São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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MERCADO ABERTO

Real forte afeta lucro da indústria

A supervalorização do real já começa a custar caro à indústria. O ganho dessas companhias caiu significativamente no terceiro trimestre, segundo estudo do Iedi com o resultado no período de 24 empresas de dez diferentes setores.
O lucro das empresas caiu de R$ 2,7 bilhões para R$ 2,3 bilhões na comparação com o terceiro trimestre de 2004 (-14,3%). Ou seja, a valorização do real respondeu por parte significativa da perda de R$ 400 milhões.
De acordo com o Iedi, o lucro dessas empresas sobre a receita líquida caiu de 16,44% para 13,74%. A queda da rentabilidade sobre o patrimônio líquido foi de 7,44% para 5,99%.
Apesar do lucro menor, a receita cresceu 3,4% em média na comparação dos períodos. As empresas estão vendendo mais, mas seus lucros são menores.
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Iedi, diz que cerca de 70% das empresas do estudo são afetadas de forma direta pela situação cambial. Segundo o Iedi, o real se valorizou 20,4% no período. O trabalho avaliou os seguintes setores: bebidas e fumo, papel, siderurgia, química, metalurgia, material de transporte, têxtil, máquinas e equipamentos, calçados e cosméticos.
São setores, segundo ele, que sofrem influência do câmbio seja por serem exportadores ou por enfrentarem a concorrência de empresas de fora do país.
A boa notícia é que a dívida das empresas caiu com a valorização do câmbio, já que parte expressiva desses recursos sofre efeito da variação cambial. O endividamento total dessas empresas caiu de 27% para 25,21% sobre o ativo total, e de 59,1% para 54,2% sobre o patrimônio líquido.
Ele observa que o cenário de valorização cambial é pouco propício a estimular novos investimentos, devido ao risco iminente de desvalorização. "Com isso, os agentes empresariais têm tendência ao conservadorismo com relação a investimentos."

AMEAÇA AO NATAL
As greves de funcionários públicos com cargo vitalício, como a dos fiscais do Ministério da Agricultura em Manaus, têm preocupado as empresas. O movimento ameaça paralisar a produção de eletroeletrônicos de consumo no pólo industrial de Manaus já nesta semana por falta de componentes importados. Centenas de processos de importação estão parados nos portos e aeroportos do Estado, e a volta de 30% dos fiscais não vai amenizar a situação, diz Paulo Saab, presidente da Eletros (associação do setor). "As empresas e os consumidores são os maiores prejudicados com essa situação", afirma Saab, que lembra ser este um período importante devido ao Natal.

PARCERIA
Em meio ao "vendaval" de CPIs, o BMG, envolvido nas acusações a Marcos Valério, acaba de fechar um acordo com o Citibank. O banco americano irá repassar US$ 100 milhões para serem aplicados em linhas de crédito consignado pelo BMG, uns dos que mais emprestam recursos nessa modalidade no país.

VOLTA ÀS ORIGENS
Depois de dois anos, o Mercado Mundo Mix volta a São Paulo no próximo fim de semana, na praça Roosevelt, no centro. Nesse intervalo, o criador e até hoje organizador do evento de moda, música e design, Beto Lago, levou-o para Portugal, onde realizou oito edições, com apoio de empresas e prefeituras. "Estava num ritmo em que organizava o evento três vezes por mês, em 15 cidades. Nem sabia mais por que fazia aquilo. Recomeçar em Portugal me fez ver novamente a importância de dar espaço a jovens criadores e de aglutinar tendências." A volta a SP, onde a feira nasceu, em 1994, deu-se a partir de convite da prefeitura para ajudar na revitalização do centro e terá como novidade um caráter mais social -foram acertadas, por exemplo, parcerias com entidades do terceiro setor.

DESAQUECIMENTO
A produção de papelão ondulado, tido como um dos termômetros da economia, deve evoluir 2% neste ano ante 2004, diz Paulo Sérgio Peres, presidente da associação nacional do setor, com base nos resultados de janeiro a outubro. O dado pode ser interpretado como um sinal de desaquecimento da atividade.

CUSTO MALUF
A construção da avenida Roberto Marinho (ex-Águas Espraiadas) está no centro das acusações de desvios de dinheiro ao ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf. Ao redor dela, cerca de 18 mil pessoas vivem precariamente em favelas como as do Buraco Quente, Zoião, Comando e Piolho.
"Dá tristeza ver que o dinheiro que poderia ajudar tanta gente é usado em proveito próprio de só uma pessoa", diz Denise Alves, presidente da ONG Gotas de Flor com Amor, que atende 350 crianças dessas comunidades.
Pelas investigações do Ministério Público, o custo total da obra foi de US$ 600 milhões. O desvio, segundo o promotor Sílvio Marques, que acompanha o caso, pode chegar a US$ 350 milhões.
A solução dos problemas das favelas teria valor aproximado. O professor de planejamento urbano da USP Nabil Bonduki diz que, na época da construção da avenida, havia um projeto para remover as 8.000 famílias que viviam lá por cerca de R$ 300 milhões.
Os números da ONG são bem mais modestos. Segundo Denise, R$ 60 mil mensais são suficientes para custear oficinas profissionalizantes, atendimento médico, alimentação e laboratório de informática.
Para ela, a falta de saneamento básico e de opções de lazer são os grandes problemas da comunidade. O tráfico de drogas é outro distúrbio. Na quarta à tarde, durante a visita da reportagem à favela, jovens vendiam drogas nas margens da avenida.


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