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LUÍS NASSIF
A retórica do caos
O brasil é vítima de dois
fenômenos políticos invencíveis. O primeiro, a síndrome de Allende. Como conseqüência, a submissão à retórica do terror econômico. É isso o
que explica o fato espantoso de
uma ata do Copom (Comitê de
Política Monetária) ter colocado o governo de joelhos.
A síndrome de Allende acometeu toda a esquerda democrática depois das loucuras populistas do presidente chileno.
Estavam lá, acompanhando o
desastre, os principais nomes
do governo Fernando Henrique
Cardoso e parte expressiva do
governo Lula.
As mentes mais racionais
abandonaram o populismo e
passaram a estudar com afinco
a lógica dos sistemas econômicos. As mentes mais políticas
passaram a privilegiar políticas
de aliança e a temer a sombra,
qualquer medida que pudesse
ir contra o estabelecido. Confundiu-se inércia com previsibilidade.
É nesse ambiente que economistas passaram a ocupar espaço político indevido, utilizando como arma a retórica do caos.
Nos anos 80, todos os planos econômicos foram movidos a
pânico. As maiores arbitrariedades jurídicas foram cometidas tendo como mote legitimador o slogan de "ou isso ou o caos". O ponto de inflexão foi o
episódio de liberação de cruzados retidos pelo Plano Collor,
no qual a Justiça liquidou de
vez com essa retórica e comprovou que, diferentemente do que
diziam os economistas, era a estabilidade jurídica que evitaria
o caos -não as extravagâncias
que os planos cometiam.
De lá para cá ocorreu uma
mudança de método, mas não
de retórica. Houve a consolidação do discurso da previsibilidade de regras, mas da forma
mais irracional possível. Durante quatro anos, FHC manteve uma política cambial que
qualquer cálculo isento sabia
conduzir ao desastre. Mas se
manteve imobilizado até a explosão, atacado de um lado pela síndrome de Allende e de outro por aquela maionese de slogans econômicos sem relação
de causalidade que economistas utilizam para espalhar o
pânico e se impor.
Agora, acontece a mesma coisa, só que praticada de uma
forma bisonha pelo Banco Central. Semanas atrás, quando começou a grande explosão de liquidez internacional, o BC se
recusava a aumentar as reservas cambiais. Caminhava-se
para um desastre, já que qualquer analista com um mínimo
de bom senso sabe que essa liquidez vai recuar assim que o
Fed aumentar as taxas de juros
norte-americanas.
Foi necessária uma pressão
extra para que o BC saísse do
imobilismo, e da forma canhestra já conhecida. Primeiro afirma que não irá intervir no mercado. Depois diz que irá recompor reservas sem interferir nas
cotações -como se fosse possível. Em seguida entra em um
processo furioso de compra de
dólares. Ficou claro que uma
voz superior havia imposto o
bom senso ao BC.
A reação da diretoria foi a
ata do Copom, um amontoado
de afirmações que não batia
com os dados reais, suposições
de volta da inflação que se sobrepunham aos fatos objetivos
de que a alta era sazonal -e,
duas semanas depois, o blefe ser
desmascarado pelos índices.
Durante uma semana, o BC
espalhou um pânico no mercado, uma loucura, mas com método: em momentos de caos no
mercado, não há ninguém
mais intocável que o presidente
do BC.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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