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Banco líder impõe "spread" maior
Levantamento aponta que baixa competição e segmentação contribuem para alto custo no Brasil
Bancos que lideram em seus setores conseguem cobrar mais de clientes; baixa mobilidade e tendência de concentração elevam juros
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Bancos líderes nos segmentos em que atuam estão entre
os que conseguem impor a seus
clientes os maiores "spreads", a
diferença entre o custo de captação do dinheiro para os bancos e a taxa de juros cobrada
dos clientes para emprestá-lo,
segundo estudo com base nas
taxas de cada instituição divulgadas pelo Banco Central.
A pedido da Folha, a consultoria Integral Trust fez simulações para chegar aos "spreads"
médios de cada banco. O levantamento esbarrou em uma série de limitações, como a pouca
transparência dos dados disponíveis e a pouca representatividade de alguns bancos em determinados nichos, que dificultam a elaboração de rankings.
Como custo de captação, foram
estabelecidas as taxas correspondentes no mercado de juros, com um denominador comum para todos os bancos.
Para Roberto Luís Troster,
da Integral Trust, o "spread"
maior está ligado, entre outros
fatores estruturais, ao poder de
mercado que uma determinada
instituição tem em relação a
seu cliente, exatamente como
acontece em outras indústrias.
Quanto maior for a dificuldade de o cliente se desvencilhar
das taxas impostas, seja procurando outra instituição ou desistindo de um financiamento,
maior será o "spread". Por esse
motivo, diz Troster, o cheque
especial -que tem quase a
mesma captação do crédito
pessoal e uma inadimplência
não muito maior- tem sempre
as maiores taxas. "O cliente
não vai mudar de banco quando entra no cheque especial."
O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg,
afirma que os bancos líderes
em determinados produtos até
conseguem durante algum
tempo margens maiores, mas
isso ocorre por conta do risco
maior que estão dispostos a assumir nas suas áreas de especialização. "Não dura muito,
depois outros entram."
Na ponta oposta, os bancos
com os menores "spreads" estão exatamente nos segmentos
em que não lideram. No cheque especial, os menores estão
com Cruzeiro do Sul (0,63 ponto), Daycoval (0,81), Votorantim (1,01) e Fator (1,66). O foco
desses bancos são pequenas
empresas, corretagem e, no caso do Fator, gestão de ativos.
O estudo vai contra duas linhas de argumentação vigentes no mercado bancário e
mesmo no governo. A primeira
sugere que os grandes bancos,
por terem escala no crédito e
ganhos de sinergia (no caso dos
que fazem aquisições), poderiam trabalhar com margens
menores. E a segunda, que bancos públicos teriam uma função social de universalização
do serviço financeiro, quando
cobram "spreads" parecidos
com os dos privados.
No caso do cheque especial,
os maiores "spreads" mensais
encontrados foram do Banco
Schahin (9,13 pontos para juro
de 10,13% ao mês), seguidos
por HSBC (8,96 pontos), Santander (8,80 pontos), Banco de
Sergipe (8,12 pontos), Banestes
(8,11 pontos) e ABN Real (8,01
pontos). Os demais grandes
não estavam muito longe: Bradesco, com 7,72 pontos; Itaú,
com 7,46, e Banco do Brasil,
com 6,97 pontos.
"O cliente do cheque especial
nem olha a taxa, está casado
com o banco. Enquanto eu
[banco] tenho mercado, consigo taxas mais elevadas naquelas operações que são mais importantes para mim. Há uma
relação direta do "spread" com o
"market share" [participação do
mercado]", disse Domingos
Pandeló, do Ibmec-SP.
Alvo da maior queda-de-braço entre o governo e os bancos
desde a instituição do controle
nas tarifas, em abril de 2008, a
polêmica em torno do elevado
"spread" brasileiro motivou a
criação de um grupo de estudo
no governo que deve propor
medidas para estreitá-lo. O
presidente Lula disse não entender por que o "spread" é tão
elevado e cobrou empenho,
primeiramente, do BB e da Caixa para reduzi-lo. Como a Folha já revelou, o "spread" aqui
chega a ser 11 vezes maior do
que nos países desenvolvidos.
Desde a semana passada, o
BC facilita o acesso em seu site
(bcb.gov.br) ao ranking das
instituições que cobram os
maiores juros. O BC não descarta divulgar o próprio
"spread" de cada banco e diz
que a culpa do juro alto não é só
da alta taxa básica (Selic) estabelecida por ele.
A lista dos maiores "spreads"
varia de produto para produto,
dependendo de garantias e facilidades de recuperação do
empréstimo em atraso. As financeiras -algumas ligadas a
grandes bancos- têm os maiores "spreads" no financiamento da aquisição de bens. O mesmo acontece com as especializadas no segmento de veículos.
Para o economista Armando
Castelar, da UFRJ, a consolidação bancária joga a favor dos
"spreads" elevados no país. Ele
destaca, no entanto, o problema da falta de mobilidade dos
clientes, que impede uma competição de fato no crédito.
"O que me impressiona mais
nesses números que o BC divulgou é como pode existir tanta diferença. A taxa do cheque
especial varia muito, de 7% a
12%. Essa é uma prova de que
não há concorrência. Não haver concorrência não quer dizer que os bancos não compitam. Quer dizer que o mercado
não tem mobilidade suficiente
para um preço mais baixo
atrair o cliente", disse.
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