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PIB acima do esperado é boa e má notícia
ARMANDO CASTELAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os números do PIB divulgados pelo IBGE confirmaram a boa fase da economia
brasileira e trouxeram surpresas. A boa notícia é que o
PIB cresceu bem acima do
que esperava o mercado. Essa também é a má notícia.
Nos acumulados do ano e
em quatro trimestres, o PIB
cresceu dois pontos percentuais a mais do que um ano
antes, o que, com a forte expansão da indústria em outubro, consolida a expectativa de que feche o ano com aumento de 5% ou um pouco
mais. Esse bom resultado é
ainda mais alvissareiro pois
vem com uma grande ampliação nos investimentos,
que subiram 14% em um ano
e 26% na comparação com o
terceiro trimestre de 2005.
Essa reação contrasta com a
expansão de 2004, quando o
PIB e o investimento também cresceram bastante,
mas a partir de bases muito
deprimidas. Com as empresas aproveitando o real valorizado e o crédito farto e com
custo cadente para ampliar a
capacidade de produção, aumenta a probabilidade de
que se consiga sustentar um
ritmo forte nos próximos
anos, efetivamente alçando o
país a outro patamar de crescimento. Mantidas essas taxas de crescimento, é possível atingir uma taxa de investimento de quase 22% do
PIB em 2011, suficiente para
garantir uma expansão sustentada do PIB potencial de
5% ao ano, o dobro do registrado no período 1981-2005.
O que causa preocupação
no resultado do PIB é o risco
de que a expansão muito acelerada da demanda agregada
pressione os preços antes
que os novos investimentos
sejam capazes de viabilizar a
necessária elevação da capacidade de produção. Na comparação com o trimestre anterior, com ajuste sazonal, o PIB cresceu a uma taxa
anualizada de 7%, um ritmo
que a economia brasileira
ainda não tem condição de
sustentar.
Apesar de estar
crescendo muito, o investimento parte de uma base
ainda modesta e levará algum tempo até poder acomodar uma taxa de crescimento dessa magnitude. O
descompasso entre demanda e capacidade produtiva já
se reflete em níveis recordes
de ocupação da capacidade
instalada, forte aumento da
importação e a dificuldade
de encontrar mão-de-obra
qualificada. Mesmo na construção civil, que vinha de vários anos de fraco desempenho, há pressões de custos tanto da mão-de-obra como
de insumos. O preço do cimento, por exemplo, subiu
18% nos últimos 12 meses.
Considerando que nos
próximos meses a economia
receberá estímulos adicionais dos cortes na Selic ocorridos até setembro e que os
preços administrados não terão em 2008 o mesmo comportamento benigno deste
ano, fica a dúvida sobre se é
possível impedir que os aumentos de preços de alimentos se espalhem para o resto
da economia quando essa
cresce tão aceleradamente.
Diz-se que o BC é o chato
que suspende a bebida justamente quando a festa está ficando animada. O IBGE
mostrou que a festa está cada
vez mais quente. Talvez ainda não seja a hora de suspender a cerveja, pois ainda temos como acomodar, via importações, o descasamento
entre os ritmos de expansão
de demanda e oferta, mas é
bom ficar preparado. Para
passarmos a um patamar
mais rápido de crescimento
sustentado, o que está ao
nosso alcance, o segredo é
avançar num ritmo constante e seguro, não com acelerações e freadas bruscas.
ARMANDO CASTELAR , 52, Ph.D. em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), é pesquisador do Ipea e professor do
IE/UFRJ.
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