São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Brasil passa no teste, mas não supera gargalo

Com bom desempenho, país ganha destaque no mundo, mas problemas estruturais podem atrapalhar avanço no longo prazo

Para especialistas, aumento dos gastos permanentes do governo é uma das maiores distorções na política do país e pode elevar juros

DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem tsunami nem marolinha. No início da crise, parecia que a economia brasileira ia sucumbir, mas, um ano depois, o país emerge das turbulências escapando do pior. Para alguns setores da indústria, entretanto, segue o tempo ruim.
A taxa de juros é a menor da história. Os depósitos compulsórios foram reduzidos, acirrou-se a concorrência entre bancos privados e públicos, e a percepção geral do mundo é que o Brasil resistiu bem às intempéries e merece receber investimentos -porém, a entrada de recursos acentua a apreciação do real e atrapalha mais a vida dos exportadores.
"Como o descolamento não é possível, usamos a palavra "diferenciação". A crise destacou o Brasil dos demais, já que o seu desempenho tem sido muito melhor do que o de outros países", diz Ricardo Carneiro, professor da Unicamp.
Com receio de uma explosão da inadimplência, os bancos privados cortaram o crédito para clientes de maior risco e priorizaram as grandes empresas que se financiavam no exterior. O resultado foi empoçamento do crédito e aumento dos "spreads" [diferença entre as taxas de captação dos bancos e as repassadas aos clientes].
Para reverter o quadro, o governo colocou os bancos públicos para emprestar e ganhar o mercado deixado pelas demais instituições. Às empresas exportadoras, que não conseguiam mais captar recursos e se financiar, o governo forneceu linhas especiais. Agora, os bancos privados buscam reduzir margens para retomar o espaço perdido no crédito.
"As políticas adotadas foram bem-sucedidas. Somente o corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos carros garantiu o emprego de 50 mil a 60 mil pessoas. A experiência mundial evidenciou que políticas macroeconômicas contracíclicas são políticas de Estado, e não de governos", afirma João Sicsú, do Ipea.
A despeito dos êxitos de curto prazo, no entanto, algumas distorções continuam atravancando o caminho para o desenvolvimento perene e sustentável do país. Uma das maiores, segundo especialistas, diz respeito aos gastos do governo.
Para Claudio Haddad, presidente do Insper, o nível atual da taxa de juros, entre 4% e 5% reais ao ano, não vai durar muito. "Se a política fiscal ficar como está, provavelmente teremos que voltar a subir a Selic em algum momento do ano que vem. Investimentos temporários -como em projetos de infraestrutura- são indicados em momentos de dificuldade. Não foi esse o tipo de despesa realizada, entretanto", disse.
"Nessa área, não há muito o que fazer. Não tem como voltar para trás o aumento salarial do servidor ou o do salário mínimo", afirma Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do Banco Central.
A retirada dos benefícios tributários do IPI deve adiar o momento em que o BC tornará a puxar a taxa para cima, na opinião de Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. "Muita gente que pretendia adquirir tais bens antecipou as compras, o que alivia eventuais pressões inflacionárias."
"O melhor momento para retirar esses benefícios é quando a iniciativa privada já tiver reagido com elevação de consumo e investimento", diz Sicsú.
"Marolinha não foi. O Brasil começou a se recuperar agora e ainda está longe de onde chegou no ano passado", afirma Schwartsman.


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