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Para o professor, mudança só vai desafogar a pressão sobre as reservas
Nova política cambial é um "blefe", afirma Dornbusch
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
O economista Rudiger Dornbusch, 54, professor do mitológico MIT (Massachusetts Institute
of Technology), dos EUA, disse
que a nova política cambial do
Brasil é "um blefe".
"Serve apenas para desafogar
um pouco a pressão sobre as reservas brasileiras", afirmou em
entrevista, por telefone, à Folha.
Para Dornbusch, o fim da fuga
de dólares do país depende do
ajuste fiscal. "Um profundo ajuste fiscal, com um corte drástico de
gastos, é a condição para a volta
da confiança dos investidores."
"O Brasil tem um presidente
ineficiente, que só sabe gastar e
tomar emprestado."
Para o economista alemão naturalizado norte-americano, que
em suas análises costuma defender uma desvalorização de 25%
do real, os problemas fundamentais do Brasil não serão resolvidos
pela nova banda. A seguir, os
principais trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. avalia a mudança na política cambial?
Rudiger Dornbusch - É um blefe.
Não é uma maxidesvalorização,
não é uma mididesvalorização,
não é nada. Serve apenas para desafogar um pouco a pressão sobre
as reservas brasileiras. Quer dizer
apenas que o Plano Real não vai
acabar nesta semana.
Folha - Por quê?
Dornbusch - Porque os problemas do Brasil não se resolvem
com uma ampliação de 5% na
banda cambial. Os problemas do
Brasil são um gigantesco déficit
orçamentário, uma moeda significativamente sobrevalorizada e
um presidente que não cumpriu o
que prometeu no seu primeiro
mandato. Um presidente que é
ineficiente em tudo, menos em
gastar o dinheiro do contribuinte
e aumentar a dívida pública.
Folha - Mas ele interrompeu as
férias para ficar à frente da crise.
Dornbusch - O presidente deveria ter interrompido suas férias
há muito mais tempo. Deveria estar preocupado em buscar um
programa de reforma radical, capaz de fazer o país voltar a crescer. É uma ilusão acreditar que a
ampliação da banda vai resolver
os problemas do gigantesco déficit orçamentário, da moeda sobrevalorizada, da recessão e da
mega taxa de juros. A saída é uma
reforma nos moldes da Argentina. Mas o presidente prefere seguir o exemplo do México. O Brasil, hoje, lembra o México nos
meses que antecederam a crise.
Folha - A mudança cambial é
uma medida paliativa, então?
Dornbusch - Era a opção mais
fácil para o presidente.
Folha - Pode, pelo menos, inverter a tendência de queda na confiança externa?
Dornbusch - O Brasil precisa de
um importante ganho de confiança no exterior, mas isso não
virá da ampliação da banda. Virá
da percepção de disciplina fiscal.
Mas o mercado sabe que o presidente não tem poderes para obter
um profundo ajuste.
Folha - Para o governo, a mudança cambial vai "potencializar"
a queda dos juros.
Dornbusch - Não é o bastante. A
queda dos juros depende de um
forte programa fiscal. E isso o
presidente não pode ainda garantir. Ninguém tem razão para ter
confiança na política econômica
brasileira até que se veja não apenas a realização do atual esforço
fiscal, mas também uma perspectiva de um equilíbrio fiscal.
Folha - O país terá de rever o
acordo com o FMI?
Dornbusch - O FMI não pode fazer nada pelo presidente. Pode
colocar mais US$ 9 bilhões à disposição do Brasil, mas isso é apenas uma ponte para permitir que
o presidente cumpra sua promessa de ajuste fiscal.
Folha - Mas o Plano Real derrubou a inflação.
Dornbusch - O Real precisa de
uma contrapartida na forma de
estabilidade fiscal. Mas o problema é que o país está caminhando
em direção ao "Plano B". Todos
querem saber qual é esse plano.
Folha - Qual é, na sua opinião, o
"Plano B"?
Dornbusch - Vejo quatro hipóteses, que são excludentes. A primeira é um milagre.
Folha - Milagre?
Dornbusch - Sim, porque seria
uma profunda reforma fiscal.
Folha - E a segunda?
Dornbusch - A segunda seria o
presidente entender que, depois
de 20 anos sem crescimento do
PIB per capita, o Brasil precisa de
reformas radicais. A terceira é
uma desvalorização de 20% a
25% da moeda e uma reestruturação da dívida interna com o alongamento dos prazos de pagamento e a redução dos juros. E a quarta é a manutenção das políticas
atuais na esperança de que as
pressões desapareçam. Mas isso
pode levar o país a uma catástrofe
semelhante à crise russa.
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