São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

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COMBUSTÍVEIS
Crise é mais aguda no Reino Unido, mas outros países também sofrem com manifestações contra impostos
Falta de gasolina ameaça parar a Europa

Reuters
Caminhoneiros protestam em uma rua de Edimburgo, Escócia


RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES

A onda de protestos contra os preços do combustível toma conta da Europa. Caminhoneiros bloqueiam as estradas belgas e holandesas, enquanto as ruas são tomadas por manifestantes na Alemanha, Espanha e Irlanda.
O Reino Unido vive um estado de caos. Mais de seis mil postos ficaram sem gasolina.
Muitos hospitais cancelaram atendimento que não fosse de emergência. Os supermercados alertaram que pode faltar comida nos próximos dias. Pelas contas das companhias de petróleo, todo o país ficará sem combustível hoje, se nada for feito.
O primeiro-ministro Tony Blair anunciou, no final da tarde, medidas de emergência para enfrentar a crise do combustível. Blair forçou as companhias de petróleo a obrigar os caminhoneiros a voltar a fazer as entregas, com a garantia que terão apoio policial.
"Não há desculpa para esse tipo de ação, que está prejudicando severamente as pessoas, os negócios e os serviços de emergência", disse Blair. "Protesto legítimo é uma coisa, outra é parar o país."
Blair disse acreditar que a situação vai voltar ao normal ao final do dia de hoje, mas ontem à noite isso não parecia tão certo. Mesmo depois do discurso de Blair, a grande maioria dos caminhões-tanque carregados com combustível não saiu do lugar.
O país está parando porque caminhoneiros, motoristas de táxi e fazendeiros resolveram bloquear a entrada das refinarias e dos depósitos de combustível. Seu objetivo é protestar contra a alta do preço da gasolina e do diesel, além de cobrar redução dos impostos sobre combustível.
Além disso, o problema foi agravado pelo pânico de motoristas que formaram longas filas nos postos para se abastecer preventivamente.
O Reino Unido cobra quase 80% de impostos sobre o combustível. É um dos impostos mais altos da Europa e nem se compara aos cerca de 30% cobrados nos Estados Unidos.
"A crise atual é deflagrada pela alta do preço do óleo no mercado internacional, mas está diretamente ligada com os altos impostos sobre combustível no país", diz Takin Manoucher, do Centre for Global Energy Studies. "Nem quando o barril do petróleo caiu a US$ 10,00, em 1998, o preço do combustível baixou no Reino Unido."

União Européia
As manifestações obrigaram os ministros dos Transportes da União Européia a convocar uma reunião para o dia 21 com o objetivo de discutir a tributação sobre os combustíveis na região.
O centro de Bruxelas está deserto devido ao protesto dos caminhoneiros, taxistas e operadoras de transportes públicos. A principal refinaria do país também está sitiada. As autoridades belgas também descartam a idéia de ceder às pressões e baixar os tributos sobre os combustíveis.
Na Holanda, as manifestações fecharam as rodovias nos arredores de Roterdã e no leste do país.
Na Irlanda, a onda de protestos levou o primeiro-ministro Bertie Ahren, a adequar sua agenda para receber os representantes dos transportadores hoje. O objetivo do encontro é evitar a paralisação prometida para sexta-feira.
O alto valor do petróleo é o principal componente a elevar o custo de vida na Alemanha, Espanha e França, países que aderiram à moeda única e têm metas rígidas de inflação.
A França, onde tudo começou na semana passada, conseguiu driblar sua crise doméstica ao determinar corte de 15% nos impostos para o óleo diesel. Caminhoneiros franceses haviam bloqueado refinarias, causando uma crise de abastecimento no país até serem atendidos pelo governo.
O acordo entre manifestantes e o governo francês custará US$ 395 milhões aos cofres públicos pelos próximos dois anos.
A conquista dos manifestantes franceses -caminhoneiros e agricultores principalmente- encorajam os protestos em outros lugares da União Européia.


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