São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Derrota da indústria e continuísmo

Industriais sofrem série de derrotas políticas; Lula 2 reafirma continuísmo fiscal, monetário e regulatório

NADA SE SABE ainda dos planos econômicos do novo ministro do Desenvolvimento. Mas Miguel Jorge logo deu a entender que pretende espanar a política do seu ministério, no mais da vezes lobby para o comissariado da indústria, assim como a Agricultura costuma ser o paço de pleitos do agronegócio e o Banco Central desempenha o desembargo da finança, o que é em parte inevitável e quase compreensível, a depender do grau de sujeição oficial e da captura da política pública por grupos de interesse.
Jorge repeliu o coro empresarial contra o câmbio, fez um elogio indireto à abertura econômica dos anos 90 (de Collor a FHC), disse que o real forte veio para ficar e que a indústria precisa se reinventar e ser mais competitiva, o que causou amuos, choros e dentes rangidos e à mostra nas guildas empresariais.
O ministro fritou em público o presidente do BNDES, Demian Fiocca, escudeiro de Guido Mantega e pessoa de esquerda, e sugeriu um executivo financeiro para assumir o banco estatal de desenvolvimento.
Ao rechaçar as perguntas cascas de banana (e no mais das vezes idiotas) sobre juros e Banco Central, saudou Henrique Meirelles. O que vai ser de seu ministério, sublinhe-se, pouco se sabe, mas Jorge pendurou na porta a clássica plaquinha de caminhão: "mantenha distância".
Meirelles, por sua vez, está feliz como pinto no lixo, encouraçado por Lula, no comando total de sua equipe e "au-dessus de la mêlée", nem aí e por cima da carne seca, em tradução popular, no que diz respeito ao charivari sobre câmbio, juros, guinadas desenvolvimentistas e outras conversas fiadas.
A indústria e outras bandas da economia "real", com suas reivindicações carcomidas, quando não arcaicas, sofre derrotas em série. Na sala de troféus de caça do comando econômico de Lula 2 foi recentemente pendurada a cabeça do ex-representante da indústria na Fazenda, Júlio Gomes de Almeida.
O secretário de Política Econômica de Mantega foi abatido na semana passada por criticar o BC.
Mantega assinou um armistício com Meirelles. Ou melhor, rendição quase incondicional, imposta por Lula, de quem o ministro da Fazenda é, antes de tudo, amigo e seguidor fidelíssimo. Por ora e até que venha a invasão de uma crise econômica estrangeira, está tudo em paz.
Tendo feito assinar tais pactos de não-agressão, Lula como que sela a inércia político-programática de seu governo, ao menos na área econômica. Não mexe no nível de gastos do governo, na política fiscal, e concede isenções homeopáticas e ad hoc de tributos. Não mexe na política monetária, no BC e no seu modo de atuar. Assim, resta espaço apenas marginal para alterações no padrão de crescimento da economia, para planos mais assertivos em relação a infra-estrutura ou política industrial. Como Lula também adota a política do deixa como está e vemos como fica na área da regulação (tanto em leis como nas agências), a perspectiva mais imediata é de continuísmo pleno. Líder do centrão político do Congresso, que ora domina e articula com líderes políticos mais do que conservadores, príncipe do continuísmo econômico, pai dos pobres, Lula acaba de apresentar Lula 2.


vinit@uol.com.br

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