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VINICIUS TORRES FREIRE
Uma série de esparadrapos
Pacote é remendo de um governo sem política de longo prazo para impostos, juros, inovação e finanças privadas
É MELHOR reduzir impostos e
juros do que aumentar o imposto de importação de produtos das indústrias atingidas pelo
câmbio, decerto. Mas um esparadrapo é um esparadrapo é um esparadrapo, diria Gertrude Stein se reencarnasse como economista.
O governo anunciou mais uma baciada de medidas do pinga-pinga em
série de auxílios setoriais. Para começar, tais medidas aumentam a
confusão da multiplicidade de regimes de cobranças de impostos, que
desorientam a alocação de capital,
as decisões de investimento. Para
continuar, tais medidas são o reconhecimento de que juros e impostos
são altos e de que muitos setores da
economia não têm acesso ao mercado financeiro, por serem pequenos,
primitivos e por ser o mercado financeiro falho e caro. Por fim, o pacote é outro sinal de que não há um
entendimento geral e organizado do
que deve ser o incentivo oficial à indústria. Trata-se de um reconhecimento de problemas sem que questões de fundo sejam enfrentadas a
médio e longo prazos.
Decerto resolver questões de fundo pode levar tempo suficiente para
desgraçar setores industriais inteiros. Mas tais setores vão sobreviver
com as medidas-esparadrapo? Segundo: são apenas esses os setores
atingidos pelo câmbio? A anônima e
grande indústria de insumos também apanha e é mais importante na
manutenção da cadeia industrial do
que as fábricas de roupas e sapatos.
Terceiro: e os setores natimortos
por causa de câmbio e falta de crédito, "indústrias nascentes", de ponta?
Têxteis, calçados e madeira têm
sofrido bastante com o câmbio ou
queda mundial de preços. Para essas
indústrias, o governo deu desconto
de imposto e crédito subsidiado, como se faz com a agricultura, aliás. E
desconto de imposto para quem exportar mais, medida que já não vinha funcionando bem em outros setores (a não ser para quem já exportava bastante). Mais interessante, o
governo ofereceu linhas de crédito
do BNDES para fusões. As empresas
beneficiadas são pequenas e nem
aparecem nos rankings de captações
via ações ou debêntures, por exemplo. Mas vão ganhar escala, se modernizar, vão sofisticar seus produtos? Qual a contrapartida?
No caso de eletroeletrônicos,
montadoras e autopeças o caso é
ainda mais complicado. Sim, eletroeletrônicos levaram também um
tombo grande de preços. Mas as
múltis do setor vivem aqui de incentivo fiscal, basta ver a briga recente
por isenções na Zona Franca. Qual é
o plano? O governo diz que vai apresentar projeto para desenvolver TV
digital, celulares de terceira geração
e internet sem fio (negócios que,
aliás, sofrem devido a uma quizumba regulatória feia e arrastada).
Um incentivo pode ser interessante desde que tais indústrias deixem de ser maquiladoras. Mas vão
desenvolver tecnologia aqui, trazer
fábrica de componente sofisticado?
Montadoras são importantes,
sim: grandes, empregam muito, têm
efeito encadeador enorme na indústria e até desenvolvem produtos no
país. Mas, se a demanda interna de
veículos está tão quente, qual o problema que as montadoras têm para
ampliar as fábricas? Não tinham nenhum, faz uns cinco anos, e passaram tais anos com capacidade ociosa. Por que precisariam de ajuda?
vinit@uol.com.br
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