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Cresce preocupação sobre mercado de imóveis nos EUA
Empresa especializada em financiamento alerta de que pode estar perto da falência
New Century informa que suspendeu a concessão de novos empréstimos por
não ter recursos para cumprir com obrigações
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Ao alertar, ontem, de que pode estar perto da falência, a
New Century Financial -empresa americana especializada
em financiamentos habitacionais para pessoas com histórico
de crédito ruim- reavivou as
preocupações dos especialistas
quanto ao setor imobiliário dos
EUA e às conseqüências, para a
economia do país, de uma crise
no setor.
A New Century informou,
em relatório apresentado à
SEC (Securities and Exchange
Comission, órgão que equivale
à brasileira Comissão de Valores Mobiliários), que suspendeu a concessão de novos empréstimos por não ter recursos
suficientes para cumprir com
as suas obrigações e que não
tem garantias de que poderá se
recuperar.
Durante o dia, os temores dos
investidores se fizeram sentir
na Bolsa de Nova York, que
chegou a operar em baixa devido à queda de ações de bancos,
mas se recuperou no final do
pregão, ao fechar com elevação
de 0,34%. As Bolsas européias
sofreram mais: a de Londres recuou 0,19%, e a de Paris, 0,75%.
As ações da New Century caíram 48%, e sua negociação foi
interrompida.
Uma crise no setor de habitação poderia afetar o consumo,
que responde por mais de 70%
da atividade econômica dos
EUA, e causar recessão.
Empresas como a New Century Financial têm como público justamente as pessoas que,
por atrasarem pagamentos, ficam com um histórico ruim e
não conseguem obter financiamento habitacional. Essas
companhias oferecem-lhes
crédito cobrando taxa mais alta
do que a do mercado em geral.
"Todas as empresas desse
mercado vão ter problemas."
Esse é o cenário um tanto sombrio que Susan Wachter, do Departamento de Imóveis da escola de negócios Wharton, da
Universidade da Pensilvânia,
traça. "Porque os mais recentes
empréstimos foram feitos levando em consideração preços
de casas que estão inflados."
Os recursos que a New Century empresta não são seus. Ela
reúne os financiamentos que
concede numa espécie de fundo e vende cotas (títulos mobiliários) desse fundo a outras
instituições financeiras. Daí
vem o dinheiro para o crédito.
"Parece-me que todos os envolvidos, tanto as empresas que
emprestam quanto os seus investidores, cometeram um erro
de análise: subestimaram as
probabilidades de não-pagamento, que acabou sendo
maior do que pensavam", comenta Andrey Pavlov, professor-assistente de finanças na
Simon Frasier University. Se a
taxa de inadimplência nesse nicho -que representa cerca de
20% de todo o crédito habitacional dos EUA- crescer para
além da já alta taxa de 8%, haverá mais problemas. "Os investidores vão perder dinheiro, mas
isso faz parte do jogo do risco.
Esse tipo de coisa acontece o
tempo todo no mercado financeiro, e não tem nada de errado.
Em um dia se ganha, no outro
se perde", pondera Pavlov.
Wall Street ainda tem na boca o gosto amargo do estouro da
bolha das empresas de tecnologia, no início da década. Na época, os investidores saíram comprando ações dessas companhias com grande apetite, o que
fez os preços dispararem. Mas,
um dia, percebeu-se que boa
parte delas não valia tanto, e
então houve o movimento contrário, de acelerada venda de
papéis, derrubando os preços.
Na opinião dos dois pesquisadores, ainda é cedo para afirmar que toda a economia americana vai ser afetada pelo problema no setor de imóveis,
mesmo considerando que, superaquecido, este tenha impulsionado o crescimento do PIB
do país nos últimos anos.
"Ainda há dinheiro disponível para o financiamento imobiliário. O que podemos esperar é que os consumidores que
não são bons pagadores tenham mais dificuldade em obter crédito", comenta Pavlov.
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