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CONTAS EXTERNAS
BC informará outros governos sobre andamento do compromisso de oferta de crédito ao Brasil até agosto
Brasil vai monitorar bancos toda semana
CLÓVIS ROSSI
Enviado especial a Paris
O Banco Central brasileiro
montou um sistema de monitoramento para
acompanhar,
semana a semana, o comportamento dos bancos privados internacionais que manifestaram ontem, formalmente, a "intenção" de
manter até 31 de agosto suas linhas
interbancárias comerciais e seus
depósitos no Brasil no nível em
que estavam no dia 28 de fevereiro.
O compromisso consta de notas
conjuntas do governo brasileiro e
de bancos dos EUA, Canadá, Alemanha, Holanda, Áustria, Suíça,
Reino Unido e França, divulgados
ontem simultaneamente em quatro das principais praças financeiras do mundo (Nova York, Londres, Frankfurt e Paris).
Só falta Tóquio, para onde viaja
uma missão segunda-feira.
Se algum banco deixar de cumprir o acertado, a informação será
compartilhada com o Banco Central do país a que pertence.
Pergunta da Folha ao ministro
da Fazenda, Pedro Malan: "O que
faria o BC do país em questão se
um de seus bancos privados não
mantiver o compromisso"? Resposta: "Aí, vamos ver".
A resposta é uma clara indicação
de que não se trata de uma obrigação formal de cada um dos bancos
envolvidos nas negociações, mas
de um esquema voluntário.
As autoridades brasileiras, na entrevista coletiva que concederam
ontem na embaixada em Paris,
venderam a tese de que o caráter
voluntário do entendimento é positivo. Significaria uma demonstração de confiança dos bancos em
que o governo brasileiro cumprirá
a sua parte, ou seja, fará os ajustes
negociados com o FMI.
Mas, como reconhece Marcos
Caramuru, assessor internacional
da Fazenda, o Brasil não tem condições nem disposição política de
tornar coercitivo o acordo.
Teria que acenar com uma moratória da dívida externa ou com o
reescalonamento compulsório dos
débitos, o que Caramuru considera impraticável.
US$ 23 bi
O montante envolvido nas negociações nas cinco praças financeiras (já incluindo Tóquio) é de US$
23 bilhões. Representa o estoque
dos bancos estrangeiros no Brasil
em depósitos e linhas interbancárias comerciais (para o financiamento do comércio exterior), diz
Daniel Gleizer, diretor da área externa do Banco Central.
Sempre segundo Gleizer, esse
número reflete uma queda de US$
4 bilhões em relação a outubro
passado, quando as seqüelas da
crise russa eram agudas.
Mas não inclui, por exemplo, bônus e notas emitidas pelo setor privado, até porque seria mais difícil
o monitoramento pelo BC desse tipo de recursos.
Os US$ 23 bilhões bastam, repetiu ontem Malan, para fechar este
ano as contas do balanço de pagamentos do país (o total de suas
transações externas).
Claro que contando com um saldo comercial (exportações menos
importações) de US$ 11 bilhões
(conforme acertado com o FMI) e
com investimentos diretos (em fábricas ou serviços, não em papéis)
de US$ 18 bilhões, estimativa que
Gleizer considera conservadora.
Por que a "intenção" dos bancos
em manter sua exposição se esgota
no dia 31 de agosto? "Seis meses é
um prazo longo e será um período-chave", responde.
Os bancos podem, depois de 31
de agosto, voltar a encolher o crédito? Malan aposta no inverso, pelas conversas separadas "olho no
olho" que teve com os banqueiros.
Mas, de todo modo, prefere dizer
que só vai "atravessar essa ponte"
(a hipótese negativa) quando chegar a ela, dentro de seis meses.
O ministro confia no apoio oficial (governos, bancos centrais e
instituições financeiras internacionais), simbolizado pelo fato de
autoridades dessas três áreas terem participado das conversações
com o setor privado.
Pelo menos no caso da França, o
respaldo foi reforçado ontem com
a decisão do governo francês de
manter para 1999, no Brasil, a mesma linha adotada em 98 no Conface, o Eximbank francês, voltado
para o comércio exterior, em vez
de reduzir o volume de recursos.
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