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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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CAIXA-FORTE

Em 1994, os cinco maiores bancos do país tinham 48% dos depósitos; em 2002, percentual subiu para 69,2%

Concentração bancária cresce no Plano Real

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Em 1994, ano do Plano Real, as cinco maiores instituições financeiras do país respondiam por 45,2% do ativo total dos bancos no Brasil. No final de 2002, a participação dos cinco maiores bancos saltou para 60,2%.
Se forem levados em conta os dez maiores bancos, o percentual aumenta de 60,2% (1994) para 75,8% (2002).
Em relação aos depósitos bancários, os números são ainda maiores. Em 1994, os cinco maiores bancos absorviam 48% dos depósitos. No ano passado, a participação aumentou para 69,2%.
Já o total de depósitos dos dez maiores bancos do país saltou de 65,1% para 85,9%, no período de 1994 a 2002.
Esses números mostram que, diferentemente do que se previa após a introdução do Real, com o fim dos ganhos inflacionários e a abertura do mercado para o capital estrangeiro, o processo de concentração bancária só aumentou.
O diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, defende a determinação de limites para a concentração bancária no Brasil. "O limite pode começar quando deixarmos de dormir sossegados."
Darcy deu alguns exemplos de limites à concentração bancária. Um limite pode ser estabelecido quando um grupo, ao comprar outro, representar uma ameaça ao bom atendimento a várias praças com o possível fechamento de um grande número de agências.
Ou ainda se, com uma única agência, a união de dois grupos puder dominar várias praças. "Se essas coisas ocorrerem, já estará mais do que na hora de a gente se preocupar com a concentração bancária", diz Darcy.
O diretor do BC afirma que, por enquanto, não está preocupado com o grau de concentração bancária no país. "Continuo dormindo bem com o atual nível de concentração bancária."
Apesar de o assunto não prejudicar seu sono, Darcy afirma que, há cerca de um ano, o Banco Central começou a aprofundar os estudos sobre esse tema. "Estamos olhando com mais cuidado", diz.
Agora, por exemplo, Darcy diz que estuda o processo de fusão que ocorre na França entre o Crédit Agricole e o Crédit Lyonnais. Caso a operação seja autorizada pelo governo francês, os dois bancos vão passar a deter um terço do mercado no país.
Se ocorrer no Brasil uma fusão como essa, Darcy acha que o Banco Central terá que aprofundar os estudos para saber até que ponto isso poderá prejudicar a concorrência no setor.
O grande problema do aumento da concentração no país é a diminuição da concorrência no setor. Com poucos bancos no mercado, eles teriam poderes para determinar não só as tarifas cobradas pelos serviços bancárias como também os "spreads" (taxas de risco) sobre as operações de crédito. "O importante é ficarmos sempre atentos à formação de tarifas e de taxas ["spread"] para evitarmos prejuízos aos consumidores."

Tendência de alta
O presidente da Austin Asis, Erivelto Rodrigues, acha que a tendência é a concentração bancária só aumentar no país. Para ele, se hoje existem nove grandes bancos de varejo, só devem permanecer cinco nos próximos anos. Desses cinco, apenas um estrangeiro.
O deputado Delfim Netto (PPB-SP) considera, por exemplo, que já há uma grande concentração bancária no país. Para ele, as altas taxas de "spread" no país já refletem esse fato. "Essa concentração pode tornar difícil a redução de "spreads" no futuro", diz.
O economista Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco Central e atualmente no Banco Itaú, discorda. Ele acha que o Brasil ainda tem muitos bancos. Segundo seus cálculos, o valor dos depósitos no Brasil por agência deve estar por volta de US$ 5 milhões, enquanto nos Estados Unidos deve ser superior a US$ 50 milhões.
Werlang deixa claro que não imagina que o Brasil venha a se tornar os Estados Unidos, mas esses números mostram que há espaço para mais bancos.
Erivelto Rodrigues acha, no entanto, que o processo de enxugamento no setor financeiro ainda vai prosseguir nos próximos anos. Em 1994, o país tinha 1 milhão de pessoas empregadas em bancos. Hoje, o número caiu para cerca de 400 mil funcionários. "Essa foi uma das consequências da concentração", diz Rodrigues.


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