São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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Cresce preocupação sobre mercado de imóveis nos EUA

Empresa especializada em financiamento alerta de que pode estar perto da falência

New Century informa que suspendeu a concessão de novos empréstimos por não ter recursos para cumprir com obrigações

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Ao alertar, ontem, de que pode estar perto da falência, a New Century Financial -empresa americana especializada em financiamentos habitacionais para pessoas com histórico de crédito ruim- reavivou as preocupações dos especialistas quanto ao setor imobiliário dos EUA e às conseqüências, para a economia do país, de uma crise no setor.
A New Century informou, em relatório apresentado à SEC (Securities and Exchange Comission, órgão que equivale à brasileira Comissão de Valores Mobiliários), que suspendeu a concessão de novos empréstimos por não ter recursos suficientes para cumprir com as suas obrigações e que não tem garantias de que poderá se recuperar.
Durante o dia, os temores dos investidores se fizeram sentir na Bolsa de Nova York, que chegou a operar em baixa devido à queda de ações de bancos, mas se recuperou no final do pregão, ao fechar com elevação de 0,34%. As Bolsas européias sofreram mais: a de Londres recuou 0,19%, e a de Paris, 0,75%. As ações da New Century caíram 48%, e sua negociação foi interrompida.
Uma crise no setor de habitação poderia afetar o consumo, que responde por mais de 70% da atividade econômica dos EUA, e causar recessão.
Empresas como a New Century Financial têm como público justamente as pessoas que, por atrasarem pagamentos, ficam com um histórico ruim e não conseguem obter financiamento habitacional. Essas companhias oferecem-lhes crédito cobrando taxa mais alta do que a do mercado em geral.
"Todas as empresas desse mercado vão ter problemas." Esse é o cenário um tanto sombrio que Susan Wachter, do Departamento de Imóveis da escola de negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia, traça. "Porque os mais recentes empréstimos foram feitos levando em consideração preços de casas que estão inflados."
Os recursos que a New Century empresta não são seus. Ela reúne os financiamentos que concede numa espécie de fundo e vende cotas (títulos mobiliários) desse fundo a outras instituições financeiras. Daí vem o dinheiro para o crédito.
"Parece-me que todos os envolvidos, tanto as empresas que emprestam quanto os seus investidores, cometeram um erro de análise: subestimaram as probabilidades de não-pagamento, que acabou sendo maior do que pensavam", comenta Andrey Pavlov, professor-assistente de finanças na Simon Frasier University. Se a taxa de inadimplência nesse nicho -que representa cerca de 20% de todo o crédito habitacional dos EUA- crescer para além da já alta taxa de 8%, haverá mais problemas. "Os investidores vão perder dinheiro, mas isso faz parte do jogo do risco. Esse tipo de coisa acontece o tempo todo no mercado financeiro, e não tem nada de errado. Em um dia se ganha, no outro se perde", pondera Pavlov.
Wall Street ainda tem na boca o gosto amargo do estouro da bolha das empresas de tecnologia, no início da década. Na época, os investidores saíram comprando ações dessas companhias com grande apetite, o que fez os preços dispararem. Mas, um dia, percebeu-se que boa parte delas não valia tanto, e então houve o movimento contrário, de acelerada venda de papéis, derrubando os preços.
Na opinião dos dois pesquisadores, ainda é cedo para afirmar que toda a economia americana vai ser afetada pelo problema no setor de imóveis, mesmo considerando que, superaquecido, este tenha impulsionado o crescimento do PIB do país nos últimos anos.
"Ainda há dinheiro disponível para o financiamento imobiliário. O que podemos esperar é que os consumidores que não são bons pagadores tenham mais dificuldade em obter crédito", comenta Pavlov.


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