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EUA mudam socorro para bancos; Bolsa de NY cai 4,7%
Paulson diz que não comprará papéis "tóxicos", mas participação nos bancos
Mudança de estratégia intensifica queda das ações, já afetadas pelos anúncios de resultados ruins das empresas americanas
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Em um anúncio que surpreendeu e ajudou o mercado a
desabar ontem, o secretário do
Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmou que desistiu da
idéia inicial de usar parte dos
US$ 700 bilhões do pacote de
ajuda ao sistema financeiro na
compra dos chamados "ativos
tóxicos" dos bancos.
Paulson afirmou que priorizará o uso dos recursos na aquisição de participações em bancos. Segundo ele, é a melhor
forma de garantir a saúde das
instituições e estimulá-las a
reativar o mercado de crédito.
"Nunca vou me desculpar
por alterar uma estratégia se os
fatos tiverem mudado", disse
Paulson, ex-executivo do banco
Goldman Sachs, ao justificar a
mudança de rota no Tarp (Programa de Recuperação de Ativos Problemáticos, na sigla em
inglês).
Embalada pela mudança de
planos do Tesouro e por mais
más notícias e previsões de resultados negativos no setor
corporativo, a Bolsa de Nova
York fechou com forte queda. O
índice Dow Jones caiu 4,73%, o
S&P 500, 5,19%, e a bolsa eletrônica Nasdaq, 5,17%.
No final de setembro, quando o Tesouro pediu os US$ 700
bilhões ao Congresso, a principal justificativa foi que os recursos seriam usados para retirar das carteiras dos bancos os
títulos lastreados em créditos
imobiliários "subprime" (de segunda linha), fortemente depreciados após o estouro da
"bolha imobiliária".
O principal problema nessa
estratégia era determinar
quanto pagar pelos títulos já
que seu valor de mercado havia
despencado.
Até agora, o Tesouro já usou
US$ 290 bilhões dos US$ 350
bilhões iniciais liberados pelo
Congresso, mas não comprou
um único "ativo tóxico". Agora,
é provável que o Congresso
condicione a liberação dos outros US$ 350 bilhões à aprovação de um plano de resgate ao
setor automotivo, que pode
custar US$ 25 bilhões.
Ontem, Paulson disse que as
montadoras "são chave para a
indústria em geral". "Se precisarmos de uma solução (para o
setor) ela terá de ser viável."
Ações de despejos
Outra estratégia ganha força
no Tesouro é injetar parte dos
US$ 700 bilhões nos bancos
que adotarem planos de refinanciamento para as dívidas
imobiliárias de inadimplentes.
Os imóveis retomados pelos
bancos vêm se tornando um
problema de imensas proporções e, por outro lado, o refinanciamento evitará que mais
pessoas percam as suas casas.
O Citigroup está anunciando
que poderá refinanciar até 500
mil mutuários (um terço de sua
carteira) que ainda não estão
inadimplentes mas que correm
o risco de ficar. O JP Morgan
quer fazer o mesmo com 400
mil. Com o refinanciamento,
haverá uma diminuição da receita dos bancos, que pode ser
compensada pelo Tesouro.
Já as recém-estatizadas Fannie Mae e Freddie Mac, as
maiores do ramo, devem refinanciar as dívidas de todos os
mutuários que estiverem inadimplentes por mais de 90 dias
e comprometendo mais de 38%
de sua com as prestações.
Desde o início de 2006, quando o mercado imobiliário nos
EUA começou a perder força,
5,6 milhões de famílias já receberam ordens de despejo pelo
não-pagamento de prestações:
1,2 milhão em 2006, 2,2 milhões em 2007 e mais 2,2 milhões no ano só até setembro.
Em setembro, 1 entre cada
475 residências nos EUA estava
passando pelo processo de "forclosure", que antecede o despejo. Califórnia, Flórida e Arizona
estão entre os Estados mais
afetados pelos despejos.
As famílias que perdem seus
imóveis normalmente acabam
ficando no mesmo bairro, alugando um dos milhares de imóveis agora disponíveis e administrados por bancos ou empresas contratadas por eles.
Normalmente, o custo do aluguel mensal equivale à metade
do valor que os mutuários pagavam em prestações e impostos.
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