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ECONOMIA GLOBAL
Poupança de US$ 1,3 tri das grandes corporações deve elevar investimentos, mas também pressionar inflação
Empresas "nadam em dinheiro", diz FMI
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
As grandes corporações presentes nas maiores economias do
mundo estão "nadando em dinheiro" e sem dívidas dentro de
um ambiente "benigno" de crescimento e de inflação controlada.
No total, as empresas que atuam
a partir do G7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) têm hoje US$ 1,3 trilhão em caixa. O patrimônio foi
acumulado a partir do ano 2000,
após o trauma do endividamento
e da crise provocada pelo estouro
da chamada "bolha da internet".
Os dados e o termo "nadando
em dinheiro" constam no relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", divulgado ontem
em teleconferência pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional). O Fundo faz na semana que
vem, em Washington, a primeira
de suas duas reuniões anuais.
O US$ 1,3 trilhão equivale a duas
vezes o total dos superávits em
conta corrente (medida da liquidez de um país) de todas as economias em desenvolvimento
combinadas. Em algumas regiões
do mundo, esses superávits também nunca foram tão elevados.
A combinação entre liquidez no
setor corporativo nas economias
centrais e os superávits entre os
emergentes coloca no horizonte
um novo ciclo de investimentos.
A nova fase de gastos será
acompanhada, segundo o Fundo,
por um aumento das pressões inflacionárias e, conseqüentemente,
por uma perspectiva de aumento
de juros em nível internacional. O
Fundo, no entanto, não espera solavancos nesse processo.
De acordo com o economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan, o
Brasil e demais países emergentes
podem se beneficiar desse novo
ciclo desde que façam a lição de
casa. "A responsabilidade pelo
aumento dos investimentos é de
cada país, pois requer uma melhora no ambiente de negócios
para que se possa atrair esse dinheiro", afirma.
Em 2005, o Brasil foi colocado
na 119ª posição entre 155 países
em um novo ranking do Banco
Mundial que avaliou o clima para
fazer negócios no mundo.
Crescimento e inflação
Na semana que vem, o FMI divulgará oficialmente sua previsão
de crescimento para o mundo.
Dados "vazados" pelo Fundo na
Ásia apontam para um crescimento global de 4,9% em 2006. Se
confirmada essa projeção, será o
quarto ano seguido de taxas superiores a 4% -algo não visto há
quase 35 anos.
O FMI alerta de que o novo ciclo
de investimentos pela frente não
poderá contar tanto com os efeitos positivos da globalização para
atenuar pressões inflacionárias.
Até três anos atrás, análises do
Fundo mostraram que os efeitos
da globalização foram responsáveis por um corte de até um ponto
percentual na inflação de algumas
economias avançadas. Principalmente por causa da maior competição dos produtos importados
e do interfinanciamento global.
As importações em massa e o
fluxo maior de capitais ajudam a
explicar, por exemplo, como os
Estados Unidos podem consumir
7% acima do valor de seu próprio
PIB (Produto Interno Bruto) sem
sofrer maiores pressões inflacionárias.
Mas o FMI alerta de que as vantagens da globalização estão no limite. Hoje, o nível elevado de
crescimento global pressiona tanto os preços do petróleo quanto os
das commodities para níveis em
que as importações também passam a ser inflacionárias.
"Chegou o momento em que os
bancos centrais devem começar a
se preparar, pois seu trabalho vai
começar a ficar mais difícil", afirma o indiano Rajan.
O FMI diz também que, para as
economias como a brasileira, a diminuição do fluxo de dólares para
os emergentes provocada pelos
juros maiores no Primeiro Mundo será menos traumática. Na história recente, nunca tantos emergentes tiveram tantos superávits.
Nos últimos quatro anos, foram
exatamente os juros internacionais baixos -aliados aos cortes
de impostos para as grandes corporações, sobretudo nos EUA-
os maiores responsáveis, segundo
o Fundo, pelo enxugamento das
dívidas corporativas e acumulação de capital a partir de 2000.
As empresas também investiram menos e puderam comprar
equipamentos em um mercado
em baixa. Mas a capacidade ociosa global estaria chegando ao limite, daí a necessidade e a oportunidade de retomar investimentos.
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