São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE NO MERCOSUL Plano prevê mais impostos e privatizações; população reage com panelaço e ameaça de greve geral Uruguai faz pacote anticontágio argentino
LÉO GERCHMANN DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE O governo do Uruguai lançou no domingo um pacote para tentar evitar a contaminação total de sua economia pela crise argentina. O resultado foi um panelaço que durou toda a madrugada de ontem em Montevidéu e a ameaça de greve geral pelas principais centrais sindicais do país. O pacote, anunciado em rede de rádio e TV pelo presidente Jorge Batlle na noite de anteontem, edita uma série de medidas impopulares na chamada ""lei de urgência" -que ainda precisa de aprovação pelo Congresso. Há aumento de impostos e privatizações, a serem apresentados hoje ao Legislativo. Houve protestos na capital e nas principais cidades do país. Não há estimativa de quantos foram às ruas, e não houve registro de violência. Com o objetivo de cortar gastos e arrecadar mais, o governo uruguaio, maior defensor no Mercosul da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), pretende, também, reformar a Constituição para diminuir o número de deputados e vereadores em todo o país, com uma reforma eleitoral. Uma das empresas a serem privatizadas é a Pluna, de aviação, da qual o governo tem 49% das ações. De acordo com Batlle, o país deve enfrentar especialmente dois problemas na área econômica: déficit fiscal e a debilidade do sistema financeiro. Para tanto, ficou definido um aumento no IVA (Imposto sobre Valor Agregado) para diversos setores. Áreas antes isentas, como água e transportes, agora terão IVA de 14%. O imposto sobre rendimentos de trabalhadores e aposentados também terá aumentos para quem ganha mais de US$ 200 mensais. Batlle conta com sua maioria no Congresso para aprovar as mudanças. O presidente tem 33 votos de seu Partido Colorado, aliados a 22 do Partido Blanco. A oposição fica com 40 votos da Frente Ampla e 4 da Nuevo Espacio. Mais adiante, segundo o presidente, haverá a fusão de alguns ministérios. A repercussão das medidas foi negativa por parte da oposição, especialmente a esquerdista Frente Ampla. Setores do Partido Blanco ficaram contrariados. Empresários criticaram não haver medidas para o aquecimento da economia. Batlle fez, em seu pronunciamento, uma crítica indireta aos sócios no Mercosul, especialmente à Argentina, com quem o Uruguai mantém o maior número de negócios. ""Não podemos seguir atados a uma economia que nos traz tantas complicações", disse, justificando, também, as negociações com os EUA para a definição do comércio bilateral. ""Peço um esforço e assumo a responsabilidade política dos meus atos", disse Batlle, que recentemente apresentou moção de censura a Cuba na comissão de direitos humanos da ONU -dias depois, o governo norte-americano elogiou a forma com que a economia uruguaia é conduzida. O Uruguai receberá financiamento de US$ 1 bilhão do Bird (Banco Mundial) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), os quais se somam aos US$ 743 milhões de empréstimo já definidos pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). O país, tradicionalmente com alto padrão de vida -seu analfabetismo é de 3,1% em uma população 3,36 milhões de pessoas- começa a sentir a crise. A taxa de desemprego foi a 14,8%. No início do mês, já haviam sido anunciadas medidas como a manutenção de uma desvalorização mensal de 2,4% do peso uruguaio e uma variação possível de 12% na banda cambial. Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Argentina usa reservas e paga dívida com Bird Índice |
|