|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSGÊNICOS
Deputados aprovam MP que permite uso de soja modificada na atual safra; texto tem de ser aprovado no Senado
Câmara dificulta a cobrança de royalties
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados aprovou ontem a medida provisória
que autoriza o plantio e comercialização de soja transgênica na safra 2003/2004. Entre as modificações incluídas no texto pelos parlamentares está a que dificulta a
cobrança de royalties pela Monsanto, empresa que detém a tecnologia de soja transgênica.
A empresa anunciou a intenção
de cobrar royalties sobre os grãos
que serão colhidos pelos agricultores no próximo ano. O texto
aprovado exige que a cobrança
incida sobre a semente da soja. Na
prática, isso não poderá ocorrer
na atual safra, pois os produtores
compraram sementes contrabandeadas da Argentina, sem registro
que permita a exigência de royalties pela Monsanto.
"Os produtores já pagaram pelo
direito de usar a tecnologia quando adquiriram as sementes na Argentina. Essa questão vai para a
OMC [Organização Mundial do
Comércio]", disse o Paulo Pimenta (PT-RS), relator da matéria.
De acordo com Pimenta, um saco de semente produz 50 sacos de
grãos, o que aumentaria muito a
rentabilidade para a empresa. Ele
entende que não cabe cobrança
de royalties na atual safra.
A cobrança de royalties no futuro será regulamentada pela lei de
biossegurança, que vai reger o
plantio e a comercialização de todos os produtos transgênicos e está em tramitação no Congresso.
Outra alteração inserida pelos
deputados é a autorização para a
multiplicação de sementes de variedades de soja transgênica desenvolvidas por instituições de
pesquisa brasileiras.
A comercialização dessas sementes fica vetada até a existência
de legislação específica que as libere -no caso, o projeto de lei de
biossegurança. A MP aprovada
permite que essas sementes tenham registro provisório no Ministério da Agricultura.
Na prática, essa regra, que não
constava no texto original enviado pelo governo, permite a criação de um estoque de sementes
transgênicas. A autorização foi inserida no projeto de lei de conversão da MP 131, que ainda terá de
ser aprovada no Senado. A votação foi simbólica, sem identificação nominal dos deputados.
Segundo Pimenta, há 42 variedades de soja transgênicas desenvolvidas pela Embrapa, Fundação
Mato Grosso, Coodetec -uma
associação de cooperativas do Paraná- e pela subsidiária da Monsanto no Brasil. Todas elas são resistentes ao herbicida glifosato.
"Com a proibição da multiplicação de sementes não teríamos
nos próximos anos produção para o cultivo comercial, causando
um prejuízo incalculável ao país,
que estará privado desse insumo
por pelo menos três anos", afirmou o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR).
Pimenta disse que essas sementes estão em fase de desenvolvimento e só estarão prontas para o
plantio daqui a três anos.
A modificação foi inserida no
parecer do relator momentos antes da votação, com apoio da bancada ruralista. O Ministério do
Meio Ambiente, deputados do
núcleo agrário do PT e ambientalistas foram contrários à medida.
A MP foi editada para resolver o
problema de produtores, sobretudo do Rio Grande do Sul, que já
usam sementes geneticamente
modificadas, contrabandeadas da
Argentina, há cerca de seis anos.
A legislação em vigor proíbe o uso
de sementes transgênicas.
Dos 93 deputados do PT, 22 encaminharam uma declaração de
voto contrária ao parecer de Pimenta à mesa diretora da Casa.
Texto Anterior: Fraudes do capital: Ex-diretores da Elf são condenados na França Próximo Texto: Produtores do RS e Monsanto não chegam a acordo Índice
|