São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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FINANÇAS

Novo relatório da S&P diz que é preciso ver "floresta, não só as árvores"

Agências de risco ecoam o discurso de "blindagem"

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O discurso recorrente da equipe econômica de que a crise política não contaminou a economia encontra respaldo nas principais agências de risco do mundo.
Os analistas ouvidos pela Folha argumentam que o superávit em conta corrente, a política fiscal apertada, um cenário internacional extremamente favorável e, até agora, a falta de provas concretas sustentam a tese da "blindagem".
De acordo com Lisa M. Schineller, principal analista da agência Standard & Poor's para o Brasil, o fato de o governo manter-se comprometido com a manutenção das políticas econômica e fiscal revela um "amadurecimento" do país. Além disso, a investigação das denúncias dentro do sistema democrático -Congresso, Judiciário e imprensa- dá uma idéia da forte estrutura institucional do país, diz a economista.
Autora do relatório "A Floresta pelas Árvores: Analisando os Desenvolvimentos Políticos no Brasil dentro do Contexto de sua Estrutura Institucional e Fundamentos Sólidos" divulgado pela S&P ontem, ela afirma que, no curto prazo, a nota do país, "BB", segue inalterada. Numa metáfora ambiental, a agência diz que está na hora de dar um passo para trás e, em vez de olhar apenas as árvores, passar a vislumbrar a floresta.
O ambiente de crescimento global, que sustenta o ritmo de expansão das exportações brasileiras, também serve como um escudo para o Brasil. "Existe muita liqüidez nos mercados financeiros mundiais, os números econômicos têm sido muito bons e não houve nenhum impacto da crise sobre a política econômica e nem sequer sobre perspectivas futuras", diz Ricardo Amorim, do banco WestLB em Nova York.
E, no curto prazo, diz, a tendência é que isso continue assim. "Se a popularidade do governo não continuar sendo abalada, o mercado vai continuar sem dar bola para a crise", diz Amorim, ao comentar a pesquisa de ontem do CNT/Sensus, que mostrou Lula isolado da repercussão negativa.
Já Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe do HSBC para a América Latina, afirma que os mercados realmente devem seguir tranqüilos, mas que a economia real -o crescimento e os empregos- devem sofrer conseqüências graves. "Há um quadro macroeconômico estável, pelo fato de que o Banco Central vinha conduzindo bem a política monetária", diz o economista, que espera que o mercado continue calmo, com real forte.

Eleições 2006
Para Roger Scher, chefe da divisão de Ratings para a América Latina da agência Fitch, a melhoria dos chamados fundamentos da economia brasileira vai continuar a nortear os investidores. Mas, mesmo com a confiança no desempenho da economia brasileira, Scher não minimiza a situação do governo. "São acusações graves", diz. Ele afirma ainda que a agência vai continuar a observar o desenrolar da crise interna do PT. "Temos muitas dúvidas: Lula vai se candidatar à reeleição? O Campo Majoritário [ala hegemônica do PT] está se desfazendo?"
Mas, ainda na avaliação de Scher, "os investidores acreditam que a crise não deve tocar a equipe econômica", o que fez com que a saída de José Dirceu da Casa Civil não surtisse nenhum impacto nos mercados. Por enquanto, o cenário político básico da agência é a reeleição do presidente Lula.
A agência americana Moody's também vê o quadro atual com serenidade. Em seu relatório mais recente sobre o Brasil, divulgado no final de junho, ela afirmou que "os eventos políticos e ruídos dominarão as manchetes até o dia da eleição [presidencial]. Mas a Moody's não espera que as eleições produzam um choque similar ao de 2002".


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