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CASA PRÓPRIA
Cerca de 190 mil inadimplentes podem se beneficiar de desconto na dívida; prejuízo ao Tesouro pode atingir R$ 3 bi
Governo lança plano para mutuário em atraso
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo lançou ontem uma
nova campanha para estimular os
mutuários da casa própria com
dívidas em atraso a refinanciar
seus compromissos. O objetivo é
acelerar as negociações com um
grupo de 187 mil pessoas que contraíram empréstimos no início
dos anos 90, mas que enfrentam
dificuldades nos pagamentos.
O processo é conduzido pela
Emgea (Empresa Gestora de Ativos), estatal criada pelo governo
federal em 2001 justamente para
cobrar essas dívidas atrasadas. O
alvo da campanha lançada ontem
são os contratos de financiamento em que o mutuário, mesmo depois de pagar todas as prestações,
ainda precisa quitar um saldo devedor que, muitas vezes, supera o
valor do próprio imóvel.
Segundo informações da Emgea, os 187 mil contratos a serem
renegociados somam R$ 24,669
bilhões e não possuem cobertura
do FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais). Nesses casos, o valor médio dos imóveis financiados é de R$ 45 mil, e o
saldo devedor médio é de R$ 131
mil. Os números ajudam a explicar o alto nível de inadimplência
-57,4% dos contratos.
"Esses contratos apresentaram
problemas ao longo do tempo,
pois foram fechados há 10, 15
anos", disse o presidente da Emgea, Gilton Pacheco de Lacerda.
Os "problemas" estão relacionados ao uso de diferentes índices
para corrigir as prestações e o saldo devedor dos financiamentos.
Os mutuários que optarem pela
renegociação poderão ter um desconto sobre a dívida. Ele vai variar
de acordo com fatores como valor
do imóvel, valor do empréstimo e
número de prestações já pagas,
podendo chegar a mais de 50%.
Para dar início à renegociação,
os interessados precisarão pagar
uma taxa de R$ 250 para que seja
feita uma nova avaliação do imóvel financiado. O mutuário poderá usar seu saldo no FGTS para
quitar os débitos.
A campanha lançada pela Emgea pretende convencer os mutuários a desistir de suas ações judiciais -dos 187 mil contratos
analisados pela estatal, 85,7 mil
estão sendo contestados na Justiça. Segundo Lacerda, a renegociação entre as partes é mais vantajosa por ser mais barata e levar menos tempo para ser concluída.
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que o refinanciamento dos contratos que
não possuem cobertura do FCVS
podem causar um prejuízo de
cerca de R$ 3 bilhões ao governo.
Levy afirmou, porém, que a medida é positiva por trazer mais
transparência às contas públicas.
"O que nós estamos fazendo é
uma operação fiscal para matar
um esqueleto", disse o secretário.
"Não é um subsídio para dar a casa de graça. O que estamos fazendo é dar uma perspectiva de pagamento aos contratos."
Ao todo, cerca de 900 mil mutuários possuem dívidas com a
Emgea. Criada como parte do
programa de socorro aos bancos
federais instituído em 2001, os
contratos de financiamento habitacional que estão sob responsabilidade da estatal devem causar
um prejuízo de R$ 11,4 bilhões ao
governo, segundo estimativa da
própria Emgea. O valor real das
perdas só deve ser conhecido
após o encerramento de todos os
contratos, em 2031.
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