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EVENTO FOLHA
Palestra integra ciclo "Com Todas as Letras", que traz membros da Academia Brasileira de Letras para conversar com o público
Roberto Campos fala sobre neoliberalismo
ANDRÉ LUIZ GHEDINE
do Banco de Dados
A Folha e a Academia Brasileira de
Letras promovem
hoje, às 19h30, a palestra "Cadê o neoliberalismo?", com
a presença de Roberto Campos. A
palestra faz parte do ciclo "Com
Todas as Letras", que traz membros da Academia Brasileira de
Letras para conversar com o público.
O diplomata e economista Roberto de Oliveira Campos, 82, tomou posse na cadeira nº 21 da
ABL (Academia Brasileira de Letras), antes ocupada pelo dramaturgo Dias Gomes, em outubro de
1999. A escolha foi precedida de
muita polêmica. Um grupo de
acadêmicos, entre eles Barbosa
Lima Sobrinho, Celso Furtado e
João Ubaldo Ribeiro, se opôs ao
nome de Campos.
A mulher de Dias Gomes, Bernadeth Lyzio, ameaçou transferir
o corpo do marido do mausoléu
da ABL por causa da candidatura
do economista.
O episódio ilustra bem a controvérsia que o nome Roberto Campos ainda causa. Tido por admiradores como intelectual notável
e por adversários como um ícone
da direita brasileira, Campos
sempre desperta reações. "Sou
um homem controverso, não sou
homem de unanimidades", diz.
Roberto Campos nasceu em
Cuiabá (MT), em 17/4/1917. Estudou em um seminário em Guaxupé (MG), de onde saiu em 1937.
Mudou-se para Batatais (SP) e lá
conheceu Estela, com quem se casou e teve três filhos.
Foi a partir de 1939 que a vida de
Roberto Campos começou a se
misturar com a história do Brasil.
Após ser rejeitado para empregos de escriturário e inspetor de
ensino, Campos prestou concurso para o Itamaraty e passou em
primeiro lugar. Como adido comercial da embaixada brasileira
em Washington (EUA), tomou
gosto pela economia, concluindo
doutorado pela Universidade de
Columbia, em Nova York.
Na doutrina econômica, adotou
como guru -assim como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher- o economista
austríaco Friedrich von Hayek
(1899-1992), ultraliberal e Prêmio
Nobel de Economia.
No governo Getúlio Vargas
(1951-1954), Campos participou
da criação da Petrobras -seu
projeto original previa uma empresa mista sob controle majoritário do Estado, e não uma estatal.
Em 1952, assumiu o cargo de diretor do BNDE (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico), atual BNDES, que havia ajudado a criar. Deixou o banco em
1953 e foi nomeado cônsul em Los
Angeles (EUA). Ao voltar, tomou
parte na formulação do Plano de
Metas e o Plano de Estabilização
Monetária, do governo Juscelino
Kubitschek, e, em 1959, foi nomeado embaixador do Brasil nos
EUA. Após a instauração do regime militar, em 1964, tornou-se
ministro do Planejamento do governo Castello Branco.
No ministério, elaborou o Paeg
(Plano de Ação Econômica do
Governo), que procurava coordenar quatro políticas: a fiscal, a monetária, a cambial e a salarial.
Entre as mais importantes reformas que capitaneou estão a
criação do Banco Central e do
Conselho Monetário Nacional
(CMN), a reforma fiscal, a criação
do BNH (Banco Nacional da Habitação), do Sistema Financeiro
da Habitação e do FGTS (Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço). Modernizaram-se o comércio exterior, a arrecadação tributária, o mercado de capitais. Foi
criada a correção monetária, uma
de suas mais polêmicas medidas.
Depois de oito anos como embaixador no Reino Unido, voltou
ao Brasil em 1982 e foi eleito senador pelo PDS de Mato Grosso.
A esse mandato seguiram-se
outros dois, como deputado federal pelo Rio (1991-1999). Em 1998,
perdeu a disputa para o Senado
para Saturnino Braga (PSB-RJ).
Foi Campos quem deu o primeiro voto - e favorável- na
sessão que definiu a abertura de
processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992. Doente,
em cadeira de rodas, ele foi a Brasília especialmente para a sessão.
Mordaz e ótimo frasista, Campos disse, durante a polêmica por
sua escolha para a Academia Brasileira de Letras, que as "esquerdas queriam criar uma reserva de
mercado" para as vagas que surgissem na academia.
Em 1997, autonomeou-se "advogado de defesa de Fernando
Henrique", contra a acusação de
que o presidente seria neoliberal.
Disse que FHC ainda tinha um
"sotaque socialista".
Campos escreveu mais de 20 livros. Em 1994, lançou "Lanterna
na Popa", seu livro de memórias,
e, em 1996, "Antologia do Bom
Senso" (ambos pela Topbooks).
Roberto Campos é colunista da
Folha desde dezembro de 1994.
Palestra: "Cadê o neoliberalismo?", de
Roberto Campos
Onde: Auditório da Folha (al. Barão de
Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos,
região central).
Quando: Hoje, às 19h30
Quanto: Grátis. É necessário fazer
reservas, das 14h às 17h, pelo telefone
0/xx/11/224-3473.
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