|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANÇAS
Novo relatório da S&P diz que é preciso ver "floresta, não só as árvores"
Agências de risco ecoam o discurso de "blindagem"
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O discurso recorrente da equipe
econômica de que a crise política
não contaminou a economia encontra respaldo nas principais
agências de risco do mundo.
Os analistas ouvidos pela Folha
argumentam que o superávit em
conta corrente, a política fiscal
apertada, um cenário internacional extremamente favorável e, até
agora, a falta de provas concretas
sustentam a tese da "blindagem".
De acordo com Lisa M. Schineller, principal analista da agência
Standard & Poor's para o Brasil, o
fato de o governo manter-se comprometido com a manutenção
das políticas econômica e fiscal
revela um "amadurecimento" do
país. Além disso, a investigação
das denúncias dentro do sistema
democrático -Congresso, Judiciário e imprensa- dá uma idéia
da forte estrutura institucional do
país, diz a economista.
Autora do relatório "A Floresta
pelas Árvores: Analisando os Desenvolvimentos Políticos no Brasil dentro do Contexto de sua Estrutura Institucional e Fundamentos Sólidos" divulgado pela
S&P ontem, ela afirma que, no
curto prazo, a nota do país, "BB",
segue inalterada. Numa metáfora
ambiental, a agência diz que está
na hora de dar um passo para trás
e, em vez de olhar apenas as árvores, passar a vislumbrar a floresta.
O ambiente de crescimento global, que sustenta o ritmo de expansão das exportações brasileiras, também serve como um escudo para o Brasil. "Existe muita liqüidez nos mercados financeiros
mundiais, os números econômicos têm sido muito bons e não
houve nenhum impacto da crise
sobre a política econômica e nem
sequer sobre perspectivas futuras", diz Ricardo Amorim, do
banco WestLB em Nova York.
E, no curto prazo, diz, a tendência é que isso continue assim. "Se
a popularidade do governo não
continuar sendo abalada, o mercado vai continuar sem dar bola
para a crise", diz Amorim, ao comentar a pesquisa de ontem do
CNT/Sensus, que mostrou Lula
isolado da repercussão negativa.
Já Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe do HSBC para a
América Latina, afirma que os
mercados realmente devem seguir tranqüilos, mas que a economia real -o crescimento e os empregos- devem sofrer conseqüências graves. "Há um quadro
macroeconômico estável, pelo fato de que o Banco Central vinha
conduzindo bem a política monetária", diz o economista, que espera que o mercado continue calmo, com real forte.
Eleições 2006
Para Roger Scher, chefe da divisão de Ratings para a América Latina da agência Fitch, a melhoria
dos chamados fundamentos da
economia brasileira vai continuar
a nortear os investidores. Mas,
mesmo com a confiança no desempenho da economia brasileira, Scher não minimiza a situação
do governo. "São acusações graves", diz. Ele afirma ainda que a
agência vai continuar a observar o
desenrolar da crise interna do PT.
"Temos muitas dúvidas: Lula vai
se candidatar à reeleição? O Campo Majoritário [ala hegemônica
do PT] está se desfazendo?"
Mas, ainda na avaliação de
Scher, "os investidores acreditam
que a crise não deve tocar a equipe econômica", o que fez com que
a saída de José Dirceu da Casa Civil não surtisse nenhum impacto
nos mercados. Por enquanto, o
cenário político básico da agência
é a reeleição do presidente Lula.
A agência americana Moody's
também vê o quadro atual com
serenidade. Em seu relatório mais
recente sobre o Brasil, divulgado
no final de junho, ela afirmou que
"os eventos políticos e ruídos dominarão as manchetes até o dia da
eleição [presidencial]. Mas a
Moody's não espera que as eleições produzam um choque similar ao de 2002".
Texto Anterior: Luís Nassif: Joio e trigo na CPI Próximo Texto: Frases Índice
|