São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA mudam socorro para bancos; Bolsa de NY cai 4,7%

Paulson diz que não comprará papéis "tóxicos", mas participação nos bancos

Mudança de estratégia intensifica queda das ações, já afetadas pelos anúncios de resultados ruins das empresas americanas

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Em um anúncio que surpreendeu e ajudou o mercado a desabar ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmou que desistiu da idéia inicial de usar parte dos US$ 700 bilhões do pacote de ajuda ao sistema financeiro na compra dos chamados "ativos tóxicos" dos bancos.
Paulson afirmou que priorizará o uso dos recursos na aquisição de participações em bancos. Segundo ele, é a melhor forma de garantir a saúde das instituições e estimulá-las a reativar o mercado de crédito.
"Nunca vou me desculpar por alterar uma estratégia se os fatos tiverem mudado", disse Paulson, ex-executivo do banco Goldman Sachs, ao justificar a mudança de rota no Tarp (Programa de Recuperação de Ativos Problemáticos, na sigla em inglês).
Embalada pela mudança de planos do Tesouro e por mais más notícias e previsões de resultados negativos no setor corporativo, a Bolsa de Nova York fechou com forte queda. O índice Dow Jones caiu 4,73%, o S&P 500, 5,19%, e a bolsa eletrônica Nasdaq, 5,17%.
No final de setembro, quando o Tesouro pediu os US$ 700 bilhões ao Congresso, a principal justificativa foi que os recursos seriam usados para retirar das carteiras dos bancos os títulos lastreados em créditos imobiliários "subprime" (de segunda linha), fortemente depreciados após o estouro da "bolha imobiliária".
O principal problema nessa estratégia era determinar quanto pagar pelos títulos já que seu valor de mercado havia despencado.
Até agora, o Tesouro já usou US$ 290 bilhões dos US$ 350 bilhões iniciais liberados pelo Congresso, mas não comprou um único "ativo tóxico". Agora, é provável que o Congresso condicione a liberação dos outros US$ 350 bilhões à aprovação de um plano de resgate ao setor automotivo, que pode custar US$ 25 bilhões.
Ontem, Paulson disse que as montadoras "são chave para a indústria em geral". "Se precisarmos de uma solução (para o setor) ela terá de ser viável."

Ações de despejos
Outra estratégia ganha força no Tesouro é injetar parte dos US$ 700 bilhões nos bancos que adotarem planos de refinanciamento para as dívidas imobiliárias de inadimplentes.
Os imóveis retomados pelos bancos vêm se tornando um problema de imensas proporções e, por outro lado, o refinanciamento evitará que mais pessoas percam as suas casas.
O Citigroup está anunciando que poderá refinanciar até 500 mil mutuários (um terço de sua carteira) que ainda não estão inadimplentes mas que correm o risco de ficar. O JP Morgan quer fazer o mesmo com 400 mil. Com o refinanciamento, haverá uma diminuição da receita dos bancos, que pode ser compensada pelo Tesouro.
Já as recém-estatizadas Fannie Mae e Freddie Mac, as maiores do ramo, devem refinanciar as dívidas de todos os mutuários que estiverem inadimplentes por mais de 90 dias e comprometendo mais de 38% de sua com as prestações.
Desde o início de 2006, quando o mercado imobiliário nos EUA começou a perder força, 5,6 milhões de famílias já receberam ordens de despejo pelo não-pagamento de prestações: 1,2 milhão em 2006, 2,2 milhões em 2007 e mais 2,2 milhões no ano só até setembro.
Em setembro, 1 entre cada 475 residências nos EUA estava passando pelo processo de "forclosure", que antecede o despejo. Califórnia, Flórida e Arizona estão entre os Estados mais afetados pelos despejos.
As famílias que perdem seus imóveis normalmente acabam ficando no mesmo bairro, alugando um dos milhares de imóveis agora disponíveis e administrados por bancos ou empresas contratadas por eles. Normalmente, o custo do aluguel mensal equivale à metade do valor que os mutuários pagavam em prestações e impostos.


Texto Anterior: Devido à saída de dólares do Brasil, moeda sobe 3% e encosta em R$ 2,30
Próximo Texto: G20 incentivará países a adotar medidas de estímulo fiscal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.