|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REGRA DO JOGO
Projeto mantém a estabilidade de presidentes e diretores de entidades, mas propõe o controle do repasse de verbas
Governo quer metas para agência reguladora
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo cedeu a pressões do
mercado, feitas por meio da equipe econômica, e manteve a estabilidade de presidentes e diretores-gerais das agências reguladoras.
Em contrapartida, poderá usar
contratos de gestão para controlar o repasse de verbas a essas entidades, segundo proposta que seria enviada ontem ao Congresso.
O projeto de lei, divulgado pelo
Palácio do Planalto, tramitará em
regime de urgência constitucional. Dessa forma, o governo espera que seja aprovado em 90 dias.
A proposta para as agências reguladoras ficou pronta depois de
quase um ano de discussões dentro do Executivo. Seu texto prevê
a possibilidade de restrições na liberação de recursos para as agências que não cumprirem metas
contratuais (como quantidade de
ações de fiscalização).
Especialistas consultados pela
Folha criticaram o projeto de lei,
ao dizer que poderá inibir os investimentos nos setores de infra-estrutura.
O governo definiu um sistema
pelo qual os mandatos nas agências serão estáveis, com duração
de quatro anos, mas no qual todos
os presidentes ou diretores-gerais
poderão ser trocados pelo Palácio
do Planalto ao longo do primeiro
semestre do segundo ano de um
novo mandato presidencial.
Para que o novo sistema funcione, os próximos presidentes de
agências a serem indicados terão
mandatos com duração menor do
que quatro anos, para que terminem até o segundo semestre de
2008. Enquanto a nova regra não
estiver valendo, o governo disse
que não irá substituir nenhum
presidente de agência antes do
fim de seu mandato.
"O Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda] defendeu a tese [da estabilidade], que
foi aceita pelo presidente da República para reduzir o grau de incerteza", disse Luiz Alberto dos
Santos, subchefe de coordenação
da ação governamental.
Em janeiro, o governo forçou a
demissão de Luiz Guilherme
Schymura da presidência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), o que causou mal-estar no mercado. Ele foi substituído por Pedro Jaime Ziller, indicado pelo então ministro das Comunicações, Miro Teixeira.
Mudança de tom
A Casa Civil vinha comandando
o processo de modificação das leis
que determinam o funcionamento das agências desde março de
2003. O processo teve início após
declarações do presidente Lula,
feitas em almoço com deputados
e senadores em fevereiro, de que o
país havia sido "terceirizado" por
causa da existência das agências.
Ontem, o anúncio foi feito primeiro por Palocci, que falou antes
de José Dirceu (Casa Civil). Palocci disse que o projeto "dá certeza
aos investidores de que o novo
governo dará estabilidade a esses
investimentos".
A cerimônia contou apenas
com a presença de representantes
das agências reguladoras. Empresários que atuam nos setores regulados pelas agências não foram
convidados pelo governo para
participar do evento, segundo a
Presidência da República.
A forma como foi feito o anúncio, com grande participação da
equipe econômica, retrata a mudança de tom do discurso do governo desde o início de 2003. A
posição do governo evoluiu de
ataque aberto à autonomia das
agências para a compreensão de
um papel "fundamental" para
atrair investimentos.
O ponto mais crítico do relacionamento do governo com as
agências aconteceu em junho do
ano passado, quando a Anatel autorizou o reajuste de telefonia fixa
pelo IGP-DI, como mandam os
contratos de concessão.
Como o governo queria um índice menor -os reajustes pelo
IGP-DI chegavam a 41%-, Miro
Teixeira incentivou os consumidores a lutar contra o aumento na
Justiça. O STJ (Superior Tribunal
de Justiça) acabou decidindo, liminarmente, adotar o IPCA, com
aumento máximo de 23%. A partir desse momento, com a instabilidade criada, aumentaram as
pressões do mercado, via Ministério da Fazenda.
Em setembro, na divulgação do
relatório do grupo de trabalho interministerial sobre agências, o
governo explicitou o recuo no seu
ponto de vista. Propostas como a
de acabar com a estabilidade dos
mandatos dos diretores foram
descartadas. No texto divulgado,
o governo passou a considerar as
agências "indispensáveis".
Muitas das propostas que hoje
estão no projeto de lei já existem
na prática, como o contrato de
gestão (Aneel, Anvisa e ANS) e a
ouvidoria (Aneel, Anatel, Anvisa,
ANS, Antaq e ANTT).
Foram apenas tornadas obrigatórias e regulamentadas de maneira uniforme. Idéias como retirar das agências o poder de fazer
licitações foram flexibilizadas.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Bastidores: Proposta é vitória de Palocci sobre Dirceu Índice
|