São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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Telefônica acusa a Vivendi na CVM

Espanhóis apresentam à autarquia indícios de que franceses não teriam controle da GVT quando anunciaram compra

Investigação está em andamento na CVM; Telefônica aguarda decisão para mover processo contra Vivendi por perdas e danos

DA REPORTAGEM LOCAL

Após o anúncio da compra da operadora brasileira GVT pela Vivendi, em 13 de novembro, a Telefônica reuniu-se com a direção da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Motivo: apresentar fatos que motivassem a abertura de uma investigação do negócio. O que os espanhóis não sabiam é que, naquele momento, um processo já estava em andamento.
A Folha apurou que o principal indício de irregularidade apresentado pela Telefônica surgiu após sua tentativa de adquirir ações da GVT na corretora do banco Nomura, em Londres, dias após o anúncio da Vivendi. A instituição japonesa detinha então 9,7% dos papéis da GVT.
À CVM a Telefônica afirmou que um dos operadores da Nomura disse não poder vendê-los porque eles tinham entrado como garantia de uma operação internacional envolvendo outras instituições financeiras, o banco Rotschild e o fundo de investimentos Tyrus.
Mas, entre 25 de novembro e 8 deste mês, a corretora do Credit Suisse no Brasil adquiriu 30% de todas ações disponíveis no mercado (2,8% da GVT). A Telefônica acredita que esses papéis tenham sido vendidos pela corretora do Nomura ao Credit Suisse, o que seria uma evidência de que nem o Rotschild nem o Tyrus detinham direitos de compra das ações do Nomura.
Posteriormente, essas ações teriam chegado à Vivendi por meio de uma outra instituição estrangeira.
O Tyrus é um fundo de investimento inglês que a Vivendi afirmou ser o repassador de 19,6% das ações da GVT. As regras do mercado financeiro permitem que essa transferência ocorra ao longo do tempo sem que, necessariamente, o fundo seja detentor dos papéis. No entanto, o fundo precisa garantir que terá direito de compra desses títulos. Esse tipo de contrato privado é conhecido como opção com direito de compra de ação.
No dia do anúncio da Vivendi, ela declarou ter recebido 8,52 milhões de ações do Tyrus (6,63% da GVT). O que despertou a desconfiança do mercado foi o fato de o Tyrus não ter declarado à CVM os direitos de compra sobre as ações que faltavam (12,97%).
Na prática, isso levantou suspeitas de que haveria a possibilidade de ele não ter direitos de compra sobre essas ações. Caso isso se confirme nas investigações em curso da CVM, a Vivendi não teria obtido controle da GVT em 13 de novembro.
Para a Telefônica, esclarecer essa dúvida significa definir os próximos passos. A companhia só aguarda o encerramento da investigação para mover uma ação judicial contra a Vivendi por perdas e danos.
Isso porque, em 19 de novembro, ela compraria em leilão a participação de acionistas da GVT interessados em receber R$ 50,50 por ação.
Há quatro dias, um alto executivo da Telefónica afirmou à Folha que, caso o leilão ocorresse, ela chegaria a um teto de R$ 70 por ação. A Vivendi levou a GVT pagando R$ 56 por ação.

Aumento de capital
Desde 13 de novembro, a Vivendi continua adquirindo ações da GVT no mercado, enquanto não recebe os papéis do Tyrus. No dia 3, anunciou ter adquirido 50,9% do capital da GVT, efetivando a posse do controle. Essa participação já está em 72,1% e ela pretende adquirir 100% das ações, fechando o capital da operadora na Bolsa de Valores. Enquanto isso, continuam as investigações da CVM.
A Folha entrou em contato com as instituições envolvidas. Nomura, Rotschild e Tyrus não responderam até o fechamento desta edição. O vice-presidente de comunicação da Vivendi, Simon Gillham, afirmou que não comentaria o caso.
"A operação foi feita dentro dos mais elevados padrões e de acordo com a legislação brasileira. Estamos cooperando com a CVM em todos os pedidos", disse. (JULIO WIZIACK)

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