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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Descompasso entre quedas de preços no atacado e no varejo preocupa analistas e justificaria manutenção

Inflação cai, mas corte nos juros é incerto

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Índice oficial de inflação e principal referência para a política monetária do governo, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) teve queda em abril: ficou em 0,97%, contra 1,23% em março. A inflação desacelerou, mas ainda não o suficiente para justificar uma redução dos juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos dias 20 e 21 de maio.
Os motivos que apontam para essa direção estão na própria ata da última reunião do Copom. O texto alertava para a inércia inflacionária (contaminação de índices recentes por aumentos antigos) e para a queda dos indicadores em ritmo inferior ao esperado. Além desses motivos, há também um descompasso entre as quedas dos preços no atacado e no varejo.
Ontem também foi divulgada a taxa do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), que recuou em abril e atingiu 0,41%, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas). Foi a menor taxa desde março do ano passado, quando ficou em 0,11%.
O IPA (Índice de Preços no Atacado) apresentou variação de apenas 0,07% em abril, contra 1,93% no mês anterior. Já o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) subiu ligeiramente e passou de 1,06% em março para 1,12% em abril.
De sete economistas consultados ontem pela Folha, cinco afirmam que ainda não é hora de baixar os juros, pois a inflação se mantém em um nível elevado e o recuo dos preços em abril não se deu de forma generalizada. Dois apostam numa queda discreta já em maio (de meio a um ponto percentual), dizendo que a inflação já cedeu e que a tendência é a de queda contínua.
Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 16,77%. No ano, a inflação oficial está em 6,15%. A meta oficial é de 8,5% neste ano, mas o próprio Banco Central admite que sua mira está dirigida para o final de 2004, quando espera alcançar uma taxa de 5,5%.

Dólar no consumidor
Ao comentar o recuo do IPCA, Eulina Nunes dos Santos, economista do IBGE, afirmou: "A queda do dólar já chegou ao consumidor, não só nos alimentos, como já havia acontecido no mês passado [março", mas também em outros preços".
Luiz Afonso Lima, do BBV. "O BC teve uma postura correta de não reduzir os juros até agora. Ainda não é o caso de um relaxamento da política monetária", afirmou. Tanto Lima quanto Marcela Prada, da Tendências, afirmam que o núcleo da inflação ainda está alto demais para um corte de juros neste momento.
O IBGE não calcula o núcleo do IPCA, mas, de acordo com Prada, a queda teria sido muito pequena: de 1,23% em março para 1,10% em abril. Por isso, Lima e Prada prevêem uma redução da taxa Selic só daqui a um ou dois meses.
Luiz Suzigam, da consultoria LCA, e Carlos Thadeu de Freitas Filho, do Instituto de Economia da UFRJ, defendem uma redução ainda que modesta já em maio. Seria, dizem, um sinal para o setor produtivo de que a tendência é essa e será mantida.
Freitas Filho aponta que os preços dos serviços, mais sensíveis à política monetária, estão em queda livre -de 1,16% em abril para 0,60%-, o que justificaria uma diminuição da Selic.
Para Luiz Roberto Cunha, da Fecomércio-RJ e da PUC-RJ, um corte de meio ponto não reativaria a economia. "É melhor esperar um ou dois meses e fazer uma redução mais significativa, o que teria mais impacto no lado real da economia [setor produtivo]."
Luciana Sá, economista da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), disse que o recuo do dólar e a maior confiança na política econômica permitem cortar a Selic ainda no primeiro semestre.


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