São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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EVENTO FOLHA
Palestra integra ciclo "Com Todas as Letras", que traz membros da Academia Brasileira de Letras para conversar com o público
Roberto Campos fala sobre neoliberalismo

ANDRÉ LUIZ GHEDINE
do Banco de Dados

A Folha e a Academia Brasileira de Letras promovem hoje, às 19h30, a palestra "Cadê o neoliberalismo?", com a presença de Roberto Campos. A palestra faz parte do ciclo "Com Todas as Letras", que traz membros da Academia Brasileira de Letras para conversar com o público.
O diplomata e economista Roberto de Oliveira Campos, 82, tomou posse na cadeira nº 21 da ABL (Academia Brasileira de Letras), antes ocupada pelo dramaturgo Dias Gomes, em outubro de 1999. A escolha foi precedida de muita polêmica. Um grupo de acadêmicos, entre eles Barbosa Lima Sobrinho, Celso Furtado e João Ubaldo Ribeiro, se opôs ao nome de Campos.
A mulher de Dias Gomes, Bernadeth Lyzio, ameaçou transferir o corpo do marido do mausoléu da ABL por causa da candidatura do economista.
O episódio ilustra bem a controvérsia que o nome Roberto Campos ainda causa. Tido por admiradores como intelectual notável e por adversários como um ícone da direita brasileira, Campos sempre desperta reações. "Sou um homem controverso, não sou homem de unanimidades", diz.
Roberto Campos nasceu em Cuiabá (MT), em 17/4/1917. Estudou em um seminário em Guaxupé (MG), de onde saiu em 1937. Mudou-se para Batatais (SP) e lá conheceu Estela, com quem se casou e teve três filhos.
Foi a partir de 1939 que a vida de Roberto Campos começou a se misturar com a história do Brasil.
Após ser rejeitado para empregos de escriturário e inspetor de ensino, Campos prestou concurso para o Itamaraty e passou em primeiro lugar. Como adido comercial da embaixada brasileira em Washington (EUA), tomou gosto pela economia, concluindo doutorado pela Universidade de Columbia, em Nova York.
Na doutrina econômica, adotou como guru -assim como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher- o economista austríaco Friedrich von Hayek (1899-1992), ultraliberal e Prêmio Nobel de Economia.
No governo Getúlio Vargas (1951-1954), Campos participou da criação da Petrobras -seu projeto original previa uma empresa mista sob controle majoritário do Estado, e não uma estatal.
Em 1952, assumiu o cargo de diretor do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), atual BNDES, que havia ajudado a criar. Deixou o banco em 1953 e foi nomeado cônsul em Los Angeles (EUA). Ao voltar, tomou parte na formulação do Plano de Metas e o Plano de Estabilização Monetária, do governo Juscelino Kubitschek, e, em 1959, foi nomeado embaixador do Brasil nos EUA. Após a instauração do regime militar, em 1964, tornou-se ministro do Planejamento do governo Castello Branco.
No ministério, elaborou o Paeg (Plano de Ação Econômica do Governo), que procurava coordenar quatro políticas: a fiscal, a monetária, a cambial e a salarial.
Entre as mais importantes reformas que capitaneou estão a criação do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional (CMN), a reforma fiscal, a criação do BNH (Banco Nacional da Habitação), do Sistema Financeiro da Habitação e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Modernizaram-se o comércio exterior, a arrecadação tributária, o mercado de capitais. Foi criada a correção monetária, uma de suas mais polêmicas medidas.
Depois de oito anos como embaixador no Reino Unido, voltou ao Brasil em 1982 e foi eleito senador pelo PDS de Mato Grosso.
A esse mandato seguiram-se outros dois, como deputado federal pelo Rio (1991-1999). Em 1998, perdeu a disputa para o Senado para Saturnino Braga (PSB-RJ).
Foi Campos quem deu o primeiro voto - e favorável- na sessão que definiu a abertura de processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992. Doente, em cadeira de rodas, ele foi a Brasília especialmente para a sessão.
Mordaz e ótimo frasista, Campos disse, durante a polêmica por sua escolha para a Academia Brasileira de Letras, que as "esquerdas queriam criar uma reserva de mercado" para as vagas que surgissem na academia.
Em 1997, autonomeou-se "advogado de defesa de Fernando Henrique", contra a acusação de que o presidente seria neoliberal. Disse que FHC ainda tinha um "sotaque socialista".
Campos escreveu mais de 20 livros. Em 1994, lançou "Lanterna na Popa", seu livro de memórias, e, em 1996, "Antologia do Bom Senso" (ambos pela Topbooks).
Roberto Campos é colunista da Folha desde dezembro de 1994.



Palestra: "Cadê o neoliberalismo?", de Roberto Campos
Onde: Auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, região central).
Quando: Hoje, às 19h30
Quanto: Grátis. É necessário fazer reservas, das 14h às 17h, pelo telefone 0/xx/11/224-3473.


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