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RACIONAMENTO
Relatório de abril do Ministério do Planejamento apontava os erros do governo FHC que levaram país ao apagão
Governo escondeu fracasso na energia
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Obras que poderiam evitar o colapso do sistema energético, como o racionamento, estão sendo
atrasadas por falhas ou políticas
adotadas pelo próprio governo. A
avaliação consta de relatório do
Ministério do Planejamento que
traz críticas dos gerentes dos programas de energia elétrica do
Avança Brasil.
Além dos problemas causados
pelo governo, esses técnicos também citam a indecisão do setor
privado em investir no sistema
energético e a conjuntura econômica pós-desvalorização do real.
Enviado em meados de abril ao
Congresso, o relatório aponta a
"probabilidade elevada de risco
de racionamento" e cita uma consequência negada pelo governo:
"Um alto risco de déficit implica
ainda um alto preço para a energia, que se reflete no custo de operação e no custo de expansão".
A avaliação é inédita e foi determinada pelo Ministério do Planejamento depois que o governo
constatou falhas na execução de
vários programas prioritários. O
Avança Brasil é um plano de ação
traçado para o período 2000/2003.
O relatório dos gerentes contrasta com o cenário otimista traçado pelo governo na mensagem
enviada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ao Congresso no começo do ano. Na
mensagem, uma listagem das
obras realizadas e das planejadas
pelo governo, não há menção ao
risco do apagão.
Cortes orçamentários
Cortes orçamentários são apontados como obstáculos por pelo
menos dois dos gerentes. Os cortes foram impostos pelo ajuste fiscal. A economia de receitas para
pagamento de juros é uma das
principais exigências do acordo
feito pelo Brasil com o FMI.
"Outros destaques foram os
cortes orçamentários incompatíveis com as metas estabelecidas
no PPA (Avança Brasil)", escreve
José Antônio Muniz, gerente do
programa Integração Elétrica
Norte-Sul.
"A disponibilidade financeira é
suficiente para os investimentos
necessários. O problema maior
reside na limitação do teto orçamentário", diz o gerente do programa Energia na Rede Sudeste,
Carlos Passos Justo. Traduzindo:
há dinheiro disponível, mas não
há liberdade para aplicá-lo.
Os gerentes dos seis programas
energéticos mais importantes são
unânimes em afirmar que a Aneel
(Agência Nacional de Energia Elétrica) tem atrasado muito as autorizações para licitações no setor.
Risco cambial
O adiamento da solução para a
questão do "risco cambial" envolvido nas concessões de usinas termelétricas também comprometeu a meta do governo de inaugurar 49 dessas usinas até 2003.
Para investir nessas empresas, o
setor privado pressionava por
uma proteção contra novas desvalorizações do real. O governo
não aceitou a proposta, mas acabou tendo de ceder agora, no
meio da crise. O "risco cambial"
será transferido para a Petrobras.
O relatório do ministério conta
que a maioria das termelétricas
em construção tinha a participação da Petrobras. "A empresa
[Petrobras" vai aplicar recursos
próprios, sem aguardar as assinaturas dos financiamentos, confirmando as dificuldades enfrentadas pelo programa."
Os gerentes também reclamam
de que os financiamentos do
BNDES não saem. Segundo eles, o
principal obstáculo é a exigência
de apresentação de contratos de
venda de energia antes da concessão dos recursos.
Além dos problemas recentes,
há atrasos resultantes de falhas
cometidas no início do processo
de reformulação do setor elétrico.
Ou seja, antes de o governo decidir separar as subsidiárias da Eletrobrás (Eletrosul, Eletronorte,
Chesf e Furnas) em empresas de
geração e de transmissão, em 98.
Segundo o relatório, o governo
demorou a definir as regras de
operação do MAE (Mercado Atacadista de Energia Elétrica). "Deixou o mercado inseguro por falta
de normas claras para o funcionamento do novo modelo setorial."
Mês passado o governo admitiu
o fracasso do MAE, que estava parado desde setembro do ano passado, e interveio, alterando a
composição dos seus representantes. Com isso, a Aneel assumiu
o controle do mercado.
Inicialmente, o governo pretendia vender as empresas de geração (só vendeu a Gerasul, resultante da divisão da Eletrosul) e ficar com as de transmissão. O objetivo era assegurar a competição
no setor, garantindo o livre acesso
das empresas às linhas.
Sem poder investir por causa
das limitações do ajuste fiscal, o
governo decidiu rever essa estratégia por meio de contratos de
concessão. Como o setor privado
também não vem investindo e a
crise é aguda, o governo deve aumentar este ano os recursos da
Eletrobrás.
Os gerentes também fazem referência a uma certa "má vontade"
do setor privado. Segundo Justo,
algumas informações eram negadas por ser classificadas como
"estratégicas". "Entidades privadas e estaduais demonstraram
pouco interesse em ampliar a interlocução", diz o gerente do programa Energia no Eixo Arco-Norte, José Antônio Lopez.
Colaborou Humberto Medina,
da Sucursal de Brasília
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