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LUÍS NASSIF
A imolação da Varig
Não tem cabimento essa
processo de imolação de
Varig. Os defensores do fim da
Varig se baseiam em princípios
incorretos, em preconceitos que
impedem de enxergar a solução
que seja melhor para todos: funcionários, credores e país.
Engano 1 - se uma empresa é
operacionalmente viável, mesmo que o resultado operacional
seja insuficiente para pagar as
dívidas, fechá-la significará aumentar o prejuízo dos credores. É
por isso que, no limite, credores
aceitam deságio do que têm a receber, entregando os anéis para
não perder os dedos. Com a Varig fechada, todos perderão anéis
e dedos. A dívida continuará a
mesma, mas o valor da companhia virará pó.
Engano 2 - supor que os males
que afligem a Varig são de responsabilidade geral de todos os
funcionários. O problema da Varig é governança, um esquema
de poder torto que permitiu a
um grupo se encastelar no seu
comando e depená-la. Sem a
Fundação Ruben Berta, a Varig
é uma empresa plenamente viável, com valores corporativos que
não foram contaminados, na
base, pela ação deletéria de seus
gestores.
Engano 3 - uma empresa não
pode ser avaliada pelos seus ativos fixos. Se fosse assim, bastaria
fechar a empresa e ratear os ativos entre os credores. Mas se trata de uma forma contabilmente
arcaica de medir valor. A Varig
vale menos por suas instalações,
vale mais pela sua tripulação,
pela equipe de manutenção, pela
parte administrativa, pela estrutura comercial, pela operação
em vários países e em várias cidades do país. Tudo isso virará
pó se a empresa for fechada.
Engano 4 - como o mercado está crescendo, não haverá problema social com os 11 mil funcionários que serão desempregados.
Ledo engano! Há direitos trabalhistas relevantes que desaparecerão em caso de fechamento da
companhia, carreiras serão ceifadas, com funcionários experientes tendo que recomeçar em
cargos menores em outras companhias, com outra cultura.
Por isso mesmo, não era hora
de a Secretaria de Previdência
Complementar intervir no fundo
Aerus, o grande instrumento de
que dispunham os funcionários
para impedir o fim da companhia.
Fantástico e Suzane
Recebo e-mail de Ali Kamel,
diretor-executivo de jornalismo
da Central Globo de Jornalismo,
em relação às críticas que fiz ao
"Fantástico", por ter divulgado
as orientações do advogado a
Suzane von Richthofen.
Infelizmente, o espaço da coluna é insuficiente para dá-lo
na íntegra. Segundo ele, não
houve propósito de gravar a
orientação do advogado à cliente. Só perceberam posteriormente, "não tendo havido, portanto,
nenhuma invasão de privacidade". A invasão não consiste em
gravar inadvertidamente conversas de terceiros, mas em divulgá-la.
Indaga ele, no final: "Diante
de suas indagações, fico imaginando como você teria agido:
publicaria a entrevista escondendo o que estava por trás dela? Duvido". Certamente teria
mencionado a encenação, mas
contextualizado, explicado ao
telespectador a dificuldade de
montar uma linha de defesa
com uma opinião pública que já
prejulgou. Agora, ao longo da
minha carreira, tomei a decisão
de jamais publicar conversas em
que o entrevistado não fosse expressamente informado de que
as declarações seriam publicadas com menção da fonte.
Em todo caso, é uma discussão
que merece ser ampliada.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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