São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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CONTAS EXTERNAS
BC informará outros governos sobre andamento do compromisso de oferta de crédito ao Brasil até agosto
Brasil vai monitorar bancos toda semana

CLÓVIS ROSSI
Enviado especial a Paris

O Banco Central brasileiro montou um sistema de monitoramento para acompanhar, semana a semana, o comportamento dos bancos privados internacionais que manifestaram ontem, formalmente, a "intenção" de manter até 31 de agosto suas linhas interbancárias comerciais e seus depósitos no Brasil no nível em que estavam no dia 28 de fevereiro.
O compromisso consta de notas conjuntas do governo brasileiro e de bancos dos EUA, Canadá, Alemanha, Holanda, Áustria, Suíça, Reino Unido e França, divulgados ontem simultaneamente em quatro das principais praças financeiras do mundo (Nova York, Londres, Frankfurt e Paris).
Só falta Tóquio, para onde viaja uma missão segunda-feira.
Se algum banco deixar de cumprir o acertado, a informação será compartilhada com o Banco Central do país a que pertence.
Pergunta da Folha ao ministro da Fazenda, Pedro Malan: "O que faria o BC do país em questão se um de seus bancos privados não mantiver o compromisso"? Resposta: "Aí, vamos ver".
A resposta é uma clara indicação de que não se trata de uma obrigação formal de cada um dos bancos envolvidos nas negociações, mas de um esquema voluntário.
As autoridades brasileiras, na entrevista coletiva que concederam ontem na embaixada em Paris, venderam a tese de que o caráter voluntário do entendimento é positivo. Significaria uma demonstração de confiança dos bancos em que o governo brasileiro cumprirá a sua parte, ou seja, fará os ajustes negociados com o FMI.
Mas, como reconhece Marcos Caramuru, assessor internacional da Fazenda, o Brasil não tem condições nem disposição política de tornar coercitivo o acordo.
Teria que acenar com uma moratória da dívida externa ou com o reescalonamento compulsório dos débitos, o que Caramuru considera impraticável.

US$ 23 bi
O montante envolvido nas negociações nas cinco praças financeiras (já incluindo Tóquio) é de US$ 23 bilhões. Representa o estoque dos bancos estrangeiros no Brasil em depósitos e linhas interbancárias comerciais (para o financiamento do comércio exterior), diz Daniel Gleizer, diretor da área externa do Banco Central.
Sempre segundo Gleizer, esse número reflete uma queda de US$ 4 bilhões em relação a outubro passado, quando as seqüelas da crise russa eram agudas.
Mas não inclui, por exemplo, bônus e notas emitidas pelo setor privado, até porque seria mais difícil o monitoramento pelo BC desse tipo de recursos.
Os US$ 23 bilhões bastam, repetiu ontem Malan, para fechar este ano as contas do balanço de pagamentos do país (o total de suas transações externas).
Claro que contando com um saldo comercial (exportações menos importações) de US$ 11 bilhões (conforme acertado com o FMI) e com investimentos diretos (em fábricas ou serviços, não em papéis) de US$ 18 bilhões, estimativa que Gleizer considera conservadora.
Por que a "intenção" dos bancos em manter sua exposição se esgota no dia 31 de agosto? "Seis meses é um prazo longo e será um período-chave", responde.
Os bancos podem, depois de 31 de agosto, voltar a encolher o crédito? Malan aposta no inverso, pelas conversas separadas "olho no olho" que teve com os banqueiros.
Mas, de todo modo, prefere dizer que só vai "atravessar essa ponte" (a hipótese negativa) quando chegar a ela, dentro de seis meses.
O ministro confia no apoio oficial (governos, bancos centrais e instituições financeiras internacionais), simbolizado pelo fato de autoridades dessas três áreas terem participado das conversações com o setor privado.
Pelo menos no caso da França, o respaldo foi reforçado ontem com a decisão do governo francês de manter para 1999, no Brasil, a mesma linha adotada em 98 no Conface, o Eximbank francês, voltado para o comércio exterior, em vez de reduzir o volume de recursos.


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