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Telefônica acusa a Vivendi na CVM
Espanhóis apresentam à autarquia indícios de que franceses não teriam controle da GVT quando anunciaram compra
Investigação está em
andamento na CVM;
Telefônica aguarda decisão para mover processo contra Vivendi por perdas e danos
DA REPORTAGEM LOCAL
Após o anúncio da compra da
operadora brasileira GVT pela
Vivendi, em 13 de novembro, a
Telefônica reuniu-se com a direção da CVM (Comissão de
Valores Mobiliários). Motivo:
apresentar fatos que motivassem a abertura de uma investigação do negócio. O que os espanhóis não sabiam é que, naquele momento, um processo
já estava em andamento.
A Folha apurou que o principal indício de irregularidade
apresentado pela Telefônica
surgiu após sua tentativa de adquirir ações da GVT na corretora do banco Nomura, em
Londres, dias após o anúncio
da Vivendi. A instituição japonesa detinha então 9,7% dos
papéis da GVT.
À CVM a Telefônica afirmou
que um dos operadores da Nomura disse não poder vendê-los porque eles tinham entrado
como garantia de uma operação internacional envolvendo
outras instituições financeiras,
o banco Rotschild e o fundo de
investimentos Tyrus.
Mas, entre 25 de novembro e
8 deste mês, a corretora do
Credit Suisse no Brasil adquiriu 30% de todas ações disponíveis no mercado (2,8% da
GVT). A Telefônica acredita
que esses papéis tenham sido
vendidos pela corretora do Nomura ao Credit Suisse, o que
seria uma evidência de que
nem o Rotschild nem o Tyrus
detinham direitos de compra
das ações do Nomura.
Posteriormente, essas ações
teriam chegado à Vivendi por
meio de uma outra instituição
estrangeira.
O Tyrus é um fundo de investimento inglês que a Vivendi
afirmou ser o repassador de
19,6% das ações da GVT. As regras do mercado financeiro
permitem que essa transferência ocorra ao longo do tempo
sem que, necessariamente, o
fundo seja detentor dos papéis.
No entanto, o fundo precisa garantir que terá direito de compra desses títulos. Esse tipo de
contrato privado é conhecido
como opção com direito de
compra de ação.
No dia do anúncio da Vivendi, ela declarou ter recebido
8,52 milhões de ações do Tyrus
(6,63% da GVT). O que despertou a desconfiança do mercado
foi o fato de o Tyrus não ter declarado à CVM os direitos de
compra sobre as ações que faltavam (12,97%).
Na prática, isso levantou suspeitas de que haveria a possibilidade de ele não ter direitos de
compra sobre essas ações. Caso
isso se confirme nas investigações em curso da CVM, a Vivendi não teria obtido controle
da GVT em 13 de novembro.
Para a Telefônica, esclarecer
essa dúvida significa definir os
próximos passos. A companhia
só aguarda o encerramento da
investigação para mover uma
ação judicial contra a Vivendi
por perdas e danos.
Isso porque, em 19 de novembro, ela compraria em leilão a participação de acionistas
da GVT interessados em receber R$ 50,50 por ação.
Há quatro dias, um alto executivo da Telefónica afirmou à
Folha que, caso o leilão ocorresse, ela chegaria a um teto de
R$ 70 por ação. A Vivendi levou
a GVT pagando R$ 56 por ação.
Aumento de capital
Desde 13 de novembro, a Vivendi continua adquirindo
ações da GVT no mercado, enquanto não recebe os papéis do
Tyrus. No dia 3, anunciou ter
adquirido 50,9% do capital da
GVT, efetivando a posse do
controle. Essa participação já
está em 72,1% e ela pretende
adquirir 100% das ações, fechando o capital da operadora
na Bolsa de Valores. Enquanto
isso, continuam as investigações da CVM.
A Folha entrou em contato
com as instituições envolvidas.
Nomura, Rotschild e Tyrus não
responderam até o fechamento
desta edição. O vice-presidente
de comunicação da Vivendi, Simon Gillham, afirmou que não
comentaria o caso.
"A operação foi feita dentro
dos mais elevados padrões e de
acordo com a legislação brasileira. Estamos cooperando
com a CVM em todos os pedidos", disse.
(JULIO WIZIACK)
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