São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003 |
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VÔO ABATIDO Indústrias aumentam oferta, e consumo interno não acompanha; restrições externas também atrapalham vendas Sobra frango, e avicultura entra em crise
FÁTIMA FERNANDES DA REPORTAGEM LOCAL Está sobrando frango no Brasil. Essa é uma boa notícia para o consumidor, pois quanto maior a oferta menor o preço, em queda desde janeiro. Para os produtores, no entanto, a avicultura brasileira está em crise -deflagrada pelo aumento da produção, pela queda no consumo doméstico e pelas restrições do mercado externo. Desde 1999, a oferta de carne de frango cresce entre 10% e 14% por ano. Em 2002, esse volume bateu em 7,43 milhões de toneladas -13% mais do que em 2001. Nesse período, a demanda acompanhou a oferta -com exceção de um ou outro mês- e a exportação cresceu -em 2002, o país exportou 1,6 milhão de toneladas de frango, 28% mais do que em 2001. No início deste ano, porém, o cenário mudou. O consumo de frango no mercado interno caiu cerca de 10%, especialmente no Estado de São Paulo. Apesar disso, as indústrias mantiveram o ritmo de abate de aves. O mercado externo, que poderia absorver a sobra, ficou mais seletivo. A Rússia, um dos principais clientes do Brasil, fechou as portas à importação de frango. Além de estabelecer cotas aos países a partir de 1º de abril deste ano, quer que os exportadores atualizem seus cadastros antes de colocarem o produto no mercado russo. O Brasil, que exportou 300 mil toneladas de frango para a Rússia em 2002, ficou com uma cota de apenas 33,3 mil toneladas por ano. A União Européia também colocou obstáculos ao frango brasileiro. Os países europeus não querem que o Brasil utilize um certo tipo de antibiótico para combater a infecção respiratória das aves. Querem também que o país aumente o teor de sal no produto -frango mais salgado paga mais imposto para entrar na Europa. "São medidas protecionistas dos europeus", diz Paulo Prete, sócio-proprietário da Avícola Paulista. Consumo maior Produtores de frango ouvidos pela Folha acreditam que o consumo interno vai reagir a partir de março e que as barreiras protecionistas dos clientes do Brasil serão abrandadas com a interferência do governo brasileiro nas negociações. "O Brasil vende frango para mais de cem países. Vamos encontrar novos mercados, como China e Canadá, e retomar os negócios com o Mercosul", diz Cláudio Martins, presidente da Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango). A associação mantém a previsão de exportar neste ano 10% a mais do que no ano passado (1,6 milhão de toneladas). Mas, ainda assim, a UBA (União Brasileira de Avicultura) e a APA (Associação Paulista de Avicultura) recomendam cautela na produção de carne de frango. A APA sugere redução entre 5% e 10%. Essa seria uma forma de equilibrar a oferta e a demanda e, em consequência, melhorar os preços -o que, para o consumidor, significa pagar mais pelo frango. "A maioria dos abatedouros de frango -são cerca de 200 no país- está operando com prejuízo neste mês. Não dá para vender o frango mais barato do que está", diz Érico Antônio Pozzer, vice-presidente da APA. A pressão também vem do aumento de custos -cerca de 50% em 2002-, especialmente com as altas do milho e da soja. Neste mês, o preço médio do frango abatido (no atacado) está em torno de R$ 1,75 o quilo -isto é, praticamente o mesmo preço de julho de 2002. Em dólar, o preço também caiu. Hoje está em US$ 0,49 por quilo. Chegou a US$ 0,60 em novembro de 2002. Se o alojamento de aves continuar no volume em que está, o preço poderá cair ainda mais. Em janeiro, segundo a UBA, havia 330 milhões de pintos alojados no país, 23 milhões a mais do que em janeiro de 2002. Em dezembro de 2002, o alojamento também foi elevado: 333 milhões de aves. Texto Anterior: Contra-ataque: Agora, três Prêmios Nobel apóiam o projeto de redução de imposto de Bush Próximo Texto: Exportadores vão atrás de novos clientes Índice |
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