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LUÍS NASSIF
Um novo paradigma para o BC
A indicação de Henrique
Meirelles para a presidência do Banco Central representa
uma mudança de paradigma total na instituição e poderá ser
bom para ela e para o Brasil.
Nas últimas décadas, o BC esteve entregue a macroeconomistas, funcionários de carreira ou
operadores de mercado. Meirelles pertence à classe dos superexecutivos, do homem que pensa
estrategicamente a função e comanda equipes. Poderá ser peça
fundamental no trabalho de reconquista da confiança dos
agentes financeiros internacionais, e não necessariamente por
seu conhecimento técnico.
Meirelles começou a se projetar no mercado em meados dos
anos 80. Na época, distinguiu-se
como um especialista em leasing, trabalhando na área no
BankBoston. Em seguida, assumiu a presidência do banco.
Como toda pessoa muito inteligente, Meirelles pensa claro e
objetivamente. Nunca foi dado
às firulas dos que complicam para impressionar.
Sob seu comando, o BankBoston montou uma estratégia de
longo prazo no país, conquistou
dia após dia reconhecimento do
mercado, enquanto bancos
maiores e mais ousados -como
o Citibank- dedicavam-se apenas ao jogo do curto prazo.
Sua carreira internacional na
instituição -assim como sua
queda posterior- esteve sempre
intimamente aliada ao Brasil.
Começou a crescer na organização quando convenceu seus
acionistas -conservadoras famílias de Boston- de que o Brasil era uma boa aposta.
A maneira como "vendeu" o
Brasil aos acionistas foi um feito
diplomático dos maiores. Poucos
conheciam o país. Para vender
seu peixe, Meirelles programou
uma visita dos principais acionistas ao país. Decidiu recebê-los
no Rio de Janeiro, em pleno Carnaval. Foi um desastre, que começou pelo extravio das bagagens -que seguiram para a Alemanha- e terminou com buliçosas mulatas cariocas rebolando na frente de vetustos senhores, literalmente babando na
gravata, para horror das respectivas mulheres.
Aprendida a lição, a tentativa
seguinte foi um show. Programou uma visita a São Paulo. As
bagagens foram enviadas antecipadamente, recebidas no aeroporto e entregues no apartamento de cada um. Recepcionistas
bonitas, cultas -e discretas-
receberam os hóspedes no saguão do hotel e resolveram todos
os seus problemas. Os visitantes
saíram encantados com a organização demonstrada e, a partir
daí, abriram espaço para o crescimento do banco no Brasil e na
América Latina.
Por conta desse sucesso, Meirelles galgou rapidamente a hierarquia do banco. Não chegou a
ser o primeiro da hierarquia, como se apregoava na época, mas
o terceiro -o que não era pouco.
Sua estrela começou a apagar
com a crise da dívida da América Latina e com as perdas bilionárias do banco com a Argentina. Na pragmática sociedade
norte-americana, o sucesso é reconhecido rapidamente, mas as
derrotas, mais ainda. Meirelles
perdeu espaço no banco e retornou ao Brasil, disposto a fazer
carreira política.
Montou uma campanha impecável para deputado federal,
que lhe permitiu ser o mais votado de Goiás. Bom palestrante,
espirituoso, natural e direto, costumava apregoar fórmulas para
resolver a crise brasileira que impressionavam a platéia -embora fossem um tanto complexas
de ser implementadas.
No BC, Meirelles poderá articular uma dupla missão: a de
montar uma equipe técnica, que
dê consistência às formulações
monetária e cambial; mas, principalmente, agir como o grande
diplomata do governo Lula -e
do Brasil- na frente internacional.
O futuro ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, não tem
formação para cumprir essa
missão. Meirelles tem perfil, conhecimento e experiência. Sua
rede de relações não é a dos operadores de mercado, mas a dos
chefes dos operadores. Nesse sentido, significa um "upgrade"
fantástico sobre seus antecessores.
Com esse currículo, poderá
cumprir a mais importante missão diplomática da sua vida, que
será a de montar a estratégia de
recuperação da confiança dos
investidores estrangeiros no Brasil.
Como ensinava o embaixador
Walther Moreira Salles, o maior
negociador da dívida externa
brasileira, cabe ao gestor formular as grandes linhas da política.
Depois, deixem-se números e
fórmulas com os técnicos, para
que o gestor se incumba do grande desafio diplomáticos, que é o
de articular redes de relações ao
longo do planeta.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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