São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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TRABALHO TEMPORÁRIO
Em Salvador, festa ocupa 120 mil pessoas; desemprego na capital baiana atinge 110.671
Carnaval congela desemprego na BA

Xando P./Folha Imagem
Funcionárias da confecção Chadi preparam shorts que foram encomendados por blocos de Salvador


LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

O Carnaval vai resolver, ao menos temporariamente, o problema de desemprego em Salvador. Durante a festa, 120 mil pessoas vão estar trabalhando.
Pesquisa do IBGE mostra que 9,3% da População Economicamente Ativa da região metropolitana de Salvador estava desocupada em dezembro passado -ou 110.671 pessoas.
Segundo a Emtursa (Empresa de Turismo de Salvador), 70% das vagas para o Carnaval, que acontece entre 4 e 7 de março, serão ocupadas por desempregados.
Mas, assim que a folia terminar, a falta de trabalho vai persistir em Salvador, segundo o diretor do Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo, Roberto Koga. "As vagas são para um mercado informal e temporário", disse.
Por enquanto, as 236 entidades cadastradas pela Emtursa (trios elétricos, blocos e trios independentes) querem contratar 80 mil cordeiros -pessoas que seguram cordas para impedir a entrada de foliões sem abadás (fantasias) nos trios- e seguranças.
Por oito horas diárias, em média, cada cordeiro vai ganhar R$ 60 durante o Carnaval. O pessoal encarregado pela segurança consegue embolsar mais -R$ 300, em média, pelos dias de festa.
"É pouco dinheiro para quem está empregado, mas é muito para quem está desempregado e tem família para sustentar e contas para pagar", disse José Antonio Marques Oliveira, 29, que participou de um curso gratuito para formação de cordeiros promovido pela Emtursa.
Desempregado há três anos, ele ainda não conseguiu um emprego formal como mecânico. "Sobrevivo fazendo bicos."
A Sesp (Secretaria de Serviços Públicos) está oferecendo 5.870 vagas para barraqueiros e ambulantes. Para ganhar o "ponto", os interessados pagam uma taxa que varia de R$ 18 (caixa de isopor) a R$ 500 (barracas localizadas no Campo Grande e na Barra, principais circuitos do evento).
Desempregado há três anos, Railton Souza, 24, recebeu licença da prefeitura para vender bebidas em Itapuã. "No ano passado, tive um lucro de R$ 800 durante o Carnaval. Neste ano, acho que vou faturar pelo menos R$ 1.000."
Para ele, as festas populares são a "salvação" de quem está desempregado. "Se o trabalho formal está difícil, as festas de verão oferecem muitas oportunidades."
Desempregada há quatro anos, Lúcia Sales, 31, pagou R$ 58,42 à Prefeitura de Salvador para poder vender batata frita. "O meu ponto fica na Barra. É ótimo. No ano passado, tive R$ 650 de lucro, trabalhando oito horas por dia."
Estão sendo contratados também decoradores, técnicos em iluminação e som, montadores, pessoal para divulgação de eventos e empresas de serviços gerais (veja quadro). Os salários variam de R$ 80 a R$ 150 ao dia, dependendo da especialidade.
Segundo Eliana Dumet, presidente da Emtursa, as contratações temporárias nesta época do ano são importantes para manter a qualidade dos serviços oferecidos aos 800 mil visitantes que invadem Salvador. A cidade já registra uma taxa recorde de ocupação hoteleira. Pesquisa da Bahiatursa (órgão oficial de turismo), feita no início de fevereiro em 29 hotéis de diversos padrões, apontou taxa de hospedagem de 86% -a maior dos últimos dez anos.
"A desvalorização do real contribuiu para o crescimento do fluxo turístico", disse o gerente de Estudos Econômicos da Bahiatursa, Jorge Antônio Santos Silva.


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