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Telefônica perdeu chances e se faz de vítima, afirma GVT
Presidente da operadora brasileira diz que espanhóis tentaram comprá-la 3 vezes e nega irregularidade da Vivendi na aquisição
Executivo da GVT aponta "desconexão" entre a matriz da Telefônica e a companhia no Brasil sobre propostas
de aquisição da operadora
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da GVT, Amos
Genish, disse que está cansado
de ver a Telefônica se colocando como vítima na disputa travada com a Vivendi pelo controle da operadora brasileira de
telefonia fixa e banda larga.
Para Genish, os espanhóis
não podem justificar a sua derrota alegando que existe um
processo aberto pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
para apurar supostas irregularidades na compra do controle
da GVT pela Vivendi.
Ele diz não haver a "teoria da
conspiração" denunciada pela
Telefônica. "As regras estavam
claras para ambos os lados. A
Telefônica perdeu três oportunidades de comprar a GVT."
Um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do mundo, a Vivendi está
presente em 77 países e faturou
cerca de 25 bilhões, em 2008.
A GVT é uma operadora de
telefonia fixa e de internet por
banda larga presente em 80 cidades do Sul, do Centro-Oeste
e do Norte. Também atua em
São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte e em Brasília, mas só no
mercado corporativo. Criada
em 2000 como operadora "espelho" da Brasil Telecom, faturou R$ 724 milhões no terceiro
trimestre deste ano.
A Telefónica de España atua
em 25 países e fatura 45 bilhões. No Brasil, cobre São
Paulo com telefonia fixa e banda larga. Fora do Estado, opera
nas principais capitais, restrita
ao mercado corporativo. Para
ela, adquirir a GVT seria a maneira mais rápida e econômica
de se expandir fora de São Paulo, competindo com a Oi.
A disputa pela GVT terminou em 13 de novembro, quando a francesa Vivendi anunciou
ter adquirido o controle (57,5%
das ações) da companhia. O negócio, avaliado em R$ 7,7 bilhões, foi o maior do setor após
a aquisição da Brasil Telecom
pela Oi, em 2008.
Após quase 20 dias, a CVM
abriu um processo para averiguar se parte dos papéis da
GVT estaria mesmo nas mãos
da Vivendi no dia do anúncio. A
investigação está em andamento. Leia entrevista com Genish.
FOLHA - A CVM levantou suspeitas
de que, em 13 de novembro, a Vivendi não detivesse o controle da
GVT, desconfiando que o fundo
Tyrus pudesse não entregar ações
da GVT dadas como garantidas pela
Vivendi. Afinal, ele vai repassá-las?
AMOS GENISH - Estou seguro de
que tudo foi feito de acordo
com a legislação brasileira. Estive com o presidente da Vivendi, Jean-Bernard Lévy, que está
trabalhando e cooperando com
a CVM, enviando documentos
e informações adicionais. O que
está acontecendo é um procedimento totalmente natural,
dado o ineditismo dessa operação no país.
FOLHA - A Telefônica aguarda a decisão da CVM para processar a Vivendi. O sr. acha justo?
GENISH - Ela está criando um
"carnaval", uma confusão. Vejo
declarações associadas à Telefônica que induzem a erros de
informação sobre esse negócio.
Ela está aparecendo como vítima e deveria se culpar por não
ter comprado a GVT.
Na verdade, eles tiveram três
oportunidades de adquirir a
companhia e desistiram. A primeira foi em 2004. Seus diretores vieram a Curitiba [onde fica
a sede da GVT]. Apresentei
nosso plano de negócios. Nós
tínhamos uma operação pequena naquele momento, mas
a proposta que nos fizeram em
termos de cifras era uma coisa
humilhante.
FOLHA - E a segunda oferta?
GENISH - Foi em 2008, a GVT já
era uma empresa de capital
aberto. Foram meses e meses
de "due dilligence" [processo
em que a empresa abre seus dados ao comprador], discussões
infindáveis que depois seguiam
para a Espanha, que, por sua
vez, não concordava, e começávamos tudo novamente. Mas,
por uma série de motivos, incluindo o preço, eles perderam
ali sua segunda oportunidade.
FOLHA - Ainda não havia a Vivendi,
certo?
GENISH - A Vivendi só nos procurou em agosto deste ano,
quando fizemos a oferta pública para a venda de 20% das
ações secundárias pertencentes aos controladores. Eles nos
procuraram e encontraram
uma empresa crescendo com
qualidade de serviço e retorno
ao acionista. Acharam que estávamos alinhados com o plano
deles de expansão e, em poucas
semanas, anunciamos o contrato de compra e venda. Para
os nossos acionistas, era uma
ótima oportunidade: a Vivendi
oferecia R$ 42 por ação em um
momento em que nosso papéis
valiam R$ 33.
FOLHA - Mas aí a Telefônica ofereceu R$ 48 por ação, iniciando a disputa com a Vivendi. Qual foi a reação do sr.?
GENISH - Claro que a competição sempre é saudável, mas foi
uma surpresa completa. A Telefônica veio até aqui, abrimos
novamente os números e eles
pediram a retirada da "pílula do
veneno" [garantia de que as
ações só poderiam ser vendidas
por 25% acima do maior preço
de mercado em 12 meses anteriores à oferta]. Como minoritários da GVT, eles participaram da assembleia dos acionistas, mas não votaram pela retirada da pílula do estatuto. Depois, a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] deu
sua anuência, exigindo a separação entre as empresas.
FOLHA - A Telefônica garantiu a separação à GVT em sua oferta?
GENISH - Sim, mas certamente
a GVT não teria o mesmo resultado [se fosse vendida à Telefônica]. Não seríamos um competidor, mas parte da Telefônica.
Haveria questões a considerar,
como a qualidade do serviço. A
internet em São Paulo é algo
que leva à loucura e teríamos
também considerações sobre
funcionários, um tema que certamente seria levantado após
os cinco anos de separação determinados pela Anatel.
FOLHA - Com o fim da "pílula do
veneno", qualquer empresa poderia
comprar a GVT, já que a maior parte
das ações estava com o mercado. Foi
o que fez a Vivendi. A Telefônica sabia disso?
GENISH - Não exatamente sobre a Vivendi, mas avisamos a
Telefônica de que qualquer um
poderia ir ao mercado e adquirir nosso controle. O jogo foi
aberto o tempo todo.
FOLHA - A Telefônica afirmou que
poderia ter pago até R$ 70 (e não R$
50,50) por ação caso seu leilão, que
não ocorreu devido à compra pela
Vivendi, tivesse ocorrido. Qual a sua
opinião sobre isso?
GENISH - Não foi uma declaração honesta. A oferta de R$
50,50 foi a proposta máxima da
Telefônica e ela já sabia que a
Vivendi estava tentando conseguir as ações da GVT no mercado. Achávamos a oferta insuficiente e perguntamos a eles se
aquela era mesmo a proposta
final. Sabe qual foi a resposta?
"Se alguém oferecer mais que
R$ 50,50, deixe que fique com a
companhia". Valente [Antônio
Carlos Valente, presidente da
Telefônica] declarou publicamente que a proposta final, incluindo sinergias entre as empresas, seria de R$ 50,50. Foi
ridículo. O que aconteceu mostra que existe uma desconexão
entre a matriz da Telefônica e a
companhia no Brasil.
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