São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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LIGAÇÃO DIRETA

Após falar com a Folha, presidente do BC declarou sua pensão

Aposentadoria de Meirelles só foi comunicada na sexta

Sergio Lima - 7.jan.03/Folha Imagem
Henrique Meirelles, durante sua posse no BC, semana passada


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, entregou o formulário obrigatório sobre seu patrimônio e possíveis conflitos de interesse à Comissão de Ética Pública -órgão ligado à Presidência da República- na última sexta-feira à tarde, um dia depois de ser procurado pela Folha para explicar sua aposentadoria de US$ 750 mil por ano, paga pelo banco americano FleetBoston.
Na entrevista e antes da entrega do formulário, Meirelles havia afirmado que a comissão "aprovou" a aposentadoria.
Porém, a comissão ainda não fez a análise final do documento. O órgão só se manifesta quando tem alguma ressalva ou orientação a fazer. O presidente da comissão, João Geraldo Piquet Carneiro, está em férias e foi avisado por telefone da chegada do documento de Meirelles.
O secretário-executivo da comissão, Mauro Bogéa, confirmou que o formulário -chamado "Declaração Confidencial de Informações"- foi recebido na sexta. Carneiro, o único autorizado a comentar detalhes do caso, estava incomunicável ontem, de acordo com sua assessoria de imprensa e sua secretária particular.
A assessoria de imprensa do Banco Central disse que a entrega da declaração foi feita dentro do prazo legal (dez dias depois da posse) e que não foi motivada pela reportagem da Folha.
Meirelles não pôde ser contatado porque estava em trânsito, retornando da Basiléia (Suíça), onde participou de um encontro com outros presidentes de bancos centrais, para Brasília.

Conversa prévia
Além disso, teriam ocorrido "conversas prévias" entre assessores de Meirelles e a comissão.
"É comum fazer consultas antes da entrega da declaração. Não posso comentar o teor, mas isso pode implicar orientações prévias. A comissão não espera a pessoa errar. Já explica como podem ser resolvidos conflitos", disse Mauro Bogéa, que confirmou os contatos prévios.
No caso de aposentadorias ou benefícios similares, a comissão procura deixar claro que não pode haver possibilidade de vínculo futuro à instituição. A comissão não pôde informar ontem quais foram as orientações dadas no caso de Meirelles.
A afirmação de que a comissão teria "aprovado" o recebimento da aposentadoria implica, no entanto, que não foi encontrado problemas de ética administrativa no caso, o que depende de aval final e não divulgado dos seis integrantes da comissão.
No domingo, Meirelles disse que informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de assumir o cargo, que receberia do FleetBoston a aposentadoria.
"Isso é um direito meu. Ninguém no governo levantou dúvida alguma [sobre a aposentadoria"", disse ele. "Todas as informações que eu tenho é que aposentadoria é um direito do trabalhador. Nunca me ocorreu alguém pedir a um trabalhador que abra mão de sua aposentadoria em benefício do empregador", afirmou.
Meirelles se aposentou no banco em agosto do ano passado para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSDB de Goiás. Foi eleito, mas abrirá mão do mandato para assumir a presidência do BC.
(LEILA SUWWAN)

Colaborou Leonardo Souza, enviado especial a Basiléia


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