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Alimentos pressionam taxa da Fipe
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A inflação apresentou nova surpresa no início deste mês em São
Paulo. Os preços dos alimentos
dispararam, atingindo taxa bem
acima das expectativas.
Quando se esperava que as
pressões no setor se acomodassem, a alta nos últimos 30 dias terminados em 7 deste mês foi de
4,07%, a maior desde novembro
de 94, no início do Plano Real. A
taxa média de inflação do período
foi de 1,55%, segundo dados da
Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Essa forte aceleração dos alimentos, se persistir, obrigará a Fipe a rever para cima a previsão de
taxa de inflação deste mês, que é
de 1%. Uma nova revisão da taxa
afetará também a estimativa de
6,5% para o ano. O coordenador
do Índice de Preços ao Consumidor, Heron do Carmo, diz que só
vai rever essa taxa após saber qual
será o comportamento dos preços
dos alimentos na segunda semana deste mês.
As causas desses reajustes de
preços já são conhecidas: câmbio,
entressafra e aumentos de preços
de matérias-primas no exterior. O
economista da Fipe acrescenta
uma nova a esse rol: mudança de
posição das indústrias na reta final do governo FHC.
A entrada de um novo governo
no próximo ano gera algumas incertezas no setor. Com isso, as indústrias forçam reajustes ainda
neste final de ano para iniciar
2003 com preços acertados. Algumas indústrias temem um controle maior do governo sobre os
preços no próximo ano.
Essa nova posição das indústrias é para repor as perdas durante o Real, diz Heron. Ele cita o caso
do açúcar, que subiu 19% nos últimos 30 dias, mas acumula reajustes de apenas 2,85% nos últimos
12 meses e de 2,87% em todo o
Plano Real. Caso mais curioso é o
do café, diz o economista. O produto, que teve reajuste de 4,5%
nos últimos 30 dias, está com perda nominal de 23% no Real.
Heron do Carmo diz que o câmbio continua imprimindo forte
pressão aos preços neste final de
ano. Um desses efeitos pode ser
visto nos preços dos derivados de
soja. O óleo de soja acumulou aumento de 12,5% na primeira quadrissemana deste mês (últimos 30
dias até 7 deste mês) e já atinge
reajuste de 45,5% em 12 meses.
A alta dos preços é tão forte nas
últimas semanas que não deverá
ter continuidade nos próximos
meses. A população empobreceu
e a demanda deverá cair ainda
mais, segundo Heron. Mas, mesmo que o câmbio recue para os
patamares previstos de R$ 3 a R$
3,20, os preços ainda vão demorar
para refletir essa queda. "Eles [os
preços] sempre sobem depressa e
caem lentamente", diz Heron.
Nas contas da Fipe, grande parte da pressão inflacionária esperada para 2003, devido ao câmbio,
já está ocorrendo neste ano. Os
preços vão iniciar o próximo ano
com ressaca e sem forças para novas altas, diz Heron do Carmo.
A elevação da inflação se deve,
ainda, à liberação de aumentos
permitidos pelo governo nos setores de combustível e de remédios. "O governo atual está estendendo um tapete vermelho estrelado para o próximo", diz Heron.
INPC
A inflação medida pelo IBGE
com base no consumo das famílias mais pobres -renda de até
oito salários mínimos, ou R$
1.600- foi maior do que a oficial.
O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) registrou,
em outubro, alta de 1,57%. É a
maior alta do índice desde dezembro de 1995, quando havia sido de 1,65%.
No INPC, os alimentos alcançaram uma alta de 3,10%, superior à
registrada no IPCA, cuja pesquisa
é feita com base na cesta de consumo de famílias que ganham até
40 mínimos (R$ 8.000). Foi a
maior alta dos alimentos no INPC
desde novembro de 1994, segundo o IBGE.
No período de janeiro a outubro
a alta do INPC alcança 8,06%, acima dos 7,25% registrados no
mesmo período do ano passado.
Nos 12 meses encerrados em outubro a alta é de 10,26%.
Colaborou a Sucursal do Rio
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