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RECEITA ORTODOXA
Órgão consultivo de Lula diz que políticas recessivas não geram desenvolvimento com inclusão social
Conselho pede queda do juro "o quanto antes"
Sergio Lima/Folha imagem
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O secretário do CDES, Tarso Genro, ao lado do presidente Lula |
JULIANNA SOFIA
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os defensores da queda das taxas de juros ganharam ontem um
aliado de peso: o CDES (Conselho
de Desenvolvimento Econômico
e Social), órgão consultivo do presidente da República, recomendou ao governo a redução da taxa
de juros "o quanto antes".
A sugestão foi formalizada em
um documento entregue a Lula a
menos de uma semana da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central)
que vai decidir a trajetória dos juros, hoje em 26,5% ao ano.
No documento, chamado de
Terceira Carta de Concertação, o
conselho elenca em 28 tópicos os
fundamentos para um "novo
contrato social". A carta foi aprovada por unanimidade pelo conselho, que se reuniu com Lula.
Essa foi a primeira vez que o
CDES tratou de juros. Composto
de 90 representantes dos diversos
segmentos da sociedade e 12 ministros, o conselho foi criado por
Lula para discutir e apresentar
propostas de reformas estruturais
-tributária, previdenciária, trabalhista etc.
"Existe uma perspectiva inicial
de redução da dívida relativamente ao produto [PIB, o Produto Interno Bruto], seja pela própria queda do dólar, seja pelas
medidas de ajuste e controle fiscal, que somente pode ser mantida desde que ocorra uma gradativa redução nas taxas de juros, o
que deve iniciar o quanto antes",
diz o documento.
"Não existe precedente de que
políticas preponderantemente recessivas [juros altos] tenham propiciado desenvolvimento com
crescimento sustentado e inclusão social", acrescenta.
O ministro Tarso Genro, secretário-executivo do CDES, explicou que esse trecho do documento não afirma que o governo Lula
tem praticado uma política econômica recessiva. "Estamos apenas advertindo para que isso não
aconteça", afirmou.
Segundo o texto, o Brasil passa
por um momento em que precisam ser "apresentados dados positivos para alentar a esperança de
uma progressiva superação dos
condicionantes que limitam o
crescimento econômico e a melhoria dos indicadores sociais".
A carta afirma também que "a
retomada do crescimento da economia do país não é incompatível
com o combate à inflação".
Apoio
Na saída da reunião, empresários, sindicalistas e intelectuais
mostraram-se preocupados com
a situação da economia, mas enfatizaram seu apoio ao governo. Segundo relato dos conselheiros, a
preocupação foi externada durante o encontro com Lula.
"Todos colocaram [na reunião]
esse momento difícil pelo qual o
país passa, essa percepção de que
o governo está compreendendo a
necessidade de fazer uma redução
das taxas de juros", disse o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
Horacio Lafer Piva.
Para o consultor Antoninho
Marmo Trevisan, a situação do
país está difícil. "Mas o governo
está no caminho certo", declarou.
"Estou muito confiante, mas
muito aflita com a situação porque não está boa, principalmente
para os trabalhadores, devido ao
aumento do desemprego", ressaltou a intelectual e conselheira Maria Victória Benevides.
Na reunião do CDES também
foi apresentada uma proposta de
divulgação de uma nota em defesa da redução da taxa de juros
-além da defesa já contida na
carta. Segundo participantes,
conselheiros ligados ao sistema financeiro se opuseram e a nota
acabou não sendo aprovada.
Origem da concertação
O termo concertação usado na
carta, que pode ser entendido como harmonização, foi inspirado
no processo de negociação entre o
governo português após a revolução dos Cravos (1974), quando o
país retomou a democracia, e a
sociedade civil. A idéia é que as
propostas discutidas no CDES
possam ajudar a conciliar os diversos interesses da sociedade.
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