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COMÉRCIO MUNDIAL
Sul-americanos e europeus definem cronograma de reuniões para tentar acordo até outubro de 2004
UE fará primeira oferta agrícola em abril
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
A União Européia e o Mercosul
acertaram ontem o "Programa de
Bruxelas", detalhado cronograma
de reuniões para tentar fechar um
acordo de livre comércio até outubro de 2004. O programa prevê
já para abril a apresentação de
ofertas de abertura aperfeiçoadas,
"inclusive em agricultura".
É a primeira vez que os europeus acenam a seus potenciais sócios sul-americanos com uma
abertura agrícola. No esboço do
"Programa de Bruxelas" inicialmente sugerido pela União Européia, a palavra "agricultura" não
aparecia.
Derrubar ou reduzir o formidável arsenal protecionista da UE
em agricultura é, de longe, a principal reivindicação do Mercosul.
Por isso, o chanceler Celso Amorim festejou o resultado: "É importante que tenha sido reconhecida a prioridade para o tema
agrícola".
Claro que reconhecer prioridade não é o mesmo que fazer propostas concretas de abertura. Embora as conversas entre os representantes dos 19 países (15 europeus e 4 sul-americanos) tenham
tratado de cotas (uma forma de os
sul-americanos terem mais acesso ao mercado europeu), o fato
objetivo é que ficou para uma reunião entre 1º e 5 de dezembro próximo a primeira troca de pontos
de vista sobre modalidades da negociação agrícola.
"Modalidades" é uma espécie
de pré-negociação entre os dois
blocos de países.
Concessões
De todo modo, o comissário europeu para o Comércio, o francês
Pascal Lamy, deixou claro que a
União Européia está disposta a
"fazer concessões no modelo
OMC-plus, mas só tem um bolso". Por isso, sugeriu a busca de
uma combinação "astuta" entre
as negociações na Organização
Mundial do Comércio e a negociação birregional com o Mercosul, que permita aos europeus
"não pagar duas vezes" (pela
abertura agrícola).
Traduzindo: se a Europa fizer
primeiro concessões ao Mercosul,
terá que estendê-las aos demais
países-membros da OMC (hoje
são 148), pagando, portanto, dois
preços pela abertura agrícola.
Se, no entanto, houver um acordo agrícola na OMC, a Europa faria ao Mercosul concessões mais
suculentas (OMC-plus).
Os dois lados revelaram pressa
em tentar concluir a negociação
até outubro de 2004, o que leva
em conta que termina no fim do
próximo ano o mandato da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado.
Reuniões
Por isso, marcaram cinco reuniões do Comitê de Negociações
Birregionais, o principal órgão
técnico, de dezembro de 2003 a
julho de 2004, e duas reuniões ministeriais, a instância mais elevada, uma em maio, no México, e
outra em outubro, na Europa.
Mais: já estava prevista para 28 e
29 de maio, em Guadalajara (México), a nova cúpula entre União
Européia e América Latina/Caribe, durante a qual haverá também
uma cúpula entre os europeus e o
Mercosul.
É nessa reunião que se espera
anunciar se será possível ou não
fechar os entendimentos até outubro. Trata-se de um evento de
mídia espetacular: será a primeira
vez em que a nova União Européia, com 25 membros em vez dos
atuais 15, se apresentará fora das
fronteiras européias, com todos
os seus governantes (a adesão dos
dez novos sócios se dará no dia 1º
de maio).
Jura de amor
Do ponto de vista político, coube a Chris Patten, comissário para
Assuntos Externos, a mais enfática jura de amor ao Mercosul:
"Ninguém deve subestimar a importância que atribuímos à conclusão de um ambicioso acordo
com o Mercosul", disparou.
Para o Mercosul, uma eventual
abertura agrícola seria mais importante que idêntico passo na
negociação da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas.
"Os modelos econométricos
mostram que é com a União Européia que uma liberalização total
traria melhores resultados para o
agronegócio, já que suas proteções tarifárias são mais altas e
mais abrangentes. Grãos e carnes,
por exemplo, são ultra-protegidos na União Européia, mas não o
são nos Estados Unidos, exceto
no que se refere a restrições sanitárias. E os subsídios domésticos
na Europa são três vezes mais elevados", diz Marcos Sawaya Jank,
especialista em negociação agrícola.
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