São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 2002

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Alimentos pressionam taxa da Fipe

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A inflação apresentou nova surpresa no início deste mês em São Paulo. Os preços dos alimentos dispararam, atingindo taxa bem acima das expectativas.
Quando se esperava que as pressões no setor se acomodassem, a alta nos últimos 30 dias terminados em 7 deste mês foi de 4,07%, a maior desde novembro de 94, no início do Plano Real. A taxa média de inflação do período foi de 1,55%, segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Essa forte aceleração dos alimentos, se persistir, obrigará a Fipe a rever para cima a previsão de taxa de inflação deste mês, que é de 1%. Uma nova revisão da taxa afetará também a estimativa de 6,5% para o ano. O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor, Heron do Carmo, diz que só vai rever essa taxa após saber qual será o comportamento dos preços dos alimentos na segunda semana deste mês.
As causas desses reajustes de preços já são conhecidas: câmbio, entressafra e aumentos de preços de matérias-primas no exterior. O economista da Fipe acrescenta uma nova a esse rol: mudança de posição das indústrias na reta final do governo FHC.
A entrada de um novo governo no próximo ano gera algumas incertezas no setor. Com isso, as indústrias forçam reajustes ainda neste final de ano para iniciar 2003 com preços acertados. Algumas indústrias temem um controle maior do governo sobre os preços no próximo ano.
Essa nova posição das indústrias é para repor as perdas durante o Real, diz Heron. Ele cita o caso do açúcar, que subiu 19% nos últimos 30 dias, mas acumula reajustes de apenas 2,85% nos últimos 12 meses e de 2,87% em todo o Plano Real. Caso mais curioso é o do café, diz o economista. O produto, que teve reajuste de 4,5% nos últimos 30 dias, está com perda nominal de 23% no Real.
Heron do Carmo diz que o câmbio continua imprimindo forte pressão aos preços neste final de ano. Um desses efeitos pode ser visto nos preços dos derivados de soja. O óleo de soja acumulou aumento de 12,5% na primeira quadrissemana deste mês (últimos 30 dias até 7 deste mês) e já atinge reajuste de 45,5% em 12 meses.
A alta dos preços é tão forte nas últimas semanas que não deverá ter continuidade nos próximos meses. A população empobreceu e a demanda deverá cair ainda mais, segundo Heron. Mas, mesmo que o câmbio recue para os patamares previstos de R$ 3 a R$ 3,20, os preços ainda vão demorar para refletir essa queda. "Eles [os preços] sempre sobem depressa e caem lentamente", diz Heron.
Nas contas da Fipe, grande parte da pressão inflacionária esperada para 2003, devido ao câmbio, já está ocorrendo neste ano. Os preços vão iniciar o próximo ano com ressaca e sem forças para novas altas, diz Heron do Carmo.
A elevação da inflação se deve, ainda, à liberação de aumentos permitidos pelo governo nos setores de combustível e de remédios. "O governo atual está estendendo um tapete vermelho estrelado para o próximo", diz Heron.

INPC
A inflação medida pelo IBGE com base no consumo das famílias mais pobres -renda de até oito salários mínimos, ou R$ 1.600- foi maior do que a oficial. O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) registrou, em outubro, alta de 1,57%. É a maior alta do índice desde dezembro de 1995, quando havia sido de 1,65%.
No INPC, os alimentos alcançaram uma alta de 3,10%, superior à registrada no IPCA, cuja pesquisa é feita com base na cesta de consumo de famílias que ganham até 40 mínimos (R$ 8.000). Foi a maior alta dos alimentos no INPC desde novembro de 1994, segundo o IBGE.
No período de janeiro a outubro a alta do INPC alcança 8,06%, acima dos 7,25% registrados no mesmo período do ano passado. Nos 12 meses encerrados em outubro a alta é de 10,26%.


Colaborou a Sucursal do Rio

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