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Mantega "oficializa" fundo soberano
Recursos devem vir de contenção maior de gastos e ajudarão as empresas no exterior; detalhes serão anunciados hoje
Governador Serra manifesta
apoio ao aumento da meta
de superávit primário de
3,8% do PIB a até 5%, em
estudo pelo governo Lula
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou oficialmente ontem a criação de um
fundo soberano brasileiro
-que será detalhado hoje em
Brasília.
Mantega afirmou que a
maior parte dos recursos virá
do superávit primário do setor
público (a economia que o governo faz para pagar os juros da
dívida pública).
"Será um instrumento para
apoiar essa política de expansão das empresas brasileiras no
exterior. Também servirá para
acumulação de [superávit] primário", disse Mantega, na entrevista coletiva que se seguiu
ao anúncio da nova política industrial.
Antes da coletiva, o ministro
do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que o fundo será criado com um aporte de
US$ 20 bilhões. Questionado
sobre esse valor, Mantega desconversou: "Parece, mas nem
tudo o que parece é".
Na apresentação da Política
de Desenvolvimento Produtivo, Mantega disse que o
BNDES será o executor do fundo, que terá como função "a
formação de poupança fiscal
em caráter anticíclico [economia feita em época de aumento
de receitas]".
"O fundo terá reservas orçamentárias e fiscais, poderá ter
reservas de valor e primárias e
fazer operações no exterior",
disse Mantega.
O ministro da Fazenda não
confirmou se a criação do fundo soberano será articulada
com um aumento do superávit
primário. No sábado, reportagem da Folha revelou que o governo estuda aumentar a meta
de superávit para 4,5% ou 5%
do PIB. Hoje, a meta é de 3,8%.
O novo esforço fiscal seria usado para a criação do fundo soberano.
Tanto Mantega como Bernardo não quiseram relacionar
a criação do fundo à elevação
do superávit primário, o que
ainda estaria esperando decisão final de Lula.
Mas deixaram claro que o
apoio à internacionalização das
empresas brasileiras virá do esforço fiscal do governo- que,
até março, está em 4,46% do
PIB (no cálculo dos últimos 12
meses).
A proposta de aumentar o
superávit primário partiu do
economista Luiz Gonzaga Belluzzo -um dos principais interlocutores de Lula para assuntos econômicos -e é apoiada pelos ministros Mantega e
Bernardo e pelo presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles.
A elevação do superávit primário, além de financiar o fundo soberano, poderia ter efeitos também sobre a inflação (já
que os crescentes gastos governamentais exercem pressão
sobre preços). Os defensores da
idéia esperam ainda que ele reduza a tendência do BC de elevar mais os juros.
A proposta de um esforço fiscal extra ganhou o apoio do governador de São Paulo, José
Serra, do PSDB. "Precisamos
complementar as medidas de
incentivo à indústria anunciadas hoje com medidas complementares macroeconômicas.
As receitas [do governo federal] estão crescendo 13% neste
ano. A hora é de aumentar o superávit fiscal, para evitar novos
aumentos de juros. Existe margem para elevar o superávit
primário", disse Serra.
Depois da solenidade, numa
sala reservada para as autoridades, Serra defendeu a proposta junto aos governadores
Aécio Neves (MG) e Sérgio Cabral (RJ). Ao cumprimentar o
ministro Mantega, Serra também abordou o assunto, citando o crescimento da arrecadação federal como argumento
para elevação do superávit.
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