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Mulher leva Nobel de Economia
pela 1ª vez
Americana Elinor Ostrom é laureada por trabalho sobre gestão comunitária de recursos e divide prêmio com conterrâneo
"Nobel da crise" prestigia pesquisas menos abstratas, sobre como pessoas podem cooperar umas com as outras
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
O Prêmio Nobel de Economia, criado em 1969, foi concedido pela primeira vez a uma
mulher. Elinor Ostrom, 76,
professora da Universidade de
Indiana (EUA), é doutora em
ciência política e pesquisa a
gestão de recursos por comunidades. Ela dividiu o prêmio
com Oliver Williamson, 77,
professor da Universidade da
Califórnia e doutor em economia. Ele estuda tomadas de decisão em empresas.
O Nobel deste ano registrou
um número recorde de prêmios entregues a mulheres. No
total, foram cinco pesquisadoras laureadas em áreas como
química, medicina, literatura e
economia.
No ano da crise, o comitê deixou de lado trabalhos focados
em macroeconomia e em modelos abstratos. Os vencedores
desenvolveram pesquisas de
campo que procuram compreender como as pessoas cooperam entre si fora dos mercados convencionais. Um dos fatores em comum entre os trabalhos é a questão da regulação.
Para o comitê do prêmio, embora a teoria econômica tenha
iluminado de forma abrangente as virtudes e as limitações
dos mercados, tradicionalmente prestou menos atenção a outros arranjos institucionais.
O trabalho de Ostrom tem
implicações em políticas ambientais e questões relacionadas ao aquecimento global. Seu
trabalho derruba a tese de que,
quando comunidades administram recursos ou bens finitos,
acabarão por destruí-los, e que
o melhor seria uma regulação
centralizada ou privatização.
Com base em exemplos de
gestão de áreas de floresta, suprimento de água e pasto, Ostrom comprovou que a gestão
comunitária pode ter resultados melhores do que o previsto.
A pesquisadora se mostrou
surpresa com o prêmio: "Que
maneira de começar uma segunda de manhã!".
Burocratas
Em entrevistas, comentou
seu trabalho: "Desde que nós
descobrimos que algumas vezes os burocratas não têm as informações corretas, enquanto
cidadãos e usuários dos recursos têm, nós esperamos que isso ajude a encorajar um senso
de capacidade e de poder".
Na prática, o trabalho de Ostrom indica que políticas públicas, principalmente ambientais, têm mais resultados quando são baseadas na colaboração
entre as partes, e não na simples imposição de regras. Em
um trabalho de 2006, afirma
que, quando os usuários estão
engajados nas decisões referentes a regras que afetam a
maneira como usam os recursos, a probabilidade de seguirem o que foi definido e monitorarem os outros é bem maior
do que quando uma autoridade
simplesmente impõe normas.
Já o trabalho de Williamson
procura explicar o processo de
tomada de decisão das empresas e como elas se estruturam.
As diversas hipóteses estudadas explicariam, por exemplo,
por que uma empresa dependente de uma matéria-prima
decide comprar o produto, no
mercado livre, do fornecedor
que oferecer o menor custo, ou
se vai definir um contrato de
longo prazo com um único fornecedor ou ainda se vai promover uma fusão para contar com
o produto na própria empresa.
Segundo a pesquisa, o fator
que define essas escolhas é o
custo de transação. Na prática,
em mercados de maior competição faz mais sentido negociar
com parceiros externos. Em
mercados menos eficientes,
com menos competição, pode
ser melhor à empresa desenvolver toda a cadeia, da matéria-prima ao produto final.
"Williamson mostrou que
muito do que pensávamos como comportamento anticompetitivo pode ser uma resposta
aos custos de transação", disse
o economista Alex Tabarrok, da
George Mason University.
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