São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Poupança de US$ 1,3 tri das grandes corporações deve elevar investimentos, mas também pressionar inflação

Empresas "nadam em dinheiro", diz FMI

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

As grandes corporações presentes nas maiores economias do mundo estão "nadando em dinheiro" e sem dívidas dentro de um ambiente "benigno" de crescimento e de inflação controlada.
No total, as empresas que atuam a partir do G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) têm hoje US$ 1,3 trilhão em caixa. O patrimônio foi acumulado a partir do ano 2000, após o trauma do endividamento e da crise provocada pelo estouro da chamada "bolha da internet".
Os dados e o termo "nadando em dinheiro" constam no relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", divulgado ontem em teleconferência pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). O Fundo faz na semana que vem, em Washington, a primeira de suas duas reuniões anuais.
O US$ 1,3 trilhão equivale a duas vezes o total dos superávits em conta corrente (medida da liquidez de um país) de todas as economias em desenvolvimento combinadas. Em algumas regiões do mundo, esses superávits também nunca foram tão elevados.
A combinação entre liquidez no setor corporativo nas economias centrais e os superávits entre os emergentes coloca no horizonte um novo ciclo de investimentos.
A nova fase de gastos será acompanhada, segundo o Fundo, por um aumento das pressões inflacionárias e, conseqüentemente, por uma perspectiva de aumento de juros em nível internacional. O Fundo, no entanto, não espera solavancos nesse processo.
De acordo com o economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan, o Brasil e demais países emergentes podem se beneficiar desse novo ciclo desde que façam a lição de casa. "A responsabilidade pelo aumento dos investimentos é de cada país, pois requer uma melhora no ambiente de negócios para que se possa atrair esse dinheiro", afirma.
Em 2005, o Brasil foi colocado na 119ª posição entre 155 países em um novo ranking do Banco Mundial que avaliou o clima para fazer negócios no mundo.

Crescimento e inflação
Na semana que vem, o FMI divulgará oficialmente sua previsão de crescimento para o mundo. Dados "vazados" pelo Fundo na Ásia apontam para um crescimento global de 4,9% em 2006. Se confirmada essa projeção, será o quarto ano seguido de taxas superiores a 4% -algo não visto há quase 35 anos.
O FMI alerta de que o novo ciclo de investimentos pela frente não poderá contar tanto com os efeitos positivos da globalização para atenuar pressões inflacionárias.
Até três anos atrás, análises do Fundo mostraram que os efeitos da globalização foram responsáveis por um corte de até um ponto percentual na inflação de algumas economias avançadas. Principalmente por causa da maior competição dos produtos importados e do interfinanciamento global.
As importações em massa e o fluxo maior de capitais ajudam a explicar, por exemplo, como os Estados Unidos podem consumir 7% acima do valor de seu próprio PIB (Produto Interno Bruto) sem sofrer maiores pressões inflacionárias.
Mas o FMI alerta de que as vantagens da globalização estão no limite. Hoje, o nível elevado de crescimento global pressiona tanto os preços do petróleo quanto os das commodities para níveis em que as importações também passam a ser inflacionárias.
"Chegou o momento em que os bancos centrais devem começar a se preparar, pois seu trabalho vai começar a ficar mais difícil", afirma o indiano Rajan.
O FMI diz também que, para as economias como a brasileira, a diminuição do fluxo de dólares para os emergentes provocada pelos juros maiores no Primeiro Mundo será menos traumática. Na história recente, nunca tantos emergentes tiveram tantos superávits.
Nos últimos quatro anos, foram exatamente os juros internacionais baixos -aliados aos cortes de impostos para as grandes corporações, sobretudo nos EUA- os maiores responsáveis, segundo o Fundo, pelo enxugamento das dívidas corporativas e acumulação de capital a partir de 2000.
As empresas também investiram menos e puderam comprar equipamentos em um mercado em baixa. Mas a capacidade ociosa global estaria chegando ao limite, daí a necessidade e a oportunidade de retomar investimentos.


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