São Paulo, segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

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Em ano de expansão, rentabilidade de pequena empresa patina

Enquanto as grandes têm acesso a mercado de capitais, as menores sofrem com crédito mais caro e escasso e a concorrência dos produtos importados

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do crescimento da economia no ano passado, as pequenas e médias empresas, ao contrário das grandes, tiveram uma rentabilidade menor no primeiro semestre de 2007 do que no mesmo período de 2006, mostra estudo realizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pela Serasa com dados de 10.000 empresas.
Segundo a federação, para cada R$ 1 milhão investido para aumentar capacidade de produção, são criados 22 empregos nas pequenas e médias empresas e apenas cinco nas grandes.
As empresas de menor porte vêm sendo prejudicadas pela concorrência com importados -as compras de produtos de outros países vêm crescendo por conta da valorização do real diante da moeda americana, de 16,85% em 2007.
Além disso, apesar do crédito mais abundante na economia, os financiamentos ainda são caros e escassos para as pequenas e médias, e as grandes empresas têm outras opções, como o mercado de capitais, lançando ações nas Bolsas.
O estudo da Fiesp mostra que a rentabilidade dessas empresas (no levantamento foram consideradas pequenas e médias aquelas que têm faturamento anual de até R$ 50 milhões) foi de 6% nos primeiros seis meses de 2007, ante 6,3% no mesmo período de 2006. Das 10.000 empresas cujos dados foram utilizadas no estudo, 80% são pequenas e médias.

Grandes x pequenas
É a terceira queda consecutiva na comparação dos primeiros semestres. Já a rentabilidade das grandes, que também vinha caindo, se recuperou: ficou em 9,7% nos primeiros seis meses do ano passado, uma alta de 2,6 pontos percentuais ante o mesmo período de 2006.
A rentabilidade das grandes empresas analisadas no estudo foi superior a de aplicações financeiras mais conservadoras, como renda fixa (cuja remuneração foi de 5,5% no primeiro semestre) e fundos referenciados DI (com 5,1% no período).
"As pequenas empresas estão sofrendo uma concorrência muito grande, principalmente dos manufaturados importados", afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da federação.
O estudo mostra que o saldo de receitas financeiras e despesas financeiras das pequenas e médias empresas analisadas foi negativo: as despesas financeiras representaram no primeiro semestre do ano passado 95,1% do seu lucro líquido, enquanto as receitas financeiras representaram 31,7% do lucro líquido. Para as grandes empresas, as despesas financeiras representaram 51,9% do lucro.
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, aponta também que as despesas financeiras das pequenas e médias são maiores.
"Os juros estão caindo no Brasil mas ainda são muito altos, e caem muito mais para as grandes empresas. Além disso as grandes empresas tiveram uma capitalização muito forte via Bolsa de Valores e através da sua própria operação, o que permitiu que não pagassem tanto juros mais altos", analisou o consultor do Iedi.
Ele aponta ainda que o dólar desvalorizado em relação ao real levou muitas empresas de maior porte a compensarem esse processo com aplicações no mercado financeiro. "São mecanismos sofisticados e caros, aos quais as pequenas não têm acesso", disse.
Na análise do consultor, no primeiro semestre deste ano segmentos em que as pequenas e médias são tradicionalmente fortes, como vestuários, calçados e produtos de metal (excluindo máquinas e equipamentos), entre outros, não tiveram desempenho tão bom.
"No primeiro trimestre do ano passado o crescimento não foi tão grande e ficou concentrado em certos setores, como indústria automobilística, computadores e siderurgia, entre outros, onde a participação de empresas de menor porte é relativamente pequena", disse.
Para Roriz, o desempenho mais fraco das pequenas se reflete na geração de empregos. "Para piorar a situação, a indústria de manufaturas, que é a mais afetada, é a que mais emprega", diz o executivo.

Perspectivas
Para Almeida, do Iedi, os dados referentes ao segundo semestre de 2007 devem mostrar uma rentabilidade melhor para as pequenas e médias empresas. "Tenho a impressão que o primeiro trimestre de 2007 não foi bom para a economia, e foi concentrado em alguns setores da indústria", afirmou.
Segundo ele, os últimos meses do ano mostraram uma "generalização" maior do crescimento econômico do país, ou seja, o crescimento se deu em mais setores da indústria. "Por conta disso, talvez o resultado seja um pouco melhor para as pequenas e médias empresas."


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