|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO EXTERIOR
Negociador americano diz que proposta brasileira não faz sentido e é contestado por embaixador
Brasil e EUA voltam a divergir sobre a Alca
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Uma semana após o surgimento
do impasse nas negociações da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) na cidade mexicana de
Puebla, Brasil e EUA voltaram a
mostrar divergências ontem sobre os rumos do acordo.
Ross Wilson, representante do
USTr (espécie de ministério do
comércio exterior dos EUA) e negociador do país para a Alca, afirmou durante seminário em Washington que "não faz sentido"
uma Alca nos moldes em que o
Brasil está propondo. "Não estamos preparados para isso", disse.
Para o embaixador brasileiro
em Washington, Rubens Barbosa, a atual posição norte-americana prega "flexibilidade para nós
[o Brasil] e ambição apenas para
eles [os EUA]".
Ross Wilson voltou a repetir
que os EUA não aceitam negociar
regras antidumping e subsídios
agrícolas no âmbito da Alca, como quer o Brasil, e previu que o
mercado brasileiro perderá investimentos, caso o país não aceite as
posições norte-americanas.
Entre as exigências dos EUA
consta que o Brasil assine acordos
rígidos determinando regras nas
áreas de investimento, serviços,
compras governamentais e propriedade intelectual.
"Os países que não aceitarem as
regras não terão investimentos e
geração de empregos. Continuarão presos à armadilha do baixo
crescimento", afirmou Wilson.
"Um acordo abrangente sem essas regras não faz sentido."
Rubens Barbosa voltou a qualificar como "fundamental" a discussão de subsídios e regras antidumping no âmbito da Alca e
lembrou que foram os próprios
EUA quem "mudaram as regras"
da negociação em 2003.
"Pensávamos que tudo estava
sobre a mesa, e não estava. Não
podemos esperar o final da negociação para ver o que vamos ganhar. Não é justo", disse.
Barbosa citou o exemplo de recente negociação entre os EUA e a
Austrália, na qual os australianos
aceitaram prazos de até 21 anos
para que alguns de seus produtos
agrícolas sejam beneficiados pela
abertura do mercado americano.
"O livre comércio não vai beneficiar um país como o Brasil e deixar a área agrícola de fora", disse.
Wilson sugeriu que o Brasil está
em uma posição de isolamento ao
dizer que outros 13 países negociadores concordam com as condições norte-americanas. "Isso
deveria mostrar que a negociação
pode avançar", disse.
"O Brasil e o Mercosul são vistos
como dissidentes", respondeu
Barbosa, "mas os 13 países que estão ao lado dos EUA já negociaram com os norte-americanos.
Eles já têm uma situação preferencial e estão querendo tornar
essas concessões permanentes.
Nós ainda não temos nada", disse.
A Alca prevê um bloco comercial entre 34 países americanos. Se
mantido o cronograma original, o
tratado deve ser assinado em 2005
e entrar em vigor em 2006.
Apesar dos fatos e das declarações, tanto Wilson quanto Barbosa afirmaram estar "razoavelmente otimistas" com o eventual
sucesso das negociações, que devem prosseguir daqui a duas semanas novamente em Puebla.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Frase Índice
|