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OPINIÃO ECONÔMICA
Ser um Bric
BENJAMIN STEINBRUCH
O estudo da Goldman Sachs
"Dreaming With Brics: The
Path to 2050" (Sonhando com os
Brics: o caminho para 2050) foi
uma das melhores coisas que ocorreram ao Brasil em matéria de
imagem internacional neste início
século. Concluído em outubro de
2003, esse trabalho criou o acróstico famoso que colocou o Brasil e
mais Rússia, Índia e China no bloco emergente predestinado a se tornar a principal força da economia
mundial até meados do século 21.
Ser um Bric, hoje, tem uma enorme importância. As decisões econômicas, em qualquer escala, principalmente de investimentos, são tomadas em grande parte com base
em expectativas.
É inaceitável, portanto, que o
Brasil comece a ficar para traz na
comparação com os outros Brics.
Nos primeiros seis anos do século
(consideradas as previsões para
2006), a economia brasileira deve
acumular crescimento de pouco
mais de 15%. Esse desempenho está
abaixo do projetado pelo Goldman
Sachs para o país no período. Pior:
está muito aquém do crescimento
obtido pelos outros três países companheiros de bloco (veja quadro),
que devem superar com folga as
projeções. A China deve crescer
63%, a Índia, 43%, e a Rússia, 41%.
Sabemos muito bem por que o
Brasil está ficando para trás. Segundo a "doutrina" neoliberal, o
país não pode crescer mais do que
3% a 3,5% ao ano -o tal do crescimento potencial-, porque isso ressuscitaria o dragão da inflação. Tomo emprestada a expressão de Nelson Rodrigues para dizer que esse é
um "complexo de vira-lata" brasileiro. Mas essa discussão não é objeto deste artigo. Quero lembrar
que continuar atrelado aos Brics,
marca da moda, traz inúmeras
vantagens econômicas para o Brasil. Todos acreditam que o crescimento mundial nas próximas décadas se concentrará nesse bloco,
onde haverá a maior possibilidade
de valorização de ativos. E as grandes corporações multinacionais,
cada vez mais, tenderão a ver nos
Brics as melhores possibilidades de
retorno para seus investimentos.
O país precisa estar atento para
se beneficiar dessa predisposição
internacional em favor dos países
emergentes, e em especial do Bric.
Uma interessante reportagem feita
pela revista "The Economist", em
janeiro, resgatou estudos históricos
mostrando que os emergentes dominaram a economia mundial até
o século 18, considerando-se o PIB
pela paridade do poder de compra
(PPC). Só depois do advento da Revolução Industrial, no século 19, os
atuais países hoje ricos passaram a
ter a maior parcela do PIB. Agora,
no século 21, a economia estaria
empreendendo o caminho de volta,
para a situação de divisão compartilhada da riqueza da época da
pré-revolução industrial. A "The
Economist" calcula que, já em
2005, considerado o PIB pela PPC,
emergentes e Primeiro Mundo se
equivalem em poder econômico.
A ressurreição dos emergentes se
dá, obviamente, pela liderança dos
Brics. Parece óbvio que o Brasil precisa colar nesse bloco de vanguarda. Esse noivado longo e penoso
com a América Latina e o Mercosul vale a pena, mas demorará. A
maior parte dos países da América
Latina está de olhos voltados para
outro noivo, os EUA (parceiro que
nunca podemos desdenhar). Em
vez de pensar em Mercosul, melhor
seria pensar em Mercobric, esse sim
um bloco no qual o Brasil pode ser
favorecido. Com seu enorme potencial agrícola, Brasil e Rússia têm todas as condições de pegar carona
no crescimento de Índia e China.
Entre os quatro Brics, o Brasil é
seguramente o que tem maior potencial para se beneficiar nessa corrida conjunta para o Primeiro
Mundo. Não há razões para ficar
para trás. O país tem enormes recursos naturais e a grande possibilidade de desenvolvimento agrícola
em razão de clima favorável, insolação e solo fértil. Não enfrenta problemas religiosos, o regime democrático está consolidado e estável, o
sistema financeiro é sólido e as instituições são respeitadas.
Olhe para os outros parceiros dos
Brics e verá que nenhum reúne todas essas qualidades. Superar o
"complexo de vira-lata" e enriquecer é uma possibilidade concreta
para o Brasil neste século. Trata-se
de uma corrida de longa distância,
na qual os corredores que pretendem vencer precisam manter-se no
bloco da frente. Não é necessário
estar sempre em primeiro. Mas em
último e longe não pode ser!
Benjamin Steinbruch, 52, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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