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LUÍS NASSIF
A crise anunciada
Seria bom que os setores
responsáveis do país começassem a se mexer para se preparar para o segundo semestre.
Vem crise braba pela frente.
A estratégia inicial da equipe
de Lula foi acalmar o mercado,
que pegava fogo, enquanto se
articulavam e se definiam políticas públicas consistentes, o tal
segundo tempo do jogo. Foi imprudência rematada ter entregue o ponto central dessa estratégia -as políticas monetária e
cambial- a mãos tão inexperientes como as desse pessoal do
Banco Central.
A melhor herança deixada a
Lula por 2002 foi o real bastante
desvalorizado. Se, de um lado,
provocou inflação de custos, por
outro gerou um movimento positivo de empresas atrás do mercado externo. O que se viu foi
um autêntico milagre, com mercados tradicionais em crise, como a Argentina, sendo substituídos por novas frentes comerciais.
Nos últimos anos o país estava
preso à armadilha externa, só
conseguindo sobreviver graças à
ajuda do FMI. Esse estrangulamento impedia qualquer crescimento, já que havia a necessidade de manter a economia desaquecida pela falta de condições
de enfrentar aumentos de importação.
Com o câmbio se desvalorizando, o movimento exportador
ganhou novo ímpeto, permitindo superávits expressivos, com a
conquista de novos mercados e
a entrada de novos exportadores.
Completado o primeiro tempo
do jogo, o segundo tempo seria a
recomposição das reservas cambiais brasileiras para eliminar a
necessidade de recursos de curto
prazo para fechar as contas. Esse movimento exportador permitiria iniciar um ciclo virtuoso
de crescimento por movimentar
a economia e, ao mesmo tempo,
garantir os dólares necessários
para uma retomada da atividade econômica.
Todo esse movimento está
sendo abortado. No ano passado, a explosão do câmbio havia
levado o Banco Central a uma
política de oferta maciça de títulos cambiais para suprir as necessidades das empresas. Com a
queda do dólar, o movimento
natural deveria ser a redução
da renovação dos títulos cambiais, diminuindo o peso do
câmbio sobre a dívida pública.
Sem títulos, as empresas iriam a
mercado adquirir dólares, impedindo a continuidade da queda.
Nada foi feito. O mesmo imobilismo medíocre que marcou a
atuação do Banco Central no
primeiro governo Fernando
Henrique Cardoso se repete
agora. Deixa-se a taxa de juros
como está, se mantêm as regras
de rolagem da dívida cambial
para não arcar com as consequências de nenhuma medida
propositiva. A lógica é a mesma:
os efeitos de qualquer medida
que eu tome são de minha estrita responsabilidade; se ocorrer o
desastre por medidas que eu
não tomei, a responsabilidade
se dilui. Aí, mais uma vez se arrumarão outros álibis, se dirá
que as reformas foram insuficientes, que a crise é decorrência
dos alertas sobre a crise etc.
Quem acompanha a economia desses tristes trópicos está
careca de saber o final desse filme. Agora, a incógnita da história é qual será o comportamento de Lula, quando sua ficha
cair.
É de suma importância que o
centro dinâmico do PT, José
Dirceu, Luiz Gushiken e Luiz
Dulci, acorde enquanto é tempo. Quando o fogo se alastrar,
não haverá tempo nem saúde
para articular política nenhuma.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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