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CONTAS PÚBLICAS
Estimativa considera dólar a R$ 2 e impacto sobre toda a dívida; outra previsão aponta para 6,9% do PIB
Governo prevê 10,3% de déficit nominal
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
A equipe econômica trabalha
com duas previsões para o déficit nominal do
setor público,
que inclui as
despesas com o
pagamento de juros dos títulos públicos em 99. A maior delas prevê
déficit de 10,3% do PIB (Produto
Interno Bruto), conforme previsão
repassada aos investidores estrangeiros.
Essa estimativa de 10,3%, feita
tendo-se como base que US$ 1 vale
cerca de R$ 2, contabiliza os efeitos
da desvalorização do real sobre todo o estoque da dívida pública, que
deve chegar a R$ 505,67 bilhões
neste mês. Na avaliação da área
econômica, essa estimativa é apenas uma referência.
O argumento da equipe econômica é que só será possível conhecer o comportamento do câmbio
neste ano em dezembro.
Embora tenha feito o cálculo
com uma previsão considerada
pessimista (R$ 2 por dólar), o governo espera que US$ 1 esteja valendo somente R$ 1,70 em dezembro deste ano.
Acordo com o FMI
Ao divulgar na última segunda-feira os principais pontos da revisão do acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), o governo não informou essa segunda
estimativa de déficit nominal. Até
ontem, a previsão oficial era que o
déficit nominal deste ano ficaria
em 6,9% do PIB.
Essa previsão mais otimista contabiliza os efeitos da desvalorização do real somente sobre a parcela da dívida que vence neste ano.
Devido a isso, a dívida líquida do
setor público pulou de 42,6% do
PIB em dezembro de 98 para
52,2% em março. O governo pretende reduzir paulatinamente essa
proporção.
De acordo com as metas acertadas com o FMI, a relação dívida líquida/PIB deverá cair para 49,3%
em dezembro deste ano, para
47,4% no ano 2000 e para 44,3% no
ano 2002. Para isso, o governo projetou juros reais (acima da inflação) de 10% neste ano e decrescentes nos dois anos seguintes: 9,48%
(2000) e 8,07% (2001).
Ao reduzir os juros, o governo
reduz seu custo sobre a dívida pública. Também contribuirá para
essa queda da relação dívida líquida/PIB o superávit primário
-sem contar gastos com juros-
fixado para 99 e para os dois anos
seguintes.
Nos dois casos, as previsões para
este ano são superiores aos 4,7% de
déficit nominal previstos no acordo original com o Fundo.
Dois fatores contribuíram para o
aumento desse resultado negativo:
desvalorização cambial e aumento
das taxas de juros pagas na rolagem dos títulos públicos, hoje em
45% ao ano.
Critérios
O déficit nominal vai aumentar,
mas seu crescimento não irá dificultar as negociações com o FMI.
Pela primeira vez nos acordos com
o Brasil, o déficit nominal deixará
de ser critério de desempenho. Na
revisão do acordo, esse tipo de déficit não consta nem mesmo como
meta indicativa.
Foi uma vitória da equipe brasileira, que, desde o ano passado, defende o uso do conceito primário
para avaliar as contas públicas brasileiras.
Na avaliação da equipe econômica, a desvalorização média do real
ao final do ano deverá ser inferior à
atual. Se isso acontecer, os efeitos
sobre as contas públicas serão menores do que o estimado.
Por enquanto, os juros continuam altos para evitar o retorno da
inflação. Na nova política monetária, porém, a tendência é queda de
juros para os próximos meses.
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