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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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AVIAÇÃO

Dívida da Varig dificulta concretização da união entre empresas, exigência do Planalto para discutir socorro financeiro

Fusão Varig-TAM só sai se o governo ajudar

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A fusão da Varig e da TAM só irá se concretizar se houver ajuda do governo federal. Em caso de não haver apoio oficial, a Folha apurou que dificilmente as duas companhias aéreas aceitarão formar uma nova empresa.
O grande problema para a fusão é o passivo da Varig. Especialistas do setor calculam que a dívida da empresa está na faixa de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões, pelo câmbio de ontem). Os números não foram divulgados.
A Varig não comenta o assunto. O balanço anual da empresa, a ser publicado em abril, deverá apresentar dívida bem mais baixa, na casa de R$ 2,5 bilhões.
Já a TAM garante que não tem nenhuma dívida vencida. Toda a sua dívida é constituída por leasing financeiro (arrendamento mercantil) para compra de aviões que vencem em prazos de 15 a 18 anos.
No balanço da TAM apresentado em setembro de 2002, os arrendamentos mercantis financeiros somavam US$ 510 milhões.

Proposta aos credores
Para fazer uma melhor análise dos números das duas companhias, as empresas de consultoria e auditoria KPMG e Bain estão fazendo um diagnóstico completo da situação. O relatório servirá de base para as duas empresas elaborarem uma proposta de viabilidade da fusão a ser apresentada aos credores públicos e privados.
De acordo com o que a Folha apurou, apesar de o trabalho das duas consultorias ainda estar em andamento, a proposta deverá contemplar três saídas básicas.
Em primeiro lugar, será necessário fazer uma capitalização da nova empresa, através de investimentos tanto do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como do mercado de capitais (lançamento de ações ou de debêntures conversíveis da nova empresa).
As outras duas saídas se referem às dívidas com os setores público e privado. Para viabilizar a nova empresa, aos credores públicos da Varig, como o INSS, a Infraero e o Banco do Brasil, deverá ser apresentada uma proposta de alongamento bastante extenso do prazo para o pagamento da dívida.
Já aos credores privados da Varig deverá ser apresentada uma proposta de transformação da dívida em ações da nova empresa ou em outros ativos.

Dívida é entrave
As propostas ainda estão em fase de amadurecimento, mas dificilmente a TAM aceitará unir-se à Varig sem essas precondições. A TAM considera o passivo da Varig um entrave para a negociação.
Já o governo garante que não dará qualquer tipo de apoio à Varig e à TAM sem antes as duas empresas chegarem a um acordo. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, chegou a afirmar, há pouco tempo, que, sem a fusão, será impossível fazer qualquer coisa para o setor.
O governo tem trabalhado para acelerar o processo de fusão das duas empresas. Não há interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quebra da Varig, pois isso teria efeito negativo para a imagem do Brasil. Mas se houver resistências à fusão, tanto da TAM como da Varig, o Palácio do Planalto jogaria a toalha e deixaria a empresa falir.
A TAM tem algum ganho no atual andamento das negociações. Possui boas relações com o Planalto e somente a Varig tem devolvido aviões.
A Varig também tem sofrido fortes pressões da BR Distribuidora para honrar diariamente o pagamento do querosene que consome e para pagar parte da dívida atrasada com a estatal.
Caso a Varig deixe de pagar a BR, é possível que a empresa aérea entre em ritmo de falência. A TAM poderia, então, assumir boa parte das rotas da Varig.


Colaborou László Varga, da Reportagem Local


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