São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Para economistas, aumento na Selic atrairia mais recursos externos e ajudaria a conter a inflação

Juro maior derruba o dólar, dizem analistas

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da sinalização emitida por ministros e membros do governo de que os juros deverão subir, o câmbio valorizado poderá segurar e até reverter a tendência de alta antes do final do ano, segundo analistas.
Mesmo que na quarta-feira o Copom (Comitê de Política Monetária) aumente a taxa básica, a Selic, o dólar em queda deverá impedir que os juros ultrapassem o patamar de 16,5% até o final do ano, como projetam alguns economistas. Com o câmbio se valorizando muito e a inflação começando a desacelerar em setembro e, possivelmente, mais ainda em outubro, segundo economistas, a autoridade monetária poderá mudar o discurso atual.
No mercado futuro, porém, os juros continuam a subir, embutindo aposta de investidores de elevação de 0,25 a 0,50 ponto percentual na quarta-feira. Boa parte dos analistas de bancos afirma esperar alta de juros.
Se essa perspectiva se confirmar, o Brasil deverá atrair um número crescente de investidores estrangeiros porque já paga uma das taxas mais altas do mundo, 16% ao ano. Segundo pesquisa da Bloomberg em 37 países, a taxa brasileira só perde para a da Turquia, que está em 20% ao ano.
A diferença entre os juros pagos no Brasil com Selic a 16% e os juros no exterior é muito grande. A média dos títulos da dívida soberana em dólar no exterior paga 8,5%. Nos títulos com prazo de vencimento menor, pouco mais de 2%. Vale a pena pegar empréstimo no exterior e aplicar no país.
"Se o governo aumentar os juros, melhor ainda para esse investidor externo. O câmbio vai se apreciar de tal forma, com o aumento do fluxo de capital externo, que talvez na próxima reunião o BC mude de idéia e não suba mais a Selic. Pode até vir a ter de reduzi-la ainda neste ano", afirma Paulo Tenani, estrategista do UBS Wealth Management.
Embora o câmbio tenha tido alta de 0,1% na sexta-feira, ao fechar em R$ 2,903, em um movimento atípico, segundo analistas, a moeda norte-americana que tem se mantido em níveis baixos, pode recuar mais e bater em R$ 2,85 em breve.
Com juros subindo, pode chegar em R$ 2,75, segundo projeção do UBS. A queda machuca um pouco as exportações, ainda mais porque em três meses, o câmbio veio de R$ 3,17 para R$ 2,90, uma apreciação do real de 8,5%.

Inflação
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que baliza as decisões do Copom, registrou inflação de 0,69% em agosto e desacelerou em comparação a julho, quando teve alta de 0,91%.
Para os defensores da manutenção de juros, a inflação não é de demanda. Vem do aumento de preços de commodities no exterior e está relacionada ao bom desempenho das exportações. Além disso, a alta não é generalizada e os repasses não se disseminaram, segundo afirmam.
Quem aposta na alta dos juros entende que houve alguma deterioração nos preços de insumos no atacado, que a utilização da capacidade instalada está elevada em muitos setores, além de as expectativas de inflação para 12 meses continuarem acima da meta.

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