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MÃO ABERTA
Setor, com renda de 4 a 10 salários mínimos, endivida-se mais e consome quase tanto quanto classes A e B
Classe C puxa alta generalizada do consumo
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Todas as classes socioeconômicas registraram ganhos no consumo no ano passado, quando o PIB
do país teve uma pequena alta de
2,3%. A diferença foi a intensidade desse crescimento, informa levantamento anual da consultoria
LatinPanel publicado ontem.
Pelo segundo ano consecutivo,
em 2005 a classe média classificada como C -com renda mensal
familiar entre 4 e 10 salários mínimos- comprou e gastou mais.
Isso só aconteceu porque essa turma se endividou para gastar, explica a LatinPanel.
A expansão na quantidade de
itens comprados nas lojas por esses consumidores C foi de 7%.
Quanto ao gasto médio, a alta foi
de 10% em relação a 2004 (nominal). Na média, todas as classes
sociais (de A a E) registraram elevação média de 6% no volume adquirido e de 9% no montante gasto no ano passado -abaixo, portanto, do desempenho do grupo
de consumidores da classe C.
Outra conclusão da pesquisa é a
de que, na cidade de São Paulo, a
quantidade de itens comprados
por todas as classes e o volume
gasto supera a média nacional.
Pelas contas dos pesquisadores
da LatinPanel, enquanto o topo
da pirâmide social (classes A e B)
gasta por mês em compras R$
2.256, a sua renda está acima disso
e, portanto, a conta "fecha". Já
quem está no meio da pirâmide
(classe C) recebe R$ 1.255 mensais
e desembolsa R$ 1.369. Ou seja,
não há mágica: falta dinheiro.
"Esse grupo recebe como classe C
e pensa e gasta como A. Sem saída, acaba se endividando", diz
Margareth Ikeda Utimura, diretora comercial da LatinPanel.
"Atualmente, o comprador da
classe C adquire 42 das 45 categorias mais consumidas pela A e B,
como condicionador, suco pronto, pós-xampu."
Nessa conta, para acomodar
despesas e rendimento, a classe
média brasileira está com mais dívidas em comparação aos dois extremos da pirâmide, as classes A e
E. Foram pesquisados 45 milhões de domicílios no país em 71 categorias de
produtos em julho e agosto.
Os campeões de venda
Mesmo tendo de recorrer a mecanismos de crédito para consumir, é inegável que a elevação na
renda ajudou a população a gastar
mais. O IBGE apurou elevação de
2% no rendimento real em 2005.
Pela análise da LatinPanel, a alta
foi de 4%. Mais de 1,8 milhão de
lares que não compravam nenhuma das 71 categorias pesquisadas
voltou a consumi-las -ou o fez
pela primeira vez- em 2005.
Cerca de 300 mil domicílios retornaram ao mercado por causa das
promoções no comércio.
Os maiores crescimentos na demanda (em variação percentual)
em 2005 foram, pela ordem: suco
em pó, desodorante, pós-xampu,
massa instantânea, catchup, salgadinhos, petit suisse (iogurte infantil), caldos, sucos prontos e
xampu. Por segmento, o campeão
de vendas no ano foi higiene e beleza (alta de 11%). Alimentos teve
o pior resultado (4%).
Esses números apresentados
ontem ganham importância porque: 1) a base de comparação de
2004 é forte, logo, houve expansão
na demanda em cima de outra expansão; 2) revela uma tendência
para 2006 -espera-se que esse
cenário de altas nas vendas, com
base em crédito barato, mantenha-se neste ano para a classe média.
"Surpreendemo-nos com essa
puxada no consumo da classe C.
Ainda acreditamos que será o crédito que vai sustentar essa alta
também em 2006, com a possível
queda nos juros, somada a algum
ganho de renda", diz Utimura. Há
uma expectativa de que a expansão no PIB neste ano atinja até
4%, pelas previsões do mercado.
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