|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Derrota da indústria e continuísmo
Industriais sofrem série de derrotas políticas; Lula 2 reafirma continuísmo fiscal, monetário e regulatório
NADA SE SABE ainda dos planos
econômicos do novo ministro do Desenvolvimento.
Mas Miguel Jorge logo deu a entender que pretende espanar a política
do seu ministério, no mais da vezes
lobby para o comissariado da indústria, assim como a Agricultura costuma ser o paço de pleitos do agronegócio e o Banco Central desempenha o desembargo da finança, o que
é em parte inevitável e quase compreensível, a depender do grau de
sujeição oficial e da captura da política pública por grupos de interesse.
Jorge repeliu o coro empresarial
contra o câmbio, fez um elogio indireto à abertura econômica dos anos
90 (de Collor a FHC), disse que o
real forte veio para ficar e que a indústria precisa se reinventar e ser
mais competitiva, o que causou
amuos, choros e dentes rangidos e à
mostra nas guildas empresariais.
O ministro fritou em público o
presidente do BNDES, Demian
Fiocca, escudeiro de Guido Mantega
e pessoa de esquerda, e sugeriu um
executivo financeiro para assumir o
banco estatal de desenvolvimento.
Ao rechaçar as perguntas cascas de
banana (e no mais das vezes idiotas)
sobre juros e Banco Central, saudou
Henrique Meirelles. O que vai ser de
seu ministério, sublinhe-se, pouco
se sabe, mas Jorge pendurou na porta a clássica plaquinha de caminhão:
"mantenha distância".
Meirelles, por sua vez, está feliz
como pinto no lixo, encouraçado
por Lula, no comando total de sua
equipe e "au-dessus de la mêlée",
nem aí e por cima da carne seca, em
tradução popular, no que diz respeito ao charivari sobre câmbio, juros,
guinadas desenvolvimentistas e outras conversas fiadas.
A indústria e outras bandas da
economia "real", com suas reivindicações carcomidas, quando não arcaicas, sofre derrotas em série.
Na sala de troféus de caça do comando econômico de Lula 2 foi recentemente pendurada a cabeça do
ex-representante da indústria na
Fazenda, Júlio Gomes de Almeida.
O secretário de Política Econômica
de Mantega foi abatido na semana
passada por criticar o BC.
Mantega assinou um armistício
com Meirelles. Ou melhor, rendição
quase incondicional, imposta por
Lula, de quem o ministro da Fazenda é, antes de tudo, amigo e seguidor
fidelíssimo. Por ora e até que venha
a invasão de uma crise econômica
estrangeira, está tudo em paz.
Tendo feito assinar tais pactos de
não-agressão, Lula como que sela a
inércia político-programática de seu
governo, ao menos na área econômica. Não mexe no nível de gastos
do governo, na política fiscal, e concede isenções homeopáticas e ad
hoc de tributos. Não mexe na política monetária, no BC e no seu modo
de atuar. Assim, resta espaço apenas
marginal para alterações no padrão
de crescimento da economia, para
planos mais assertivos em relação a
infra-estrutura ou política industrial. Como Lula também adota a
política do deixa como está e vemos
como fica na área da regulação (tanto em leis como nas agências), a
perspectiva mais imediata é de continuísmo pleno.
Líder do centrão político do Congresso, que ora domina e articula
com líderes políticos mais do que
conservadores, príncipe do continuísmo econômico, pai dos pobres,
Lula acaba de apresentar Lula 2.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Santos: Alfândega apreende R$ 1 mi em produtos Próximo Texto: Brasil perde uma posição entre exportadores Índice
|