São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Encontro é o 2º em menos de um mês que acaba antes do previsto; negociadores crêem em acordo até outubro

Reunião UE/Mercosul termina em impasse

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Terminou em fracasso mais uma rodada de negociações entre o Mercosul e a União Européia para a criação de uma área de livre comércio entre as duas regiões. Em menos de um mês, é o segundo encontro que termina antes do previsto, pois um impasse impedia o andamento das conversas.
Apesar das dificuldades, os diplomatas dos dois lados dizem ainda ser possível fechar acordo até outubro, prazo inicialmente acertado. Eles acreditam em conversas políticas entre os ministros como forma de superar a crise.
"Infelizmente, chegamos ao final sem resultados concretos. É sempre uma frustração para negociadores", disse o principal negociador da UE, Karl Falkenberg, em entrevista em Brasília.
Pouco menos de uma hora depois, o coordenador do Mercosul nas negociações, o brasileiro Regis Arslanian, repetia frase parecida: "Existe, evidentemente, um sentimento de frustração".
Em meados de julho, em Bruxelas, os representantes do Mercosul se levantaram da mesa de negociação, após considerar inaceitável a proposta européia para o setor agrícola. Os três dias de negociações em Brasília, iniciados na terça-feira, também acabaram antes da hora. "Nós imaginávamos ter reuniões todos os dias até as 22h", disse Arslanian, ao comentar que o encontro acabou, ontem, por volta das 13h.
O problema nesta semana não foi a qualidade das ofertas de cada lado, mas divergências de como negociar. Os europeus e os sócios do Mercosul afirmam que não há como avançar, pois dizem não conhecer as concessões que o outro está disposto a fazer.
"Eu deixei muito claro para [o comissário de Comércio da UE] Pascal Lamy que, se nós não fossemos ter uma oferta agrícola que eu pudesse mensurar, nós não teríamos condições de avançar", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Falta de confiança
A falta de confiança é a principal explicação para o impasse. O Mercosul e a União Européia disputam para ver quem será o primeiro a revelar seu pacote de ofertas, pois temem não receber as contrapartidas que esperam.
"Há algo de verdadeiro nessa afirmação", disse Falkenberg, ao ser questionado se faltava confiança na contrapartida do Mercosul para o pacote europeu. "Em certa medida, houve quebra de confiança", disse também o coordenador da Argentina nas negociações, Eduardo Sigal.
Os europeus dizem que em duas ocasiões entregaram uma proposta para o Mercosul e receberam de volta uma oferta que decepcionou. Agora, propuseram que cada lado desvendasse uma a uma as suas novas concessões.
Arslanian, por sua vez, disse que foi o Mercosul que teve de esperar, em abril, mais de um mês para receber uma proposta agrícola completa da UE, após ter entregue a sua na íntegra e de uma só vez. "Não podemos correr o risco de apresentar [nossas concessões] no escuro. Precisamos saber o preço que vai ser pago para nós."
A UE chegou a apresentar uma proposta melhorada para o setor de carnes, que foi vista como um sinal positivo, no primeiro dia de negociação. No dia seguinte, o Mercosul propôs que os dois lados apresentassem de uma vez seus pacotes. Falkenberg disse que tinha ordem da Comissão Européia de não oferecer concessão sem antes receber alguma coisa.


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