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Venda da TIM eleva concentração nas teles
Candidatas à compra, Telefónica e América Móvil já têm 70% dos assinantes de telefonia celular na América Latina
Se espanhóis fecharem o negócio, passarão a deter quase 70% do mercado de SP; no caso dos mexicanos, controle será de 54,4%
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O grupo espanhol Telefónica
e a empresa mexicana América
Móvil, candidatas à compra da
TIM Brasil, já dominam 70%
do mercado de telefonia celular
na América Latina. Se uma delas vencer a disputa pela TIM,
haverá forte concentração no
mercado de telefonia móvel,
sobretudo em São Paulo, que só
conta com três competidoras.
Na maioria dos Estados, há
quatro concorrentes.
A Vivo (do grupo Telefônica
no Brasil) tem 45,3% dos assinantes de celulares no Estado
de São Paulo; a Claro (que pertence aos mexicanos) tem 30%,
e a TIM, 24,4%. A diferença
(0,3%) é de assinantes da mineira CTBC Celular, que atua
em parte do norte do Estado. Se
a Telefônica comprar a TIM, ficará, praticamente, com 70%
do mercado em São Paulo. Se
for a Claro, terá 54,4%.
O mercado nacional está dividido da seguinte forma:
29,96% da Vivo, 25,14% da
TIM, 23,13% da Claro, 13,19%
da Oi, 4,9% da Telemig/TeleAmazonas, 3,18% da BRT, 0,41%
da CTBC e 0,09% da Sercomtel
Celular.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse à Folha, por telefone, que gostaria
que a TIM fosse comprada por
empresa brasileira, mas que
ainda não há posição do governo sobre o caso. Ele se encontra
na Turquia e estava fora do país
quando a Telecom Italia informou ter recebido ofertas de
compra da TIM Brasil.
Costa disse que discutirá o
assunto com a ministra Dilma
Roussef, da Casa Civil, depois
que retornar a Brasília, na próxima terça-feira. "Toda concentração de mercado é preocupante", afirmou.
Executivos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) acreditam que outros
grupos estrangeiros se candidatarão. Uma operadora chinesa e duas européias estariam
interessadas.
A única brasileira no páreo é
a Brasil Telecom. Fontes ligadas aos acionistas disseram que
ela é candidata a comprar as
operações da TIM nos Estados
em que tem concessão de telefonia fixa e que também poderia se associar à Telefônica para
comprar a operação da TIM em
São Paulo.
Por essa versão, o grupo espanhol teria participação minoritária na sociedade, inferior
a 20%, para não configurar a
concentração de mercado em
São Paulo, nem a duplicidade
de licenças de telefonia móvel
dentro da mesma área. Mas os
detalhes de tal negociação são
mantidos em sigilo pelas partes.Telefônica, Claro e BrT não
quiseram se manifestar sobre a
venda da TIM.
Por conta de conflitos societários, a Brasil Telecom entrou
tarde no mercado de telefonia
celular e tem uma base de assinantes muito pequena: cerca
de 3 milhões de clientes.
Segundo o diretor do Yankee
Group para a América Latina,
Luis Minoru, a concentração
no mercado de telecomunicações é mundial. "As empresas
buscam ganhar escala, centralizar suas operações e reduzir
custos. Quanto maiores, mais
poder de barganha terão com
os fornecedores", afirma.
Muitas empresas estrangeiras, que compraram licenças de
telefonia móvel ou participações societárias em empresas
do setor na América Latina, nos
anos 90, já debandaram.
O Brasil foi parte desse fenômeno. Operadoras da Suécia
(Telia), do Japão (NTT), dos
EUA (BellSouth), do Canadá
(Bell Canada e TIW), da Coréia
do Sul (Korea Mobile), entre
outros, que participaram dos
leilões das licenças para a banda B de telefonia celular, na segunda metade dos anos 90,
venderam suas participações.
Mapa
O mapa da telefonia móvel na
América Latina é dividido entre Telefónica e América Móvil.
As duas estão presentes nos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Paraguai, Panamá, Venezuela e Uruguai. A
América Móvil é do grupo da
Telmex, que tem a Embratel, a
Vésper e parte do capital do sistema Net de TV a cabo.
A TIM vendeu sua operação
do Peru, para a América Móvil,
e a da Venezuela, para o grupo
empresarial local Cysneros.
Baseado no valor das negociações, realizadas neste ano, Minoru estimou que a TIM Brasil,
que tem 24 milhões de assinantes, valeria cerca de US$ 7,5 bilhões de euros. A conta toma
por base um valor de 320 euros
por assinante.
Para o diretor do Yankee
Group, os estrangeiros não
souberam lidar com a desigualdade de renda na América Latina ou se desinteressaram pelo
negócio porque tinham participações minoritárias. Um dos
desafios da região, segundo ele,
é a predominância de celulares
pré-pagos, que geram uma receita unitária muito baixa e aumentam a necessidade de escala de atuação.
A Telefónica é a terceira operadora de telecomunicações no
ranking mundial, com 191 milhões de assinantes. Os mexicanos estão em 9º lugar, com 131
milhões. A estatística soma todos os serviços prestados pelas
operadoras. As duas maiores
são a China Mobile (274 milhões de usuários) e a China Telecom (244 milhões).
Ganhos
No terceiro trimestre deste
ano, a TIM registrou um lucro
líquido de R$ 20,3 milhões e
melhorou seus resultados em
relação ao mesmo período do
ano passado, quando teve um
prejuízo de R$ 308,4 milhões.
Com os rumores sobre negociações, a TIM Participações
ON liderou as altas entre as
ações do Ibovespa (índice da
Bolsa de Valores de SP) na semana passada. A valorização
chegou a 10,24% no período.
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