São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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CABO ELEITORAL

Consumo das famílias compensará queda no comércio externo

Demanda interna forte será motor da economia

DA REPORTAGEM LOCAL

A forte expansão da demanda interna será o motor da economia em 2006 e compensará a perda de fôlego do setor externo. A demanda interna é composta pelo consumo das famílias, pelos gastos do governo e pelos investimentos.
E o que vai puxar a demanda, dizem os analistas, será o crescimento recorde do consumo das famílias: entre 3,8%, segundo projeções da LCA Consultores, e 5,1%, segundo a UAM (Unibanco Asset Management).
"Será a maior taxa de expansão desde 1995, quando chegou a 8,7%", diz Alexandre Matias, economista-chefe da UAM. Se confirmada a projeção da LCA, será compatível com o crescimento verificado em 2000.
Para este ano, as projeções são uma alta de 2,5% no consumo.
O combustível de 2006, segundo Matias, será o aumento do nível de emprego, que eleva a massa salarial, e a recuperação da renda. O desemprego terá em 2006 a menor taxa média anual desta década -de 9,5%, segundo projeção da Austin Rating.
Os analistas trabalham com uma taxa de desemprego de um dígito -o que não ocorre desde abril de 1995, quando a taxa média anualizada foi de 9,9%, segundo dados do Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco.
A renda será encorpada pelo crescimento do rendimento médio do pessoal ocupado e pela recuperação do poder de compra do salário mínimo.
Segundo cálculos da MS Consult, Lula entregará ao final de seu mandato o maior salário mínimo, em dólar, desde 1994: US$ 126,61. "E sem "truques" na taxa de câmbio", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult.
A estimativa baseia-se no valor do salário mínimo previsto para 2006 no Orçamento da União, convertido a uma taxa média de câmbio projetada em R$ 2,48 para 2006. O valor médio do salário mínimo, em dólar, no governo Lula será 37,5% superior à média verificada no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando passou a vigorar a política de câmbio flutuante. "Só esse aumento real do mínimo já causará um impacto brutal no consumo", observa Simino.

Renda em dólar
Além disso, o rendimento médio real da população também será o mais alto em dólar desde 1999, quando ocorreu a liberação do câmbio -de US$ 429,49.
"O consumo das famílias deve crescer em 2006 também por conta da queda da inflação e do juro real", observa Solange Srour Chachamovitz, economista-chefe da Mellon Global Investments Brasil.
Segundo suas projeções, a taxa média real de juros deverá chegar a 10% no ano que vem -hoje, está em 13%. "Com isso, devem crescer os investimentos e muitos projetos serão desengavetados pelas empresas", diz ela.
Para Octavio de Barros, do Bradesco, esse processo já começou. O consumo de máquinas e equipamentos continua crescente, e a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo) deverá chegar a 20% do PIB neste ano e a 20,5% em 2006, segundo suas projeções. Em 2003, pior ano do atual governo, a taxa de investimento foi de 17,78% do PIB.
Segundo Barros, apesar da crise política, do juro alto e do câmbio valorizado, "ninguém tirou o pé [do acelerador]".
Não há grandes projetos em andamento, como novas fábricas. Mas as empresas continuaram neste ano a fazer o que ele denomina de "investimento incremental": comprando mais máquinas e modernizando a produção.
Outro fator que deve impulsionar a demanda interna em 2006 será o aumento dos gastos do governo. "Em anos eleitorais, os governos buscam expandir a atividade econômica. Isso pode ser feito via política monetária, com redução dos juros, ou via política fiscal, aumentando gastos com programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família", diz Carlos Eduardo Gonçalves, economista da consultoria MCM.
O governo também pode estimular a economia ao aumentar seus investimentos. "Esperamos uma aceleração do investimento do setor público no ano que vem", diz Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. Segundo ele, se o governo conseguir fechar o ano com um superávit primário de 4,9% do PIB, terá uma folga para investir em 2006.
O Orçamento da União para 2006 dá uma pista de onde o governo irá apostar, depois de forte contenção dos investimentos nos três anos de mandato de Lula.
Os ministérios voltados para a área social e infra-estrutura vão aumentar de 13,98%, neste ano, para 16,36%, no ano que vem, sua participação no orçamento global. As verbas destinadas ao Ministério da Integração Nacional devem crescer 44,4%; as de Cidades, 40%; as de Desenvolvimento Social e Fome, 32,4%; Desenvolvimento Agrário, mais 44%. Os recursos destinados a esses ministérios totalizam R$ 13,1 bilhões.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, "a expansão da demanda interna deverá compensar o menor crescimento do setor externo em 2006". As exportações devem crescer entre 4,1%, segundo projeção da Unibanco Asset Management, e 5,4%, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). (SANDRA BALBI)


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