São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Créditos da empresa com bancos devem ser classificados como de difícil recebimento

Dívida da Parmalat no Brasil é provisionada

Daniel Guimarães/Folha Imagem
Fábrica da Parmalat em Jundiaí, no interior de São Paulo; a empresa deve a oito bancos no país


SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Parmalat do Brasil parou de pagar suas dívidas com bancos locais às vésperas do Natal, quando eclodiu a crise na matriz do grupo italiano. A informação é do presidente do ABN Amro, Fábio Barbosa. "Desde o dia 23 de dezembro a empresa deixou de pagar os bancos", diz Barbosa.
O ABN Amro é um dos credores da Parmalat do Brasil e deverá provisionar no seu balanço de 2003 -"num percentual substancial"- os créditos que tem a receber da empresa, segundo o executivo. No mercado, as estimativas são de que a empresa e suas controladoras locais -Parmalat Empreendimentos e Administração e Parmalat Participações- devem entre US$ 1 bilhão e US$ 1,8 bilhão a oito bancos.
A Folha apurou que os bancos credores deverão provisionar 100% dos créditos que têm com a empresa nos seus balanços do final de 2003. O provisionamento ocorre quando uma dívida é considerada de difícil recebimento.
Com o provisionamento, as dívidas da Parmalat entrarão como perdas nos balanços dos bancos. Se, no futuro, a empresa pagar, o provisionamento será revertido. A Parmalat tem dívidas com quase todos os grandes bancos que atuam no país, entre eles Banco do Brasil, BankBoston, Bank of America, Santander, Citibank, Deutsche Bank e Unibanco.
Além disso, ela obteve em junho uma carta de fiança do Itaú BBA, dada em garantia a um empréstimo contraído com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no valor de R$ 27,5 milhões. Se ela não pagar, o Itaú BBA terá de honrar o compromisso. Os bancos foram procurados pela Folha, mas não comentaram o assunto.
Segundo Rafael Guedes, diretor da Fitch Ratings, a crise da Parmalat não deverá ter forte impacto nos resultados dos bancos. "A dívida da Parmalat não está entre os maiores créditos que os grandes bancos têm a receber", observa Guedes. A Fitch Ratings analisa o risco de crédito dos grandes bancos, e, segundo ele, "a situação não é preocupante". Ele considera exageradas as estimativas de que a dívida financeira da empresa chegue a US$ 1,8 bilhão.
Mesmo no caso do banco Santander, que seria um dos maiores credores da empresa, a situação está sob controle, segundo Guedes. "Os créditos estão provisionados e têm garantias", afirma. No entanto, segundo ele, as garantias não têm mais valor -foram dadas pela matriz italiana.
O ABN Amro, segundo Barbosa, emprestou dinheiro à Parmalat do Brasil e à controladora. "Mas a situação não é preocupante, pois não somos um grande banco [financiador] da Parmalat", diz Barbosa. Tanto que, segundo ele, o banco é "mero coadjuvante no comitê de credores que está sendo constituído".
Segundo José Berenguer Neto, vice-presidente-executivo do ABN Amro, as dívidas da Parmalat com o banco são de longo prazo. "Ela vinha pagando em dia até 15 de dezembro. Não temos novos vencimentos no curto prazo", diz.

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