São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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BCs anunciam plano global contra crise

Bancos centrais de EUA, Europa e Canadá prometem elevar volume de dinheiro disponível para emprestar a instituições financeiras

Economistas expressam ceticismo quanto à eficácia das medidas para solucionar os problemas nos mercados de crédito

FLOYD NORRIS
VIKAS BAJAJ

DO "NEW YORK TIMES"

Bancos centrais da Europa e da América do Norte agiram ontem para elevar o volume de dinheiro que emprestam a bancos e para facilitar essas transações, em um esforço para aliviar o aperto no crédito. Foi a primeira vez desde os ataques de 11 de Setembro em que os BCs europeus e americanos agiram coordenadamente no apoio aos mercados.
As Bolsas de todo o mundo subiram depois do anúncio de intervenção pelo Fed (o BC dos EUA), pelo Banco do Canadá, pelo BCE (Banco Central Europeu), pelo Banco da Inglaterra (o BC britânico) e pelo BC suíço. Nos EUA, as Bolsas subiram após o anúncio, mas recuaram e chegaram a operar no vermelho. No fim do dia, porém, terminaram com leve alta.
Funcionários do Fed disseram que a decisão representava um esforço para melhorar os mercados financeiros, e não uma resposta a problemas de qualquer banco individual.
"Não se trata de instituições financeiras específicas passando por problemas específicos", disse um dirigente do Fed a jornalistas. "Trata-se de manter o mercado em funcionamento."
Economistas e especialistas do mercado receberam positivamente a intervenção do Fed, mas expressaram certo ceticismo quanto à sua capacidade de solucionar os principais problemas nos mercados de crédito, causados pela queda acentuada no valor dos títulos lastreados em hipotecas nos EUA.
"Agora temos um Fed que parece compreender o problema de liquidez do mercado", disse William Gross, vice-presidente da Pimco. "Essas medidas, embora limitadas em termos de alcance e em termos de que formas de garantias serão aceitas, devem restaurar ao menos em parte a confiança dos mercados privados." Gross acrescentou que "agora cabe ao mercado privado ganhar um pouco de confiança, agir de maneira mais máscula e começar a operar sem ajuda".
A decisão dos BCs deve colocar mais dinheiro nos bancos a taxas de juros inferiores às que eles teriam de pagar caso tomassem empréstimos na "janela de desconto" do Fed. O Fed leiloará até US$ 40 bilhões em empréstimos a bancos em dois leilões neste mês. Dois novos leilões serão realizados em janeiro, mas o montante ainda não foi determinado.
Funcionários do BC dos EUA afirmaram que o anúncio vinha sendo preparado havia algum tempo, mas não pôde ser feito anteontem, quando o Fed cortou os juros, porque os bancos centrais desejavam fazê-lo quando todos os mercados envolvidos estivessem abertos.
O Fed também informou que está oferecendo fundos para que o BCE empreste US$ 20 bilhões e para que o BC suíço empreste US$ 4 bilhões a bancos europeus que precisem tomar empréstimos em dólares.
O BC dos EUA disse que o novo processo de leilão deve "ajudar a promover uma disseminação eficiente de liquidez", em um momento no qual outras linhas de crédito estão "pressionadas".
A experiência que será obtida com os quatro leilões será útil, segundo o Fed, "para avaliar a potencial utilidade" desse novo processo de fornecimento de fundos a bancos nos EUA.
Desde que a compressão mundial de crédito começou, em agosto, o Fed e outros bancos centrais vêm injetando largas somas no sistema bancário, em um esforço para manter o fluxo de crédito. Mesmo assim, muitos interessados vêm encontrando dificuldades em obter empréstimos.
Os leilões estabelecerão taxas de juros a serem pagas pelo dinheiro que os bancos tomam com o Fed. As instituições estarão autorizadas a oferecer qualquer forma de garantia, incluindo títulos sem liquidez, da mesma maneira que já podem fazer na "janela de descontos".
A diferença é que a identidade dos bancos que recorrem à "janela de descontos" termina muitas vezes revelada, enquanto o mecanismo de leilão tem por objetivo manter em segredo a identidade dos captadores.
"Não existe motivo para acreditar que venha a existir um estigma associado ao uso dessa linha de crédito", afirmou um dirigente do Fed.
"O aspecto mais positivo é que essa é uma nova resposta a um problema que parecia intratável", disse Marco Annunziata, economista-chefe do UniCredit. "Provavelmente não é uma solução mágica, mas permitirá que avancemos."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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