São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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Telefônica perdeu chances e se faz de vítima, afirma GVT

Presidente da operadora brasileira diz que espanhóis tentaram comprá-la 3 vezes e nega irregularidade da Vivendi na aquisição

Executivo da GVT aponta "desconexão" entre a matriz da Telefônica e a companhia no Brasil sobre propostas de aquisição da operadora

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da GVT, Amos Genish, disse que está cansado de ver a Telefônica se colocando como vítima na disputa travada com a Vivendi pelo controle da operadora brasileira de telefonia fixa e banda larga. Para Genish, os espanhóis não podem justificar a sua derrota alegando que existe um processo aberto pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para apurar supostas irregularidades na compra do controle da GVT pela Vivendi.
Ele diz não haver a "teoria da conspiração" denunciada pela Telefônica. "As regras estavam claras para ambos os lados. A Telefônica perdeu três oportunidades de comprar a GVT." Um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do mundo, a Vivendi está presente em 77 países e faturou cerca de 25 bilhões, em 2008.
A GVT é uma operadora de telefonia fixa e de internet por banda larga presente em 80 cidades do Sul, do Centro-Oeste e do Norte. Também atua em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte e em Brasília, mas só no mercado corporativo. Criada em 2000 como operadora "espelho" da Brasil Telecom, faturou R$ 724 milhões no terceiro trimestre deste ano.
A Telefónica de España atua em 25 países e fatura 45 bilhões. No Brasil, cobre São Paulo com telefonia fixa e banda larga. Fora do Estado, opera nas principais capitais, restrita ao mercado corporativo. Para ela, adquirir a GVT seria a maneira mais rápida e econômica de se expandir fora de São Paulo, competindo com a Oi. A disputa pela GVT terminou em 13 de novembro, quando a francesa Vivendi anunciou ter adquirido o controle (57,5% das ações) da companhia. O negócio, avaliado em R$ 7,7 bilhões, foi o maior do setor após a aquisição da Brasil Telecom pela Oi, em 2008.
Após quase 20 dias, a CVM abriu um processo para averiguar se parte dos papéis da GVT estaria mesmo nas mãos da Vivendi no dia do anúncio. A investigação está em andamento. Leia entrevista com Genish.

 

FOLHA - A CVM levantou suspeitas de que, em 13 de novembro, a Vivendi não detivesse o controle da GVT, desconfiando que o fundo Tyrus pudesse não entregar ações da GVT dadas como garantidas pela Vivendi. Afinal, ele vai repassá-las?
AMOS GENISH - Estou seguro de que tudo foi feito de acordo com a legislação brasileira. Estive com o presidente da Vivendi, Jean-Bernard Lévy, que está trabalhando e cooperando com a CVM, enviando documentos e informações adicionais. O que está acontecendo é um procedimento totalmente natural, dado o ineditismo dessa operação no país.

FOLHA - A Telefônica aguarda a decisão da CVM para processar a Vivendi. O sr. acha justo?
GENISH - Ela está criando um "carnaval", uma confusão. Vejo declarações associadas à Telefônica que induzem a erros de informação sobre esse negócio. Ela está aparecendo como vítima e deveria se culpar por não ter comprado a GVT. Na verdade, eles tiveram três oportunidades de adquirir a companhia e desistiram. A primeira foi em 2004. Seus diretores vieram a Curitiba [onde fica a sede da GVT]. Apresentei nosso plano de negócios. Nós tínhamos uma operação pequena naquele momento, mas a proposta que nos fizeram em termos de cifras era uma coisa humilhante.

FOLHA - E a segunda oferta?
GENISH - Foi em 2008, a GVT já era uma empresa de capital aberto. Foram meses e meses de "due dilligence" [processo em que a empresa abre seus dados ao comprador], discussões infindáveis que depois seguiam para a Espanha, que, por sua vez, não concordava, e começávamos tudo novamente. Mas, por uma série de motivos, incluindo o preço, eles perderam ali sua segunda oportunidade.

FOLHA - Ainda não havia a Vivendi, certo?
GENISH - A Vivendi só nos procurou em agosto deste ano, quando fizemos a oferta pública para a venda de 20% das ações secundárias pertencentes aos controladores. Eles nos procuraram e encontraram uma empresa crescendo com qualidade de serviço e retorno ao acionista. Acharam que estávamos alinhados com o plano deles de expansão e, em poucas semanas, anunciamos o contrato de compra e venda. Para os nossos acionistas, era uma ótima oportunidade: a Vivendi oferecia R$ 42 por ação em um momento em que nosso papéis valiam R$ 33.

FOLHA - Mas aí a Telefônica ofereceu R$ 48 por ação, iniciando a disputa com a Vivendi. Qual foi a reação do sr.?
GENISH - Claro que a competição sempre é saudável, mas foi uma surpresa completa. A Telefônica veio até aqui, abrimos novamente os números e eles pediram a retirada da "pílula do veneno" [garantia de que as ações só poderiam ser vendidas por 25% acima do maior preço de mercado em 12 meses anteriores à oferta]. Como minoritários da GVT, eles participaram da assembleia dos acionistas, mas não votaram pela retirada da pílula do estatuto. Depois, a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] deu sua anuência, exigindo a separação entre as empresas.

FOLHA - A Telefônica garantiu a separação à GVT em sua oferta?
GENISH - Sim, mas certamente a GVT não teria o mesmo resultado [se fosse vendida à Telefônica]. Não seríamos um competidor, mas parte da Telefônica. Haveria questões a considerar, como a qualidade do serviço. A internet em São Paulo é algo que leva à loucura e teríamos também considerações sobre funcionários, um tema que certamente seria levantado após os cinco anos de separação determinados pela Anatel.

FOLHA - Com o fim da "pílula do veneno", qualquer empresa poderia comprar a GVT, já que a maior parte das ações estava com o mercado. Foi o que fez a Vivendi. A Telefônica sabia disso?
GENISH - Não exatamente sobre a Vivendi, mas avisamos a Telefônica de que qualquer um poderia ir ao mercado e adquirir nosso controle. O jogo foi aberto o tempo todo.

FOLHA - A Telefônica afirmou que poderia ter pago até R$ 70 (e não R$ 50,50) por ação caso seu leilão, que não ocorreu devido à compra pela Vivendi, tivesse ocorrido. Qual a sua opinião sobre isso?
GENISH - Não foi uma declaração honesta. A oferta de R$ 50,50 foi a proposta máxima da Telefônica e ela já sabia que a Vivendi estava tentando conseguir as ações da GVT no mercado. Achávamos a oferta insuficiente e perguntamos a eles se aquela era mesmo a proposta final. Sabe qual foi a resposta? "Se alguém oferecer mais que R$ 50,50, deixe que fique com a companhia". Valente [Antônio Carlos Valente, presidente da Telefônica] declarou publicamente que a proposta final, incluindo sinergias entre as empresas, seria de R$ 50,50. Foi ridículo. O que aconteceu mostra que existe uma desconexão entre a matriz da Telefônica e a companhia no Brasil.


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