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INTEGRAÇÃO
País quer deixar temas mais delicados para uma segunda etapa
Brasil só acha Alca viável se for "light"
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Brasil acha viável cumprir o prazo de janeiro de 2005 para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) apenas se os EUA fizerem concessões ao acesso de produtos brasileiros, principalmente agrícolas, e se houver concordância em "fatiar" as negociações. Em reunião ontem em Washington entre o chanceler brasileiro, Celso Amorim, e o representante comercial dos Estados
Unidos, Robert Zoellick, o Brasil insistiu que pretende deixar de fora das negociações temas polêmicos e que quer se concentrar apenas em uma espécie de "Alca light".
O país quer discutir com mais
ênfase o acesso a mercados e a diminuição das barreiras não-tarifárias (cotas e dumpings, por
exemplo) americanas.
Assuntos mais delicados como
propriedade industrial e regras
para investimentos, por exemplo,
ficariam para uma segunda etapa.
"Estamos propondo fechar um
acordo mínimo até o final do prazo. A preocupação principal dos
EUA é que tudo fique sob o guarda-chuva da Alca. Mas nós queremos discutir se esse guarda-chuva
é mais grosso ou mais leve", disse
Amorim após o encontro.
Amorim define como "três trilhos" as negociações hoje em curso entre o Brasil, os EUA e o resto
do mundo: 1) entre o Mercosul e
os EUA, o chamado "4 + 1"; 2) entre o Brasil e os demais 33 países
que comporiam a Alca; 3) as negociações em que o Brasil participa na OMC (Organização Mundial do Comércio).
"O esquema que estamos propondo dá mais ênfase ao acesso a
mercados dentro de um ambiente
4 + 1 e evita os temas muito polêmicos", disse.
"Estamos vendo se colocamos
mais coisas nesse "trilho" 4 + 1 ou
se mandamos outras decisões para o âmbito da OMC, em uma segunda etapa", disse. "Ainda estamos fazendo este balanço do que
pode ficar fora e o que fica dentro
(da Alca)", afirmou o chanceler
brasileiro.
Mesmo a versão mais "light" de
um acordo que o Brasil admite fechar no âmbito da Alca vai depender muito das ofertas americanas
para a abertura de seu mercado
aos produtos brasileiros.
"Os EUA estão dispostos a ter
um enfoque pragmático, mas não
sei se o pragmatismo deles chega
até onde precisamos", disse Amorim. A idéia do Brasil é tentar caminhar para um acordo mínimo
que não emperre de vez as negociações.
O prazo fixado pelos norte-americanos para a conclusão das
negociações termina, na prática,
dois meses depois das eleições
americanas do ano que vem, em
novembro. Há uma expectativa
de que, passada a campanha,
Bush poderá, se reeleito, fazer
mais concessões aos países participantes do que durante o período eleitoral. Daí a lógica de manter as negociações.
Amorim participa hoje de uma
nova reunião nos EUA com 14 outros ministros de países envolvidos nas conversações.
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