São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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PIB acima do esperado é boa e má notícia

ARMANDO CASTELAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os números do PIB divulgados pelo IBGE confirmaram a boa fase da economia brasileira e trouxeram surpresas. A boa notícia é que o PIB cresceu bem acima do que esperava o mercado. Essa também é a má notícia.
Nos acumulados do ano e em quatro trimestres, o PIB cresceu dois pontos percentuais a mais do que um ano antes, o que, com a forte expansão da indústria em outubro, consolida a expectativa de que feche o ano com aumento de 5% ou um pouco mais. Esse bom resultado é ainda mais alvissareiro pois vem com uma grande ampliação nos investimentos, que subiram 14% em um ano e 26% na comparação com o terceiro trimestre de 2005.
Essa reação contrasta com a expansão de 2004, quando o PIB e o investimento também cresceram bastante, mas a partir de bases muito deprimidas. Com as empresas aproveitando o real valorizado e o crédito farto e com custo cadente para ampliar a capacidade de produção, aumenta a probabilidade de que se consiga sustentar um ritmo forte nos próximos anos, efetivamente alçando o país a outro patamar de crescimento. Mantidas essas taxas de crescimento, é possível atingir uma taxa de investimento de quase 22% do PIB em 2011, suficiente para garantir uma expansão sustentada do PIB potencial de 5% ao ano, o dobro do registrado no período 1981-2005.
O que causa preocupação no resultado do PIB é o risco de que a expansão muito acelerada da demanda agregada pressione os preços antes que os novos investimentos sejam capazes de viabilizar a necessária elevação da capacidade de produção. Na comparação com o trimestre anterior, com ajuste sazonal, o PIB cresceu a uma taxa anualizada de 7%, um ritmo que a economia brasileira ainda não tem condição de sustentar.
Apesar de estar crescendo muito, o investimento parte de uma base ainda modesta e levará algum tempo até poder acomodar uma taxa de crescimento dessa magnitude. O descompasso entre demanda e capacidade produtiva já se reflete em níveis recordes de ocupação da capacidade instalada, forte aumento da importação e a dificuldade de encontrar mão-de-obra qualificada. Mesmo na construção civil, que vinha de vários anos de fraco desempenho, há pressões de custos tanto da mão-de-obra como de insumos. O preço do cimento, por exemplo, subiu 18% nos últimos 12 meses.
Considerando que nos próximos meses a economia receberá estímulos adicionais dos cortes na Selic ocorridos até setembro e que os preços administrados não terão em 2008 o mesmo comportamento benigno deste ano, fica a dúvida sobre se é possível impedir que os aumentos de preços de alimentos se espalhem para o resto da economia quando essa cresce tão aceleradamente.
Diz-se que o BC é o chato que suspende a bebida justamente quando a festa está ficando animada. O IBGE mostrou que a festa está cada vez mais quente. Talvez ainda não seja a hora de suspender a cerveja, pois ainda temos como acomodar, via importações, o descasamento entre os ritmos de expansão de demanda e oferta, mas é bom ficar preparado. Para passarmos a um patamar mais rápido de crescimento sustentado, o que está ao nosso alcance, o segredo é avançar num ritmo constante e seguro, não com acelerações e freadas bruscas.


ARMANDO CASTELAR , 52, Ph.D. em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), é pesquisador do Ipea e professor do IE/UFRJ.


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