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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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LUÍS NASSIF

A crise anunciada

Seria bom que os setores responsáveis do país começassem a se mexer para se preparar para o segundo semestre. Vem crise braba pela frente.
A estratégia inicial da equipe de Lula foi acalmar o mercado, que pegava fogo, enquanto se articulavam e se definiam políticas públicas consistentes, o tal segundo tempo do jogo. Foi imprudência rematada ter entregue o ponto central dessa estratégia -as políticas monetária e cambial- a mãos tão inexperientes como as desse pessoal do Banco Central.
A melhor herança deixada a Lula por 2002 foi o real bastante desvalorizado. Se, de um lado, provocou inflação de custos, por outro gerou um movimento positivo de empresas atrás do mercado externo. O que se viu foi um autêntico milagre, com mercados tradicionais em crise, como a Argentina, sendo substituídos por novas frentes comerciais.
Nos últimos anos o país estava preso à armadilha externa, só conseguindo sobreviver graças à ajuda do FMI. Esse estrangulamento impedia qualquer crescimento, já que havia a necessidade de manter a economia desaquecida pela falta de condições de enfrentar aumentos de importação.
Com o câmbio se desvalorizando, o movimento exportador ganhou novo ímpeto, permitindo superávits expressivos, com a conquista de novos mercados e a entrada de novos exportadores.
Completado o primeiro tempo do jogo, o segundo tempo seria a recomposição das reservas cambiais brasileiras para eliminar a necessidade de recursos de curto prazo para fechar as contas. Esse movimento exportador permitiria iniciar um ciclo virtuoso de crescimento por movimentar a economia e, ao mesmo tempo, garantir os dólares necessários para uma retomada da atividade econômica.
Todo esse movimento está sendo abortado. No ano passado, a explosão do câmbio havia levado o Banco Central a uma política de oferta maciça de títulos cambiais para suprir as necessidades das empresas. Com a queda do dólar, o movimento natural deveria ser a redução da renovação dos títulos cambiais, diminuindo o peso do câmbio sobre a dívida pública. Sem títulos, as empresas iriam a mercado adquirir dólares, impedindo a continuidade da queda.
Nada foi feito. O mesmo imobilismo medíocre que marcou a atuação do Banco Central no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso se repete agora. Deixa-se a taxa de juros como está, se mantêm as regras de rolagem da dívida cambial para não arcar com as consequências de nenhuma medida propositiva. A lógica é a mesma: os efeitos de qualquer medida que eu tome são de minha estrita responsabilidade; se ocorrer o desastre por medidas que eu não tomei, a responsabilidade se dilui. Aí, mais uma vez se arrumarão outros álibis, se dirá que as reformas foram insuficientes, que a crise é decorrência dos alertas sobre a crise etc.
Quem acompanha a economia desses tristes trópicos está careca de saber o final desse filme. Agora, a incógnita da história é qual será o comportamento de Lula, quando sua ficha cair.
É de suma importância que o centro dinâmico do PT, José Dirceu, Luiz Gushiken e Luiz Dulci, acorde enquanto é tempo. Quando o fogo se alastrar, não haverá tempo nem saúde para articular política nenhuma.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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