São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Volume é recorde; papéis atrelados às taxas de juros são a principal modalidade de investimento

Patrimônio de fundos ultrapassa R$ 500 bi

FABRICIO VIEIRA
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Após recuperar o rombo sofrido em 2002, os fundos de investimento continuam a receber recursos. O patrimônio líquido de toda a indústria de fundos atingiu R$ 503,8 bilhões, volume nunca alcançado antes.
Somente até o dia 7 de janeiro de 2004, as aplicações nos fundos de investimentos superaram os resgates em R$ 4,5 bilhões. Com isso, a média diária de captação líquida dos fundos (diferença entre o dinheiro que entra e o que sai das aplicações) neste mês está em R$ 643,2 milhões. Em 2003, a média diária em janeiro ficou em R$ 292,8 milhões. Os dados são da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Apesar de a Bolsa continuar sua trajetória de alta neste ano, os fundos de ações ainda não estão entre os que mais atraem recursos no mercado. As aplicações nesses fundos foram superiores aos resgates em apenas R$ 231,8 milhões no ano. O campeão de captação em 2004 são os fundos de renda fixa (atrelados ao comportamento dos juros), com R$ 3,1 bilhões.
Em 2003, os fundos de renda fixa deram retorno médio de 23,5%, enquanto a Bovespa subiu 97,3% e a caderneta de poupança deu ganho de 11,1%. A inflação de 2003 foi de 8,18%, segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
A queda na taxa básica de juros (hoje em 16,5% ao ano) deve afetar um pouco a rentabilidade da renda fixa. Quanto mais cai a taxa básica (Selic), menor tende a ser o retorno dos fundos. Mas essa aplicação deve continuar pagando mais que a poupança, cujo retorno é a TR (Taxa de Referência) e mais 0,5% ao mês. E não oferece os riscos da Bolsa e do mercado de câmbio, que são mais voláteis.
Os fundos de renda fixa e DI (que, juntos, respondem por quase 60% do patrimônio total da indústria) são compostos basicamente por títulos públicos. Há dois tipos de papéis: pós-fixados (acompanham a variação dos juros de mercado) e os prefixados (cuja taxa é decidida de antemão).
Para Dany Rappaport, sócio-diretor da Tática Asset Management, além de o investidor doméstico ainda ter receio de aplicar em ações, os gerentes de bancos não vendem bem o produto. "O temor é que as ações caiam, o fundo dê rentabilidade baixa ou negativa e a imagem da instituição fique ruim com o cliente", avalia.
Parte do dinheiro que tem entrado nos fundos vem da caderneta de poupança, que teve no ano passado captação líquida negativa de R$ 9,987 bilhões, segundo dados do Banco Central.
Analistas e consultores do mercado financeiro afirmam que recursos também vieram de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e de investidores que tinham comprado dólares após a disparada da moeda em 2002. "Quem tinha recursos em CDBs, dólares ou havia investido em ativos como imóveis tem migrado para fundos de investimentos, especialmente os de renda fixa", diz o consultor Fábio Colombo.
A expectativa dos analistas é que sigam entrando recursos nos fundos de investimentos daqui para frente. Para Eduardo Penido, diretor do Opportunity Asset Management, são os fundos multimercados (que podem aplicar em diferentes segmentos) que devem se tornar a coqueluche do mercado nos próximos meses.

Queda e ascensão
O cenário para os fundos de investimentos mudou bastante de 2002 para cá. A indústria de fundos encerrou a "era FHC" com um tombo nunca antes registrado: os saques superaram as aplicações em R$ 60 bilhões em 2002.
Esse rombo teve início em maio daquele ano, quando o governo alterou as regras de contabilização dos papéis que compõem suas carteiras, adotando a chamada "marcação a mercado".
Com a marcação, os gestores tiveram de reconhecer diariamente as oscilações de preço dos papéis, computando as valorizações ou desvalorizações no resultado do fundo. Com a perspectiva de perda de rentabilidade nos fundos DI e de renda fixa, os investidores sacaram seus recursos.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: BC quer juro menor em nova emissão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.