o secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin, elogiou o programa econômico brasileiro e garantiu que o presidente Fernando Henrique Cardoso está "absolutamente comprometido" com as reformas.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.