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Brasil passa no teste, mas não supera gargalo
Com bom desempenho, país ganha destaque no mundo, mas problemas estruturais podem atrapalhar avanço no longo prazo
Para especialistas, aumento
dos gastos permanentes do
governo é uma das maiores
distorções na política do
país e pode elevar juros
DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem tsunami nem marolinha. No início da crise, parecia
que a economia brasileira ia sucumbir, mas, um ano depois, o
país emerge das turbulências
escapando do pior. Para alguns
setores da indústria, entretanto, segue o tempo ruim.
A taxa de juros é a menor da
história. Os depósitos compulsórios foram reduzidos, acirrou-se a concorrência entre
bancos privados e públicos, e a
percepção geral do mundo é
que o Brasil resistiu bem às intempéries e merece receber investimentos -porém, a entrada de recursos acentua a apreciação do real e atrapalha mais
a vida dos exportadores.
"Como o descolamento não é
possível, usamos a palavra "diferenciação". A crise destacou o
Brasil dos demais, já que o seu
desempenho tem sido muito
melhor do que o de outros países", diz Ricardo Carneiro, professor da Unicamp.
Com receio de uma explosão
da inadimplência, os bancos
privados cortaram o crédito para clientes de maior risco e
priorizaram as grandes empresas que se financiavam no exterior. O resultado foi empoçamento do crédito e aumento
dos "spreads" [diferença entre
as taxas de captação dos bancos
e as repassadas aos clientes].
Para reverter o quadro, o governo colocou os bancos públicos para emprestar e ganhar o
mercado deixado pelas demais
instituições. Às empresas exportadoras, que não conseguiam mais captar recursos e se
financiar, o governo forneceu
linhas especiais. Agora, os bancos privados buscam reduzir
margens para retomar o espaço
perdido no crédito.
"As políticas adotadas foram
bem-sucedidas. Somente o corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos
carros garantiu o emprego de
50 mil a 60 mil pessoas. A experiência mundial evidenciou
que políticas macroeconômicas contracíclicas são políticas
de Estado, e não de governos",
afirma João Sicsú, do Ipea.
A despeito dos êxitos de curto prazo, no entanto, algumas
distorções continuam atravancando o caminho para o desenvolvimento perene e sustentável do país. Uma das maiores,
segundo especialistas, diz respeito aos gastos do governo.
Para Claudio Haddad, presidente do Insper, o nível atual da
taxa de juros, entre 4% e 5%
reais ao ano, não vai durar muito. "Se a política fiscal ficar como está, provavelmente teremos que voltar a subir a Selic
em algum momento do ano que
vem. Investimentos temporários -como em projetos de infraestrutura- são indicados
em momentos de dificuldade.
Não foi esse o tipo de despesa
realizada, entretanto", disse.
"Nessa área, não há muito o
que fazer. Não tem como voltar
para trás o aumento salarial do
servidor ou o do salário mínimo", afirma Alexandre
Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor
do Banco Central.
A retirada dos benefícios tributários do IPI deve adiar o
momento em que o BC tornará
a puxar a taxa para cima, na
opinião de Bráulio Borges, economista da LCA Consultores.
"Muita gente que pretendia adquirir tais bens antecipou as
compras, o que alivia eventuais
pressões inflacionárias."
"O melhor momento para retirar esses benefícios é quando
a iniciativa privada já tiver reagido com elevação de consumo
e investimento", diz Sicsú.
"Marolinha não foi. O Brasil
começou a se recuperar agora e
ainda está longe de onde chegou no ano passado", afirma
Schwartsman.
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